Celular de Do Val mostra um fanfarrão em busca de fama

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Foto: Pedro França/Agência Senado

O senador Marcos do Val (Podemos-ES), que presta novo depoimento à Polícia Federal nesta quarta-feira, foi alvo de uma operação de busca e apreensão no mês passado. A perícia feita pela PF no celular do parlamentar identificou uma série de mensagens em que ele fala sobre a suposta trama golpista pela qual é investigado — e, de acordo com a corporação, as mensagens mostram que ele exagerava em diversos momentos.

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Em um destes blefes, na visão da PF, ele afirmou no WhatsApp que se reportava à “inteligência americana”. Em uma conversa com o ex-deputado Daniel Silveira, o parlamentar diz que informou a agentes estrangeiros sobre um suposto plano para gravar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Do Val é investigado pela atuação na suposta trama golpista. Para a PF, a interlocução com os Estados Unidos não era verdadeira.

Na conversa com Silveira, o senador diz que foi necessário fazer o relato à “inteligência americana” devido à “outra função” que exercia — do Val afirma com frequência que já foi instrutor da Swat, grupo de elite da polícia dos Estados Unidos. “É possível que do Val tenha dito tal afirmação apenas como um “blefe”, diz trecho do relatório da PF, ao qual O GLOBO teve acesso.

Mensagem de Marcos do Val — Foto: Reprodução

A troca de mensagens entre Do Val e Silveira ocorreu nos dias 13 e 14 de dezembro do ano passado. A conversa ocorreu dentro de um contexto em que, segundo Do Val afirmou em fevereiro à revista Veja, Silveira teria tentado convencê-lo a gravar Moraes, com o intuito de provocar um fato capaz de anular o resultado da eleição que deu a vitória a Lula. Segundo esta versão, o então presidente Jair Bolsonaro participou de uma dessas reuniões, no Palácio da Alvorada.

Do Val já deu informações contraditórias após o episódio vir à tona, passou a ser investigado e, no mês passado, foi alvo de uma operação da PF que cumpriu mandados de busca e apreensão. Ele pediu licença do mandato no Senado. Bolsonaro prestará depoimento hoje no inquérito que apura a suposta trama golpista.

A apresentação de versões conflitantes também foi verificada pela PF após a análise do teor das mensagens de WhatsApp.

“A atuação de caráter absolutamente ambíguo de Marcos do Val, que parecia valer-se de prints de conversas com as mais altas autoridades da República para, colocando-as umas contra as outras, angariar prestígio pessoal e político”, pontua o relatório.

Um novo contato entre os dois ocorreu apenas em fevereiro, quando Do Val informou Bolsonaro que havia sido procurado pela Veja para falar sobre a suposta trama golpista, conforme antecipou a colunista Bela Megale. O senador, então, envia prints de conversas com Silveira e Moraes. Em resposta, Bolsonaro envia um texto curto: “Coisa de maluco”.

Na manhã de 9 de dezembro, dia seguinte ao encontro entre Do Val e Bolsonaro, há uma troca de mensagens entre os dois. O senador responde um texto que trazia uma longa lista de políticos bolsonaristas que respondem a ações no TSE com uma longa mensagem: “Bom dia, presidente. Foi um grande prazer estar com você ontem. Dá pra ver no seu olhar um desejo impressionante de ajudar o Brasil. Independente de qualquer situação, estarei ombreado com você. Durante os quatro últimos anos, não fiquei mais próximo porque sei que isso sufoca e não queria trazer mais trabalho”. Bolsonaro foi lacônico na resposta: “Um abraço”.

Nas conversas, periciadas pela PF o parlamentar também narra a um grupo de amigas uma reunião entre ele, o ex-deputado federal Daniel Silveira e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o suposto objetivo de gravar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em um dos trechos do diálogo, Do Val escreve: “Estou com a bomba na mão para destruir Bolsonaro e outra para destruir Lula”.

Após analisar as mensagens, a PF concluiu que do Val tinha uma “atuação de caráter absolutamente ambíguo de Marcos do Val, que parecia valer-se de prints de conversas com as mais altas autoridades da República para, colocando-as umas contra as outras, angariar prestígio pessoal e político”.

As mensagens em que Do Val menciona Lula e Bolsonaro foram enviadas em um grupo de WhatsApp intitulado “Amigas para a eternidade”, conforme revelou a colunista Bela Megale. Nesse canal, ele compartilhou a reunião que teve com Daniel Silveira e o ex-presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada, onde, segundo o senador, teria sido traçado um plano para gravar Moraes.

Do Val também dividiu com o grupo reproduções de imagens de mensagens que enviou ao ministro do STF. Nesses prints, o senador supostamente informa o magistrado sobre uma “ação esdrúxula, imoral e até criminal” que lhe havia sido pedida durante o encontro com Bolsonaro e Silveira.

Preocupado, Do Val justifica: “Não poderia ficar calado. Poderia estar sendo preso agora por prevaricação”. O senador ainda explica: “Golpe de estado leva o país para miséria absoluta, países aliados se afastam e deixam de comprar no Brasil. Só no futuro vão entender que estava protegendo a democracia”.

Em depoimento à PF na semana passada, Bolsonaro negou qualquer plano de gravar Moraes e afirmou que não tinha vínculo com Do Val.

O Globo