Bolsonaristas dominam Twitter e não querem saber de Threads
Foto: Cristiano Mariz/O Globo
Lançado pelo Instagram para fazer frente ao Twitter, o Threads enfrenta resistência de lideranças bolsonaristas.
Apesar de ter atraído mais de 100 milhões de usuários em menos de cinco dias, a nova plataforma da Meta ainda é vista com desconfiança por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que seguem apostando as fichas no Twitter como rede social preferencial na mobilização de seguidores na arena digital.
“Não pretendo entrar no Threads, porque é como se fosse um concorrente do Twitter. Só que tem o seguinte: no Twitter, com o Elon Musk, conseguimos liberdade de expressão”, disse à equipe da coluna a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), em referência ao relaxamento das regras de moderação de conteúdo por parte de Musk.
Quando o bilionário sul-africano Elon Musk comprou o Twitter por US$ 44 bilhões, em abril do ano passado, as redes bolsonaristas comemoraram a aquisição do fundador da montadora automobilística Tesla, conhecido por declarações controversas, publicar memes e defender opiniões fora do politicamente correto.
Sob a gestão de Musk, o Twitter dissolveu seu conselho de confiança e segurança, que reunia desde 2016 especialistas responsáveis por cuidar justamente de questões de moderação de conteúdo no combate a temas como assédio e exploração sexual de crianças.
O novo dono do Twitter também reativou contas que haviam sido banidas violação às regras, como a do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que havia sido suspensa após a trágica invasão ao Capitólio em 2021.
“Já tô sabendo que quando derrubam (a conta no Threads) lá, derrubam o Instagram da pessoa também Então eu optei por não entrar. O Instagram já cerceia demais os conservadores”, acrescentou Bia Kicis, em referência à vinculação da conta do Threads com a do Instagram.
Filho de Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) disse à reportagem que ainda está avaliando se embarca ou não na nova plataforma, mas levanta os mesmos pontos já trazidos pela colega Bia Kicis.
“Eu ainda estou pensando se vou entrar no Threads ou não. Fiquei pensativo, porque uma vez dentro, não tem como sair. Você só sai dele se você apagar o Instagram e o Threads”, afirmou.
“E além disso, o segundo argumento que me faz pensar duas vezes é porque ele foi criado para fazer uma concorrência com o Twitter porque o Twitter tá sendo gerido pelo Elon Musk. E tem muita rede social já, meia dúzia.”
Eduardo é exceção no clã Bolsonaro. O pai, Jair, garantiu seu perfil no Threads na semana passada e somava 907 mil seguidores até o fechamento dessa reportagem. Até o momento, o ex-presidente segue apenas um perfil: o filho Carlos, vereador do Rio pelo Republicanos, que gerencia suas redes sociais.
O ex-ocupante do Palácio do Planalto tem replicado conteúdo das outras plataformas no novo espaço. O filho mais velho, Flávio, senador pelo PL-RJ, também aderiu à rede social da Meta e estreou com a publicação de uma foto ao lado do pai com a legenda em um tom que sugere pouca preocupação com as políticas da empresa:
“Uhhhh papai chegou”, escreveu o parlamentar, acompanhado de um emoji de risadas.
Flávio Bolsonaro já tem 257 mil seguidores, enquanto Carlos acumula 106 mil. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que tem 6,3 milhões de seguidores no Instagram, ainda não migrou para o Threads.
Já Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado federal mais votado do Brasil, também aderiu ao Threads – mas não com a intenção de explorar a nova ferramenta.
O parlamentar, que tem 8 milhões de seguidores no Instagram e já soma 806 mil seguidores na nova plataforma, até agora fez uso do Threads para atacar a rede e defender o Twitter, atualmente comandado por Elon Musk, bilionário celebrado no bolsonarismo pela política leniente com discursos de ódio sob a bandeira da liberdade de expressão.
“Chegamos ao Twitter da Shopee”, publicou Nikolas. “Esse morro aqui é muito calmo. Prefiro a pancadaria do Twitter”, escreveu logo depois.
Nikolas já teve perfis derrubados nas redes da Meta, como o Facebook e o Instagram, por decisões judiciais após publicar mentiras sobre o sistema eleitoral brasileiro. No domingo, o deputado mineiro voltou a provocar a nova rede de Mark Zuckerberg.
“E… Ninguém mais usa esse trem aqui”, alfinetou.
Em abril, Nikolas chegou a mobilizar Musk no Twitter por um posicionamento do bilionário quanto ao PL das fake news, que tramita na Câmara. O CEO chegou a responder uma publicação do parlamentar, que pedia ajuda para que o Brasil “não se transformasse em uma China”, com uma exclamação.
Procurada pela equipe da coluna, a Meta informou que não se manifestaria.