
Faz-tudo de Bolsonaro depõe hoje na CPMI
Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), estará hoje na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro para prestar depoimento. Agendada para as 9h, a oitiva de Cid — preso há mais de 2 meses por fraude em cartões de vacinação — será o grande momento da comissão até agora. Mauro Cesar Barbosa Cid, 44, nasceu em Niterói (RJ), e seu pai conheceu Bolsonaro. Nos anos 1970, o hoje general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid foi colega de Bolsonaro na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras).
Cid se alistou no Exército em 1996 e se formou na Aman quatro anos depois. Ao longo da carreira, ele fez mestrado e doutorado em temas militares, com foco na atuação das Forças Armadas brasileiras no exterior. Bolsonaro nomeou Cid como ajudante de ordens em dezembro de 2018, antes mesmo de assumir o Planalto. Em quatro anos, Cid fez 144 viagens a serviço da Presidência, segundo o Portal da Transparência do governo federal. Após o fim do governo Bolsonaro, Cid foi impedido de assumir o comando de um batalhão em Goiânia. O atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, suspendeu a nomeação devido aos problemas de Cid na Justiça — isso aconteceu em janeiro deste ano. O próprio tenente-coronel entregou um requerimento ao general Paiva pelo adiamento de sua nomeação para comandar o 1º Batalhão de Ações e Comandos de Goiânia). Cid tem um salário bruto de R$ 26,2 mil. Apesar do revés, ele continua sendo um militar da ativa, e a patente atual de tenente-coronel lhe dá direito a essa remuneração. Pivô de atrito entre Lula e o Exército. Nos bastidores, Cid foi considerado o estopim para a demissão do general Júlio Cesar de Arruda do comando do Exército no primeiro mês do governo petista. Fontes militares do governo afirmam que o presidente ficou incomodado com a situação de Cid que assumiria o 1º Batalhão de Ações de Comandos, em Goiânia.
Cid foi preso no dia 3 de maio por suspeita de fraude em cartões de vacinação contra a covid-19. A Polícia Federal aponta que ele adulterou os registros de imunização da própria família e de Bolsonaro para viajar aos Estados Unidos.
O militar também é investigado por pagar despesas da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro em dinheiro vivo. Quando a informação veio à tona, em setembro do ano passado, Bolsonaro culpou o ministro do STF Alexandre de Moraes pelo vazamento. Outra investigação contra Cid trata das joias dadas pelo governo da Arábia Saudita. Em março desse ano, foi revelado que Cid chegou a ir até o aeroporto de Guarulhos (SP) para tentar liberar os itens junto à Receita Federal.
Ele é um excelente oficial do Exército brasileiro. Jovem ainda, forças especiais, comandos, paraquedistas, primeiro lugar de quase todo curso que fez, tem dado o melhor de si. Peço a Deus que não tenha errado. E cada um siga a sua vida.Jair Bolsonaro (PL), em maio
Cid pode permanecer em silêncio em questões nas quais é investigado. O STF concedeu a ele esse direito. Continua após a publicidade Newsletter PRA COMEÇAR O DIA Comece o dia bem informado sobre os fatos mais importantes do momento. Edição diária de segunda a sexta. Quero receber A defesa do militar teria afirmado à cúpula da CPMI que ele gostaria de “colaborar” com o colegiado. Portanto, Cid pode responder a parte dos questionamentos. A PF descobriu mensagens e documentos que ligam o militar aos atos de 8 de janeiro. Este material coletado após a apreensão do celular de Cid, em maio, deverá ser um dos focos do depoimento à CPMI. No aparelho de Cid havia uma minuta para um hipotético golpe de Estado. O texto previa a declaração de um estado de sítio no Brasil, “dentro das quatro linhas da Constituição”. Cid também trocou mensagens e áudios de teor golpista com outros militares. Um deles, Ailton Barros, sugeriu a Cid que Bolsonaro deveria mandar prender Alexandre de Moraes e decretar uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).