Governo monta força-tarefa para saciar Centrão

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Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Mesmo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Bélgica e com a posse recente de Celso Sabino (PA), do União Brasil, no Ministério do Turismo, o Palácio do Planalto tem feito, ao longo da semana, uma força-tarefa para articular as trocas na Esplanada dos Ministérios e alocar mais aliados do Centrão no primeiro escalão do governo.

Desde segunda-feira, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável pela articulação política com o Congresso Nacional, tem se encontrado com nomes do PP e do Republicanos para receber demandas e fazer um panorama sobre as próximas trocas.

A ideia é que as informações apresentadas por parlamentares a Padilha sejam entregues a Lula tão logo o presidente retorne ao Brasil, nesta semana, quando o presidente também deve marcar um encontro com Arthur Lira (PP-AL) para avançar nas negociações com o Centrão.

A expectativa é que as trocas ministeriais sejam realizadas até a primeira quinzena de agosto, o que já daria um fôlego para o governo conseguir aprovar as pautas consideradas importantes no Parlamento para o segundo semestre.

Na segunda-feira (17/7), o ministro Padilha recebeu o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), que, recentemente, disse que a indicação de integrantes do partido para compor a Esplanada “melhoraria o humor da bancada”.

Motta citou o nome de Silvio Costa Filho (PE), também do Republicanos, que é um dos cotados do Centrão para assumir um posto no primeiro escalão de Lula.

“O nome dele surge como uma possibilidade de o governo avançar dentro de um diálogo melhor com a nossa bancada, porque é natural que, se tivermos um deputado do partido participando da Esplanada, mesmo que isso não mude a posição do partido, com certeza melhora a condição de diálogo e o humor da bancada para podermos avançar nas pautas que já estamos ajudando, para podermos seguir com esse diálogo mais franco e, digamos, com maior proximidade”, afirmou Motta em entrevista à GloboNews.

Além de Silvio, outro nome bastante cotado para assumir um posto no governo é o do líder do PP na Câmara dos Deputados, André Fufuca (MA). Os dois foram recebidos, nessa terça-feira (18/7), por Padilha, no gabinete do ministro, no Palácio do Planalto.

O titular da SRI também mencionou há algumas semanas, durante fala no Palácio da Alvorada, que, além de Republicanos e PP, integrantes do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, Partido Liberal, também havia mantido diálogos com o governo e tinham chance de integrar a base.

“Não tem definição por parte do governo em relação a isso [ministérios]. Nós nos concentramos em um esforço para concluir o desfecho da reorganização de ministérios de partidos que já compõem o governo e queriam fazer reformulação de indicados”, disse Padilha na ocasião.

“Nesses três partidos, você tem vários parlamentares que já participaram da campanha do presidente Lula em primeiro turno, e que, de alguma forma, já dialogam nos seus estados com orientações para o governo. Vários desses parlamentares que se aproximaram ainda mais do governo depois dos atos golpistas”, completou o ministro.

Apesar de ainda esperar uma definição de Lula sobre o assunto, o Palácio do Planalto já dá como certa a entrada de André Fufuca e Silvio Costa Filho no governo. O destino dos dois, porém, ainda não foi definido.

O PP, por um lado, quer o comando de pautas consideradas estratégicas, como é o caso do Ministério da Saúde e do Ministério do Desenvolvimento Social, que recebem grande parte das emendas parlamentares.

O presidente Lula, porém, já anunciou publicamente que as duas pastas são suas e que uma troca no comando desses ministérios não deve ocorrer.

Já o Republicanos tem demonstrado interesse em assumir a chefia do Ministério do Esporte ou do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Questionado sobre quais ministérios Silvio e Fufuca poderiam assumir, uma vez que o presidente já rechaçou trocas na Saúde e no Desenvolvimento Social, o líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), ressaltou que a Esplanada tem 37 ministérios.

“Em política, tudo tem solução. Evidentemente que o xadrez é difícil, mas não é impossível”, disse. “Essas forças políticas virão para o governo a qualquer momento”, afirmou Guimarães, referindo-se ao PP, ao Republicanos e a outros integrantes do Centrão.

Mesmo com as negociações em andamento, integrantes do PP e do Republicanos insistem no discurso de que manterão uma postura de independência no Congresso, ainda que os dois partidos sejam agraciados com cargos na Esplanada.

Segundo interlocutores, a ideia desenhada até o momento é que, com a ida das duas siglas para o governo, os parlamentares se alinhem ao Planalto em projetos econômicos e de infraestrutura, por exemplo, sem adentrar em pautas ideológicas e bandeiras de esquerda. A estratégia, de acordo com dirigentes dos partidos, é evitar constrangimentos a governadores e parlamentares mais conservadores.

Com o avanço das negociações, partidos como PSB, MDB e o próprio PT, que hoje integram o governo, têm demonstrado insatisfação com a possibilidade de perderem espaço na Esplanada dos Ministérios.

O Republicanos, por exemplo, já demonstrou interesse em tomar para si o comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, atualmente chefiado pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), que acumula as duas funções.

O vice já revelou a aliados que não pretende deixar o posto de ministro. Foi o partido de Alckmin, o PSB, que viabilizou a chapa de Lula nas eleições do ano passado, ao indicar o ex-governador para concorrer como vice-presidente ao lado do petista.

Nesta semana, quando questionado se o PSB pode perder espaço, Alckmin desconversou, mas ressaltou a importância de o Planalto ter governabilidade.

“Cargo de confiança é do presidente da República. Só ele fala sobre isso. Não [acho que o PSB possa perder espaço], eu acho que isso é uma decisão do presidente”, disse. “Eu sou da tese de que é importante a governabilidade. Ter mais apoio é sempre bom.”

Além das mudanças no comando de ministérios, as trocas também devem afetar a Caixa Econômica Federal e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). O banco público, pelas contas do Centrão, rifaria Rita Serrano para abrigar o ex-ministro Gilberto Occhi, indicado pelo PP.

Já a recém-recriada Funasa, que conta com um orçamento bilionário, é disputada por PP e União Brasil. O Planalto, porém, insiste que o comando do órgão será entregue a um nome técnico e de carreira.

Ainda no âmbito da Funasa, o Centrão quer que o órgão permaneça sob o guarda-chuva do Ministério da Saúde, como já é atualmente, o que garantiria um orçamento, com base na apresentação de verbas de emendas parlamentares. O governo, porém, defende que a fundação fique na estrutura do Ministério das Cidades, comandado por Jader Filho, do MDB.

Outro pedido do Centrão é a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), que hoje é comandada por Marcelo Freixo (PT), aliado próximo de Lula e com quem o ministro Alexandre Padilha deve se reunir nos próximos dias.

Metrópoles