Deputado racista apaga 200 vídeos após TSE condenar Bolsonaro
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Em meio ao julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que tornou Jair Bolsonaro (PL) inelegível, o perfil do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) e outros canais da militância bolsonarista no YouTube retiraram do ar, por conta própria, centenas de vídeos. O movimento foi detectado pela empresa de análise de dados Novelo Data, que faz acompanhamento sistemático de contas de extrema-direita na plataforma. Gayer é alvo de apuração no TSE por ataques às urnas eletrônicas, apresentada pela coligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito passado e que pode torná-lo inelegível, como no caso de Bolsonaro.
Somente na sexta-feira da semana passada, quando foi concluído o julgamento por ataques ao sistema eleitoral, foram removidos 357 vídeos de canais de aliados do ex-presidente no YouTube. Quase metade desse total foi de conteúdo de Gayer. Se considerados o dia da decisão e a véspera, 29 de junho, o parlamentar escondeu pouco mais de 200 vídeos. Procurado pelo GLOBO para comentar as mudanças em seu perfil no YouTube, Gayer não quis se manifestar.
A medida foi tomada pelos próprios canais e não foi motivada por ação do YouTube, de acordo com a Novelo Data. Nem todos os vídeos removidos por Gayer e pelas demais contas bolsonaristas são sobre o julgamento, mas há conteúdos recentes, postados ao longo da semana passada, que citam o processo analisado pelo TSE ou fazem referências a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como Alexandre de Moraes. Um dos vídeos do deputado federal, agora fora do ar, chama já no título a decisão da Corte Eleitoral pela inelegibilidade de Bolsonaro de “absurda”. O deputado também removeu um vídeo, publicado na sexta-feira, em que rebate recentes acusações de racismo contra ele.
Além do revés sofrido por Bolsonaro na semana passada, o deputado da tropa de choque do ex-presidente sofre pressão após associar, em entrevista, o fato de democracias “não prosperarem” na África à população não ter o “mínimo de capacidade cognitiva” . A declaração motivou reações em diferentes frentes sob acusação de racismo. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, enviou pedido de providências a uma série de órgãos, enquanto o advogado-geral da União, Jorge Messias, determinou à Procuradoria-Geral da União o estudo de medidas jurídicas cabíveis. Parlamentares também protocolaram pedidos de cassação de Gayer na Câmara.
Com a “limpeza” no canal, conteúdos políticos perderam espaço entre os vídeos recentes da conta do deputado, que é cotado para disputar a Prefeitura de Goiânia no pleito municipal do ano que vem. Boa parte dos vídeos em destaque agora mostram interações do deputado com sua família.
A estratégia de esconder conteúdos, incluindo aqueles com ataques a tribunais e magistrados, também foi observada na base bolsonarista em outros momentos emblemáticos recentes. Após as eleições do ano passado, em que foi eleito deputado federal, Gayer já havia excluído 1,6 mil vídeos. Desse total, 159 citavam já no título o TSE.
Gayer chegou a ter seu canal desmonetizado durante o segundo turno das eleições por decisão do tribunal eleitoral. Na pandemia, a conta do agora deputado apareceu como a segunda que mais lucrou no YouTube com desinformação sobre a Covid-19 em um relatório do Google enviado à CPI da Covid, no Senado.
Canais bolsonaristas também removeram seus próprios conteúdos após a prisão do ex-deputado Daniel Silveira por ameaças a ministros do STF e em meio a operações da Polícia Federal em casos ligados ao inquérito dos atos antidemocráticos em curso no tribunal.
No dia do julgamento de Bolsonaro no TSE, outro canal que aparece entre os que mais removeram vídeos é o Notícias News N.N, perfil que soma mais 483 mil inscritos e é alinhado ao ex-presidente. A conta retirou do ar 89 conteúdos. Em boa parte deles, cita o Supremo em publicações feitas nos meses entre as eleições do ano passado e os ataques golpistas de 8 de janeiro. Os títulos dos vídeos não trazem, porém, ataques explícitos à Corte e não foi possível recuperar o teor das postagens.
Já o canal Novo Brasil, com 55 vídeos retirados do ar, chega a afirmar no título de um deles, publicado no dia do julgamento no TSE, que um ministro da Corte “surpreende e derruba a inelegibilidade de Bolsonaro”. Em outro vídeo, de março deste ano, a chamada é: “Ministro do STF rasga todas provas e joga no lixo!! Decisão tomada”. Não foi possível recuperar os conteúdos para saber a que magistrado se referem. Um terceiro vídeo removido é intitulado como “formação no TSE abala o Brasil!! Bolsonaro em perigo!!”.