Ex-governadores bolsonaristas se aproximam de Lula
Foto: Divulgação/Rodrigo Felix Leal/AEN
Apesar de terem apoiado a campanha de reeleição de Jair Bolsonaro no ano passado, os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), se distanciaram da figura do ex-titular do Palácio do Planalto e têm investido em um bom relacionamento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De olho nas disputas eleitorais de 2024 e 2026, os dois apostam em um diálogo positivo com o governo federal a fim de conquistarem mais recursos para seus estados e cacifarem seus aliados nos próximos pleitos.
Uma das principais lideranças ruralistas, Caiado teceu elogios na última quinta-feira às políticas públicas da gestão Lula para o agronegócio, setor majoritariamente alinhado ao bolsonarismo. O discurso favorável ocorreu após o anúncio do Plano Safra, que vai destinar R$ 364,22 bilhões para agricultura e pecuária.
— Realmente, temos que reconhecer que é o maior plano agrícola que nós já tivemos durante todo esse tempo — disse ele, em conversa com jornalistas durante o 22º Fórum Empresarial Lide, no Rio.
Ratinho Júnior também tem adotado uma postura de diálogo. Em seis meses, esteve com parlamentares das mais diversas correntes ideológicas e encontrou com Lula e seus ministros em mais de 15 ocasiões.
A aproximação com o governo federal incomodou o diretório do PT no estado. No mês passado, o presidente assinou um acordo referente ao pedágio e à cessão de 1.100 km de rodovias paranaenses, questão que estava sem resolução desde o fim do ano passado.
A iniciativa definiu que a empresa privada com oferta de pedágio mais barato ganharia a licitação. Sob a justificativa de que Lula herdaria a má fama dos valores altos enquanto o governador, a realização de obras, o deputado estadual Requião Filho (PT) acionou a Justiça. No evento de lançamento, no entanto, Lula parabenizou Ratinho pelo feito.
Caiado confirma que a relação com Lula tem sido “respeitosa e republicana”, mas ressalta que a boa convivência “não significa adesão”. Desde o começo do governo, ele já foi recebido pelo petista no Palácio do Planalto duas vezes e pretende recepcionar o presidente em seu estado em 28 julho, quando está prevista uma reunião com 200 empresários do agronegócio.
— Já temos uma história de 35 anos de posições políticas em polos opostos e continuaremos assim, o que não interfere na parte administrativa — afirmou o governador de Goiás.
O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) é apontado como o responsável pela aproximação dos dois.
— Quando vi que o governador queria uma conversa pacífica com o presidente, trabalhei por essa aproximação. Trouxe o governador para ser recebido nos principais ministérios e apresentar as prioridades do estado. Podem haver discordâncias políticas, mas a relação será democrática e eu continuarei como intermediário com o maior prazer — disse Kajuru.
A postura tanto de Caiado quanto de Ratinho Júnior difere da de outros políticos alinhados a Bolsonaro. Em Santa Catarina, por exemplo, o governador Jorginho Mello (PL) permanece fiel às pautas da extrema-direita e se mantém fechado ao governo federal.
Um dos ingredientes para o reposicionamento de Caiado é a eleição municipal do ano que vem. Em relação à Goiânia, o deputado federal José Nelto (PP-GO) avalia que a aproximação do governador com Lula pode frear a candidatura do deputado federal bolsonarista Gustavo Gayer (PL).
— Caso o Gayer seja candidato, não tenho dúvidas que Lula e Caiado estariam no mesmo lado em um eventual segundo turno contra ele — avalia Nelto.
Apontada como um dos nomes que teriam o apoio de Caiado para a disputa, a deputada federal Silvye Alves (União-GO), a mais votada na última eleição, considera prematuro imaginar um palanque com o presidente e o governador.
— Não enxergo um cenário com o apoio de Lula, que, se eu pudesse escolher, preferiria não ter. Acho que o Gustavo Gayer vai ter o mandato de deputado cassado e não terá como se candidatar a prefeito — prevê a parlamentar.
Gayer é investigado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) junto a Bolsonaro e outros apoiadores do ex-presidente por ter colocado em xeque o resultado das eleições do ano passado. Procurado pelo GLOBO, ele não se manifestou.