Gleisi é forte defensora de Reforma Ministerial

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Foto: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Mesmo diante da possibilidade de o PT ceder espaço na Esplanada para entrada de partidos do chamado Centrão no governo, a presidente nacional da legenda, Gleisi Hoffmann, defende a reforma ministerial como único caminho para consolidação de uma base segura no Congresso. “É simples, é matemático”, disse em entrevista ao Valor. Lula descarta abrir espaço na Casa Civil para PP e Republicanos De olho em reforma ministerial, PSD mira segundo e terceiro escalão Novo ministro do Turismo de Lula, Celso Sabino atuará para melhorar articulação política De forma pragmática, a dirigente petista ressalta que a falta de unidade no PP e no Republicanos, que apresentam divergências internas sobre o comprometimento absoluto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas votações, não é um problema do governo.

“Se o partido está se dispondo a entrar, ele tem que fazer entrega. O governo está aberto a isso. Então, tem relação com entrega de votos em matérias que são importantes, que são essenciais para o país”, afirmou. Os deputados André Fufuca (PP-MA) e Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE), que foram recebidos na terça-feira, no Palácio do Planalto, pelo ministro da Relações Institucionais, Alexandre Padilha, já são considerados ministros nos bastidores. Ainda não há definição sobre as pastas que vão comandar. “Tem muito balão de ensaio”, avalia Gleisi. A petista ressaltou não ter informações sobre as posições que cada um deve ocupar, mas destacou que experiência política de Lula vai pesar na hora da escolha. A dirigente, mesmo acreditando que a questão de gênero deve ser preservada, posicionou-se contra movimentos pela permanência de qualquer subordinado. “Acho que a questão de mexer em ministério não dá direito a fazer movimentos de permanência ou de protesto. Isso é importante dizer porque, no final, quem responde perante o povo, perante a história, é o presidente”, justificou. Se o partido está se dispondo a entrar, ele tem que fazer entrega […] de votos” Recentemente, movimentos que contaram com apoio expressivo de aliados do governo mais posicionados à esquerda e da sociedade civil foram feitos pela permanência da ministra da Saúde, Nísia Trindade, e do Esporte, Ana Moser. Para Gleisi, é preciso equilibrar a matemática com a simbologia que as mudanças nos ministérios significam. “A política tem essas duas coisas: a matemática do apoio e a simbologia do que representa a colocação de alguém em algum posto.” O Planalto espera que a entrada do PP e do Republicanos amplie significativamente a margem do governo em votações importantes no segundo semestre, como a segunda fase da reforma tributária, a transição energética e a conclusão da votação do arcabouço fiscal. A meta governista é, após a reforma ministerial, angariar 50 votos do União Brasil, 30 do PP, 30 do PL e 30 do Republicanos – 140 votos ao todo. Somados aos votos da federação PT, PCdoB, PV (81), além de aliados do PSD (43), MDB (43), Avante (7), Podemos (12) e SD (4), somaria mais de 330 deputados. Desta maneira, haveria apoio suficiente para aprovação de emendas constitucionais. A petista ressaltou que não tem como o governo ficar negociando a cada matéria pautada no Congresso. O Executivo tem batido recordes de liberação de emendas nas vésperas de votações importantes. “Não é sobre ter base sempre para aprovar proposta de emenda à Constituição (PEC), mas para aprovar matérias corriqueiras no Congresso”, avalia. Sobre críticas de parlamentares aos ministros Alexandre Padilha e Rui Costa (Casa Civil), a dirigente ressalta que não é tarefa simples fazer articulação política com um Congresso conservador. “Gostemos ou não, não fizemos a metade mais um dos membros do Congresso. Então precisamos ter, minimamente, uma base equilibrada”, defende. O governo fez tudo que poderia fazer. E a política monetária não funciona” No campo econômico, a presidente do PT disse que divergências pontuais da legenda sobre projetos apresentados são naturais. No início do governo, o PT criticou a política de reoneração dos combustíveis proposta pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Alegando que a questão estava superada, Gleisi brincou dizendo que nunca esteve fora de sintonia com Haddad. “Fizemos uma conversa sobre o arcabouço fiscal, sobre política fiscal, mas acho que isso é normal. Dentro do PT, a gente sempre discutiu.” Em seguida, a petista fez uma série de elogios à condução da economia e criticou mais uma vez postura do Banco Central de resistir a baixar a taxa básica de juros que, atualmente, é de 13,75%. “Eu acho que o Banco Central e o próprio mercado não responderam a esse esforço [feito por Haddad]. São devedores do ministro, são devedores do governo. Agora, precisam ajudar a ter uma saída para puxar o desenvolvimento da economia.” No entendimento da petista, Lula deve continuar verbalizando o descontentamento com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A avaliação é de que as declarações do presidente colocam uma responsabilidade no Banco Central sobre o crescimento do país. “O governo fez tudo que poderia fazer. Criou um arcabouço, botou força na reforma tributária, fez medidas importantes mostrando responsabilidade fiscal”, reclama. “E a política monetária não funciona. Não é um problema do governo”, complementa. Recentemente, o governo propôs mudanças no sistema de metas de inflação e indicou dois novos diretores para o Banco Central, que votarão na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A expectativa do mercado, no entanto, já era de um início no processo de corte da Selic em agosto, uma vez que os dados mais recentes mostram um processo de desaceleração da inflação no país.

Na seara eleitoral, a dirigente afirmou que o partido vai cumprir o acordo que fez com o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) e apoiá-lo na disputa pela Prefeitura de São Paulo no próximo ano. Em 2022, Boulos retirou a candidatura ao governo de São Paulo para apoiar Fernando Haddad, que acabou sendo derrotado por Tarcísio de Freitas (Republicanos). O deputado Jilmar Tatto (PT-SP) demonstrou publicamente o descontentamento com a estratégia do PT. A avaliação do parlamentar é de que a candidatura vai estreitar o leque de alianças. “Qualquer movimento contra isso [candidatura de Boulos] é botar água no moinho do prefeito [Ricardo Nunes] e ajudar o bolsonarismo em São Paulo”, respondeu Gleisi. Ela diz que, quando o PT foi buscar o apoio do Psol, os descontentes de hoje não tinham essa visão da sigla. “Foi feito um acordo público e ninguém questionou na época. A gente não brinca com palavras.” A dirigente lembra que Lula venceu a eleição na capital e diz que a aliança com Boulos é importante para barrar o bolsonarismo em São Paulo. “E é o melhor candidato. Se não for Boulos, vai ser quem?”, questiona. Ela ressaltou que o PT deve indicar a vice e buscar alianças com partidos de centro-esquerda.

Valor Econômico