Idade do Cobre pode ter tido um matriarcado

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Foto: Miriam Luciañez Triviño/Reprodução

O estudo da participação feminina em algumas sociedades ainda é limitado pela ausência de registros escritos ou pelo apagamento constantemente sofrido. Por esse motivo, interpretações sobre o passado muitas vezes padecem de perspectivas excessivamente masculinas que ignoram as contribuições e os papéis sociais desempenhados pelas mulheres. Nesse cenário, os restos mortais podem ser o único vestígio capaz de prestar alguma justiça histórica. E foi por esse meio que um grupo de pesquisadores descobriu que a principal liderança da Idade do Cobre foi uma mulher. A análise química dos compostos que são capazes de identificar o sexo de um corpo a partir da arcada dentária, conhecidos como peptídeos de amelogenina sexualmente dimórficos do esmalte dentário, revelou que a figura mais importante da Península Ibérica na Idade do Cobre (3200 – 2200 a.C) não era um homem, como se pensava anteriormente, mas uma mulher. O estudo mais recente demonstra que, na verdade, nesse período nenhum homem atingiu uma posição social remotamente comparável. Os restos mortais investigados foram descobertos em Valência, na Espanha, em 2008. Sendo inicialmente chamado de “Homem de Marfim”, a personagem histórica foi rebatizada agora como “Dama de Marfim” (Ivory Lady, em inglês). “A Dama de Marfim era a pessoa com o status social mais alto datando da Idade do Cobre em toda a Península Ibérica, com base nas evidências atualmente disponíveis”, diz o estudo. “Isso é significativo não apenas porque uma mulher aparece distintamente como a pessoa mais poderosa desse período crucial, quando os processos que levaram a uma sociedade mais hierárquica estavam em jogo na Europa Ocidental, mas também porque não há contraparte masculina comparável naquela região”. O corpo foi enterrado com um luxuoso conjunto de bens que incluía um grande prato de cerâmica (no qual foram encontrados vestígios químicos de vinho e cannabis) e itens de cobre e marfim. Algum tempo depois, outra oferenda foi feita, deixando na tumba um conjunto de peças planas de ardósia. Além disso, outros bens funerários foram então implantados na sepultura, como grandes pratos de cerâmica e muitos outros objetos de marfim. Entre estas, destaca-se um punhal com lâmina de cristal de rocha e cabo de marfim decorado com 90 contas discóides perfuradas de madrepérola. A quantidade e a qualidade do conjunto de artefatos utilizados como oferenda funerária são elementos indicativos da grande influência da Dama de Marfim. Outras evidências arqueológicas encontradas no local sugerem que seu prestígio foi conquistado ao longo da vida, por meio de méritos e conquistas pessoais, não sendo, portanto, herdado a partir do nascimento. Apesar de seu destaque como figura proeminente, amostras adicionais indicam a existência de uma sociedade matriarcal naquele período, onde mulheres desfrutavam da mais alta estima. Isso porque as outras pessoas enterradas com honrarias semelhantes também foram identificadas como sendo do sexo feminino. “Essas descobertas são altamente relevantes para o estudo das assimetrias de gênero na pré-história europeia tardia”, escrevem os autores.

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