Críticas a Pochmann no IBGE são ideológicas

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Foto: Reprodução/Gleisi Hoffmann/Twitter

A resistência a uma nomeação determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) uniu a oposição ao governo e parte dos que votaram no petista sem convicção ideológica, mas para impedir a reeleição de Jair Bolsonaro (PL). Na opinião de liberais e de um pedaço da frente ampla lulista, o economista Marcio Pochmann, indicado para presidir o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de esquerda demais e representaria um retorno de Lula a erros do passado.

Apesar do ruído que o nome de Pochmann, professor de economia na Unicamp, está causando no debate público, o governo mantém um discurso coeso em sua defesa. Mesmo a ministra do Planejamento, Simone Tebet, que é o rosto mais representativo da frente ampla no núcleo do governo, defendeu publicamente a legitimidade da escolha de Lula, apesar de relatos de discordância nos bastidores.

“Quero antecipar que não faço pré-julgamentos. Porque já fui muito pré-julgada na minha vida profissional e política. Vou ouvi-lo primeiro. Eu não quero saber do passado, quero saber do presente. A conversa será técnica, e ele será tratado como técnico e será muito bem-vindo à nossa equipe. E continuará no IBGE, enquanto estiver atendendo aos interesses da sociedade brasileira”, disse Tebet a jornalistas na quinta (27/7), dia seguinte ao anúncio do nome de Pochmann pelo ministro Paulo Pimenta, da Secom.

Antes, o ministro Fernando Haddad, da Economia, disse, em entrevista ao Metrópoles, que Tebet “não vai ter a menor dificuldade de trabalhar [com Pochmann]. Pessoa disciplinada, leal ao presidente”. E o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), cuja histórica política foi construída no PSDB, engrossou o coro e disse que não vê problemas em Pochmann no IBGE. “Não, de jeito nenhum. Economista, economista importante, tem história. Não vejo problema nenhum. Não é da minha área, enfim. Eu conheço, e não vejo nenhum problema”, afirmou, na quinta.

Pochmann é um quadro importante do PT e presidiu recentemente a Fundação Perseu Abramo, braço acadêmico do partido. Formou-se, em 1984, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e tornou-se professor da Unicamp em 1989. O departamento de economia da universidade paulista é conhecido por ter uma linha de pesquisa heterodoxa, que é uma escola de pensamento “rival” do liberalismo, preferido, por exemplo, por economistas e políticos ligados aos governos do tucano Fernando Henrique Cardoso.

Entre 2007 e 2012, do segundo mandato de Lula até o início do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), Pochmann presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). É por seu trabalho nesse período, apontado como ideológico demais e com relatos de conflitos com funcionários críticos, que o economista da Unicamp não é benquisto pelos liberais.

Diretora do BNDES no governo FHC e coordenadora do programa econômico da candidatura de Simone Tebet à Presidência em 2022, a economista Elena Landau classificou a escolha de Pochmann para presidir o IBGE como “um dia de luto para a estatística brasileira”. Já o ex-presidente do próprio IBGE Edmar Bacha se disse “ofendido” com a escolha.

João Amoêdo, que fundou o Partido Novo, mas se afastou da agremiação e defendeu o voto em Lula nas últimas eleições, avaliou que o presidente petista “se recusa a aprender com os próprios erros”.

“Além das ideias retrógradas, Pochmann fez uma desastrosa gestão no Ipea, onde demitiu e censurou quadros técnicos e qualificados, colocando ideologias à frente de fatos, dados e evidências. Mais uma vez a ciência é deixada de lado em favor de amizades e ideologias. Fica comprometida a gestão de um dos principais órgãos técnicos do país”, disse ainda Amoêdo.

Políticos e militantes de esquerda, alguns dos quais acham Haddad amigo demais dos liberais, entraram no debate para defender Pochmann, em quem veem a possibilidade de o governo Lula não abdicar totalmente de ideais progressistas em nome de uma convivência mais pacífica com a frente ampla.

“O ataque orquestrado dos liberais contra Pochmann é prova de quão antidemocráticos são, e como usam do controle de meios de comunicação para impor à maioria eleitoral sua agenda derrotada nas urnas. São por natureza lavajatistas: assassinos de reputações por interesse ideológico”, escreveu no Twitter o sociólogo Samuel Braun, que vê no episódio “a repetida estratégia de disfarçar a ideologia liberal como técnica pura e chamar tudo à esquerda de ideologia”.

A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional do partido, disse, antes da confirmação, que a chegada de Pochmann ao governo seria muito bem-vinda. “Intelectual histórico, Pochmann tem um olhar aguçado para as pesquisas na área social, é um democrata que pensa um Brasil mais justo. Em tempos de profunda desigualdade, é a escolha ideal para o cargo”, defendeu a petista.

Anunciado pelo governo e confirmado por Tebet, o nome de Marcio Pochmann ainda não foi oficializado como novo presidente do IBGE. Para isso, o governo precisa fazer uma publicação no Diário Oficial da União, o que ainda não tem data. Segundo a própria Simone, reuniões deverão acontecer na semana que vem para tratar do tema.

Enquanto isso, segue no cargo o presidente nomeado interinamente em janeiro deste ano, Cimar Azeredo, que é servidor de carreira do IBGE e foi muito elogiado por Tebet. “Um presidente técnico e que cumpriu uma missão exemplar, sem nenhum ruído, conseguindo fazer de um limão uma grande limonada ao trazer e apresentar ao Brasil o Censo de 2022, que agora é de 2023.”

O Metrópoles procurou o economista Marcio Pochmann para entrevistá-lo, mas ele ainda não respondeu. O espaço segue aberto.

Metrópoles