Governo pode nomear inimigo para ministério
Foto: Elaine Menke/Agência Câmara
Favorito para assumir um ministério por indicação do PP, o deputado André Fufuca (MA) tem uma trajetória marcada por posicionamentos contrários aos da base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O parlamentar já fez parte da tropa de choque do então presidente da Casa, Eduardo Cunha, e votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em 2021, ele disse que era contra abrir processo para afastar Jair Bolsonaro do Palácio do Planalto pela gestão da pandemia e, neste ano, votou a favor do marco temporal para demarcação de terras indígenas — texto que contrariava o atual governo.
Na última terça-feira, Fufuca se reuniu com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Após o encontro, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que a entrada do PP, assim como do Republicanos, no governo está “consolidada”. Na prática, a nomeação de Fufuca vai selar a aliança do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com a gestão Lula.
Fufuca, atualmente com 33 anos, ingressou na vida pública com 21 anos, quando estudava medicina. Foi eleito deputado estadual pelo Maranhão, onde ganhou o apelido de “menudo” por fazer parte de um grupo de parlamentares jovens naquela legislatura. A política entrou em sua vida por influência do pai, Francisco Dantas Ribeiro Filho, o Fufuca Dantas, atual prefeito de Alto Alegre do Pindaré (MA), de quem também herdou o apelido.
O parlamentar teve como ponto alto de sua atuação política o período de sete dias, em 2017, em que ocupou a presidência da Câmara dos Deputados. Ele era o segundo-vice-presidente da Casa. O então comandante da Câmara, Rodrigo Maia, havia assumido o Planalto enquanto Michel Temer, chefe do Executivo federal à época, fazia uma viagem ao exterior. O vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), estava na comitiva.
A ascensão de Fufuca, no entanto, começou anos antes, quando se aproximou de Eduardo Cunha. O então presidente da Câmara é visto como o algoz de Dilma Rousseff, por ter aberto o processo de impeachment contra ela. Fufuca, seguindo seu mentor, também votou a favor do afastamento da petista.
Sua lealdade era tamanha que, em 2016, quando integrava o Conselho de Ética da Casa, votou contra a cassação do então presidente afastado da Casa. Durante uma sessão do colegiado, inclusive, ele teve um bate-boca com o então deputado Júlio Delgado (PV-MG), após o mineiro afirmar que Fufuca chamaria Cunha de “Papi”.
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— Não queira macular minha imagem pela minha juventude. Vossa Excelência é o exemplo de que até os canalhas envelhecem. Nesta Casa ninguém me viu usar de ato de bajulice, até porque venho de um estado em que usar esse termo “papi” é até afeminado — reagiu o maranhense.
A amizade com Cunha nunca foi negada por Fufuca, embora ele tenha tentado se descolar politicamente do ex-deputado após a cassação.
“A minha relação com Eduardo Cunha era de amizade, todo mundo sabe que eu tinha amizade. Quando eu cheguei aqui, foi ele que me deu espaço. Agora, a minha relação com Eduardo é de amizade. Política, a relação é zero. Ele é do Rio de Janeiro, eu, do Maranhão. Eduardo era do PMDB, eu era na época do PEN. Fui para o PP, ele queria que eu fosse para o PMDB”, disse Fufuca em entrevista ao g1 em 2017.
Durante o período de Cunha na presidência da Câmara, Fufuca contratou a Popsicle Digital Flavours para trabalhos de assessoria e divulgação de mandatos. A empresa era ligada a Danielle, filha de Cunha.
Na época, Fufuca negou que a contratação de Danielle, hoje deputada federal, tivesse relação com Cunha:
— Eu a contratei para fazer esse trabalho de comunicação, de monitoramento nas redes sociais, alimentar o site. Estava precisando desse serviço, e ela tem experiência. A influência (de Cunha) é nenhuma. Zero. Ela faz o serviço independentemente do pai.
Desde o começo do terceiro mandato de Lula, Fufuca já se posicionou contra pautas importantes para o governo. Ele votou a favor do projeto do marco temporal para terras indígenas. O texto, aprovado pela Câmara e em tramitação agora no Senado, estabelece que apenas áreas ocupadas ou em disputa em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição, podem ser demarcadas. Durante a votação o líder do governo na Câmara, José Guimarães, orientou contra o texto e tentou adiar sua discussão.
Fufuca também não compôs com o governo na discussão do marco do saneamento. O deputado se ausentou da votação que derrubou dois parágrafos de decretos da Presidência sobre o assunto. Procurado, ele não retornou os contatos.