Lula segue tentando aproximação com evangélicos e ruralistas
Foto: Ricardo Stuckert/Presidência
Em nova investida para tentar se aproximar do agronegócio, setor majoritariamente alinhado a Jair Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta segunda-feira, na Bahia, da cerimônia de início das obras do Trecho 1 da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), estratégicas para o escoamento de grãos. Em outra frente, o petista também mira os evangélicos, outro segmento que apoiou em peso o ex-presidente, com um pacote de isenção fiscal. Entre os benefícios estão a imunidade tributária na compra de bens e serviços e o desbloqueio de R$ 1 bilhão da tributação da folha de pagamento de funcionários das igrejas, retidos pela Receita Federal.
Nesta segunda-feira, durante a cerimônia no município de Ilhéus, Lula pediu “hora extra” aos empresários para acelerarem a construção do primeiro trecho da ferrovia, para que a obra acabe no seu mandato. Administrado pela concessionária Bamin, o trecho tem 537 quilômetros e passará por 19 cidades, impactando diretamente na produção agrícola em estados das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
O investimento inicial é de R$ 1,5 bilhão e deve durar 36 meses. A expectativa é que comece a operar em 2027 e transporte 18,4 milhões de toneladas de carga. O governo ainda trabalha para conceder os outros dois trechos, entre Caetité e Barreiras, que já tem obras em andamento, e entre Barreiras e Figueirópolis (TO).
— Queria pedir para os companheiros empresários que estão nessa empreitada, parem de dizer que vão entregar (a ferrovia) em 2027. Vocês têm que entregar ela antes do dia 31 de dezembro de 2026. Façam um pouco de hora extra, trabalhem final de semana se for necessário, para que a gente possa inaugurar logo — disse Lula. — Se não, a gente corre o risco de alguma coisa ruim voltar nesse país e ela ficar parada outra vez. Vamos tratar de trabalhar logo essa obra.
Sem citar Bolsonaro, Lula fez críticas a gestões anteriores e disse que o Brasil “caiu num mundo obscuro” e foi “tomado pelo ódio e pela mentira”:
— Se esse país tivesse seguido o ritmo de crescimento que ele tinha quando terminamos nosso primeiro mandato, certamente esse país seria, na pior das hipóteses, a quarta economia do mundo. O país andou para trás, caiu num mundo obscuro e a gente perdeu noção da grandeza e do que esse país poderia fazer pelo seu povo — disse. — Esse país foi tomado pelo ódio e pela mentira. Estamos restabelecendo o país que nós precisamos.
Além de gestos ao agronegócio, Lula também avança na estratégia para atrair os evangélicos, conforme noticiou o colunista do GLOBO, Lauro Jardim. Um grupo de trabalho no Palácio do Planalto tem estudado projetos que tramitam no Congresso e atendam aos pleitos de pastores.
Um deles amplia a imunidade tributária das igrejas na compra de bens e serviços necessários à formação do patrimônio, à geração de renda e à prestação de serviços. A isenção de imposto incluiria todo produto comprado pelo CNPJ da igreja, tanto para a construção dos templos quanto para a preparação dos cultos, além de serviços sociais como, por exemplo, alimentação em lares de idosos de igrejas.
Outro ponto em análise é a liberação de R$ 1 bilhão da tributação da folha de pagamento de empregados de igrejas, retido na Receita Federal. As propostas ainda estão em fase preliminar de estudos dentro do governo. A ideia não é necessariamente encampar esses textos integralmente, e sim formular projetos semelhantes. No Brasil, há 70 milhões de evangélicos que frequentam 150 mil templos.