Governo Lula terá mais ministros do Nordeste

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Foto: Reprodução

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou ontem que abrirá espaço ao PP e ao Republicanos em seu governo, o que pode fazer com que o número de representantes do Nordeste na Esplanada iguale ou supere os do Sudeste. Os favoritos desses partidos do Centrão para ingressar no primeiro escalão são os deputados André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). A proporção de ministros nordestinos hoje já é a maior desde a redemocratização. Reduto petista, a região foi a única em que Lula venceu Jair Bolsonaro em todos os estados no ano passado.

Atualmente, 13 dos 37 ministros têm como reduto político o Nordeste, ou seja, 35%. A região só perde em representação na Esplanada para o Sudeste, com 15 titulares. Caso Fufuca e Costa Filho sejam confirmados em vagas de ministros de outra região, a proporção do Nordeste no primeiro escalão será de 41% e pode igualar ou superar o número de pastas dirigidas por políticos do Sudeste.

Nos desenhos estudados para a minirreforma ministerial, o único nome do Nordeste que está na mira é o da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos. O mais provável, no entanto, é que ela seja remanejada para outra pasta, já que o governo tem sido pressionado a não diminuir a representação feminina no primeiro escalão. Já o titular do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, do Piauí, responsável pelo Bolsa Família, estava na mira do Centrão, mas foi blindado por Lula.

O sociólogo e cientista político do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) Antônio Lavareda pontua que a representação do Nordeste na composição ministerial de Lula é influenciada pela força do PT na região, mas também pela busca do Centrão por quadros mais alinhados ao governo:

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— Na hora de indicar nomes a ministérios, o Centrão precisa de políticos que se aproximem ou tenham apoiado Lula na última eleição e acabam optando por nomes da “esquerda do Centrão”. São naturalmente parlamentares da região Nordeste, onde Lula tem mais força eleitoral atualmente.

A única vez desde a redemocratização que políticos do Nordeste foram maioria na Esplanada ocorreu em 2016, na posse de Michel Temer. Dos 24 nomes do primeiro escalão, oito eram da região (33%), enquanto sete eram do Sudeste e cinco do Sul. Já o pior índice de representatividade dessa região foi no governo Bolsonaro, que tomou posse sem nenhum ministro do Nordeste.

Para o professor da FGV Sérgio Praça, a grande quantidade de políticos nordestinos também é fruto de um trabalho da legenda na região, que começou ainda nos primeiros dois governos de Lula.

— O PT fez um trabalho na região desde que Lula se tornou presidente ganhando eleitores e conseguindo eleger governadores. São essas lideranças políticas que estão ganhando força na legenda. No passado era uma legenda tradicionalmente paulista.

Na distribuição de cargos do terceiro governo Lula, políticos do Sudeste, que em mandatos anteriores dominavam as indicações, perderam espaço. Nas duas primeiras gestões do petista ele chegou a receber críticas pelo peso de São Paulo em seu ministérios, apelidado de “paulistério”.

Em meio às negociações para tentar garantir a governabilidade, Lula afirmou ontem que quer conversar com partidos como PP, Republicanos e União Brasil para dar “tranquilidade ao governo nas votações” no Congresso, onde ainda não conseguiu formar uma base sólida. Durante sua live semanal, o petista disse que dialoga com os partidos individualmente e não com “o Centrão enquanto organização”. Para o presidente, é “normal” que as legendas pleiteiem participar da atual gestão.

— Eu não quero conversar com o Centrão enquanto organização. Eu quero conversar com o PP, Republicanos, PSD e União Brasil. É assim que a gente conversa. E é normal que, se esses partidos quiserem apoiar a gente, eles queiram participar do governo. E você tenta arrumar um lugar para colocá-los, para dar tranquilidade ao governo nas votações que precisamos para aprimorar o funcionamento do Brasil. É exatamente isso que vai acontecer — disse Lula.

Partidos do Centrão, PP e Republicanos negociam as pastas que ocuparão, mas ainda não há consenso com o governo. Em sua live, o presidente voltou a rebater a pressão do Centrão para ocupar alguns espaços e afirmou, mais uma vez, que quem oferece o ministério é o presidente da República. O chefe do Executivo afirmou também que ainda não conversou sobre possíveis trocas ministeriais, mas que o assunto deve ser discutido nos próximos dias.

Lula vem sinalizando a auxiliares que não tem pressa para concretizar as mudanças no governo. Ontem, ele e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, conversaram para tratar de opções de troca na Esplanada. O ministro apresentou uma série de cenários. Lula é quem baterá o martelo. O presidente começará a receber os partidos nos próximos dias. O primeiro deve ser o Republicanos, com o líder da legenda na Câmara, Hugo Motta (PB), e o presidente da sigla, deputado federal Marcos Pereira (SP).

Na sequência, fará o mesmo com o PP. Durante a votação da Reforma Tributária, Lula já havia sinalizado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que os novos partidos eram bem-vindos no governo e que aceitava conversar com as legendas. Ponderou, porém, que as mudanças não poderiam ocorrer em meio à votação da reforma. Aliados afirmam que o petista fará questão de demonstrar que está no controle das mudanças e que os anúncios ocorrerão de acordo com o seu próprio calendário.

O Globo