Centrão pressiona Lula a ceder comando da Caixa
Foto: Jorge William / Agência O Globo
Em negociações paraceder mais espaços ao Centrão, o governo avalia trocar o comando da Caixa Econômica Federal, atendendo a um pleito do PP. Integrantes do Palácio do Planalto, do Ministério da Fazenda e parlamentares do PT apontam que a situação da presidente do banco, Rita Serrano, é delicada, o que deverá provocar a substituição. O ex-ministro Gilberto Occhi, aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é o favorito para o posto.
Integrantes da articulação política reconhecem a iminência da saída e que Occhi foi apresentado pelo Centrão, mas ponderam que o presidente Lula ainda não bateu o martelo sobre o nome. Occhi é um velho conhecido dos petistas: foi ministro das Cidades e da Integração Nacional no governo de Dilma Rousseff, por indicação do PP. Ele deixou a gestão quando o partido aderiu ao impeachment e, posteriormente, já na Presidência de Michel Temer, esteve à frente da própria Caixa e do Ministério da Saúde.
Funcionário de carreira aposentado da Caixa, Occhi se aproximou de Lira quando exerceu o cargo de superintendente do banco em Alagoas. Ele também trabalhou em outros estados do Nordeste e, segundo interlocutores, tem boa relação também com dois ministros do atual governo: Camilo Santana (Educação), ex-governador do Ceará, e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), ex-governador do Piauí.
A indicação do nome, ainda de acordo com interlocutores, foi fruto de um acordo entre Lira e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do PP e ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro. Procurados, Lira e Nogueira negam as articulações.
Uma ala do governo favorável à mudança avalia que entregar o comando de órgãos como a Caixa e a Fundação Nacional da Saúde (Funasa) é uma forma de aliviar a pressão por outros cargos, como o Ministério da Saúde — a pasta de Nísia Trindade também foi alvo de cobiça, mas Lula decidiu mantê-la. Ontem, a ministra do Esporte, Ana Moser, que tem o cargo desejado pelo Republicanos, afirmou após reunião com Lula que sua saída não foi discutida (leia mais detalhes abaixo).
Rita Serrano tem perfil técnico e também é funcionária de carreira da Caixa. Ligada ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, ela fazia parte do conselho de administração do banco, como representante dos empregados, no governo anterior.
Serrano chegou ao comando da instituição depois que Lula prometeu indicar mulheres para a presidência dos bancos públicos. Inicialmente, o presidente preferia Maria Fernanda Coelho, ex-presidente da Caixa, mas ela optou por assumir um cargo na Secretaria-Geral da Presidência.
Com isso, o nome de Rita ganhou força. Ela foi indicada junto com Tarciana Medeiros, que assumiu a presidência do Banco do Brasil.
Recentemente, Rita se desgastou ao anunciar a cobrança por transações do Pix para empresas. Embora a taxa seja cobrada por outros bancos, a medida desagradou a Lula, que mandou o banco voltar atrás.
A presidente da Caixa também foi criticada por petistas ao manter na cúpula do banco executivos indicados na gestão de Bolsonaro. Outro fato que também gerou descontentamento foi a ordem de devolução de valores pagos a título de participação nos lucros por executivos que receberam a gratificação no ano passado. Segundo os críticos, falta habilidade política a Rita.
Na segunda-feira, ela esteve com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo interlocutores, ela afirmou que está trabalhando normalmente e que não conversou sobre o assunto com Haddad. A Caixa não se manifestou.