PF não quer investigar grampo na cela de doleiro
A Coordenação-Geral de Assuntos Internos da Polícia Federal, em Brasília, afirma não ver motivos para abrir uma nova investigação sobre as escutas encontradas em 2014 na cela do doleiro Alberto Youssef, um dos pivôs da Operação Lava Jato.
Antes de ser beneficiado por um acordo de colaboração premiada firmado com o MPF (Ministério Público Federal) do Paraná, Youssef ficou preso em uma carceragem da Superintendência da PF em Curitiba.
De acordo com o delegado da PF Álex Levi Bersan de Rezende, coordenador-geral de Assuntos Internos, já houve “intenso escrutínio” sobre o assunto e não há fatos novos que justifiquem a retomada do caso. “Não foi possível identificar nenhuma nova circunstância que fosse apta a reabrir os procedimentos criminais findos ou até mesmo legitimar a instauração de novo inquérito policial”, escreveu ele.
O então juiz da Vara, Eduardo Appio, acolheu o pedido da defesa do Youssef, requisitando as cópias das
“Os elementos encontrados (…) permitem afirmar que existem indícios concretos e documentados acerca do cometimento de graves delitos”, escreveu Appio na ocasião.
Ele também menciona uma investigação de 2015 sobre uma escuta ambiental instalada em uma luminária, na escadaria do segundo andar do prédio da Superintendência da PF em Curitiba.
“Foram analisadas as condutas de gestores da Superintendência Regional da Polícia Federal no Paraná, e de investigadores da operação Lava Jato, delegados e agentes. Nem todos foram punidos, para alguns não se logrou comprovar a participação, em virtude da ausência de elementos suficientes de autoria, enquanto para outros, não obstante a comprovada atuação irregular, operou-se a prescrição”, afirmou ele.
Ainda segundo o delegado, a avaliação do conteúdo inteligível dos áudios apontou para a inexistência de diálogos que “pudessem ser considerados relevantes ou que pudessem, em tese, ser usados contra os interlocutores”.
A defesa de Youssef ainda aguarda cópia dos áudios captados a partir dos grampos ilegais.
Eventual quebra de acordo de delação de Youssef pode interferir em todos os processos derivados da Lava Jato.
Em sua manifestação à Justiça Federal, o delegado Álex Levi Bersan de Rezende disse que, apesar de ser público e notório que algumas ações e condenações penais ocorridas no âmbito da operação Lava Jato foram anuladas após a descoberta de irregularidades, não há elementos conhecidos “que indicam que todas as investigações e ações penais tenham sido afetadas por estas ou outras máculas”.
“A operação Lava Jato não foi um monolito, ela ocorreu por anos, gerou a deflagração de inúmeras fases, envolveu diversos juízos, diferentes membros do MPF, policiais federais de diferentes delegacias, e não apenas de Curitiba, mas também do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Brasília”, defendeu ele.
Os desdobramentos sobre o caso dos grampos ilegais serão conduzidos pelo juiz Fábio Nunes de Martino, que está substituindo Appio desde 19 de junho.
Folha de SP