PL bolsonarista usa homofobia contra reforma tributária
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Acostumados aos discursos sobre a pauta de costumes, sob o lema Deus, pátria e família, bolsonaristas tentaram ao longo da quinta-feira transformar a Reforma Tributária em um tema ideológico na tentativa de impulsionar a oposição ao texto — a estratégia para os seguidores não funcionou, e a proposta foi aprovada em plenário.
Bolsonaristas focaram em um ponto do texto elaborado pelo relator Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), sobre a previsão de “cashback” para gênero e raça para atrair a atenção do seu público mais fiel e tentar movimentar as redes sociais e grupos de mensagens.
“Lei estabelecerá hipóteses de devolução da contribuição prevista no inciso V a pessoas físicas, inclusive em relação a limites e beneficiários, com o objetivo de reduzir as desigualdades de renda, gênero ou raça”, diz trecho do relatório.
A intenção do trecho é priorizar, além dos mais pobres, mulheres e negros no recebimento de devolução de impostos, o chamado “cashback”. A proposta é ampla e busca simplificar a cobrança de impostos no país.
Um vídeo feito no plenário da Câmara pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-RJ) criticando esse trecho da proposta viralizou nas redes sociais.
—Por incrível que pareça, a esquerda consegue colocar ideologia de gênero na reforma tributária. Surreal — diz o deputado na filmagem.
Outros deputados do PL seguiram a mesma linha.
—Eles têm que botar essa questão de gênero! Ora, todos nós somos brasileiros! A Constituição é clara! Sempre querem incentivar essa briga entre brasileiros. O desgoverno Lula não aprende, não tem vergonha — disse no plenário o deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB).
—A pessoa paga o imposto, compra um produto ou utiliza um serviço e paga por isso. Depois, vai dizer que ela se sente mulher e por isso ela terá direito ao cashback, terá direito ao ressarcimento desse imposto que ela pagou. Esse é um dos estímulos que o PT faz para a ideologia de gênero. Inclusive, a Constituição não tem nenhuma previsão do termo “gênero”. Essa é mais uma das inconsistências desse projeto — completou o líder da Oposição na Câmara, deputado Carlos Jordy (PL-RJ).
Os apelos dos bolsonaristas se intensificaram após reunião do partido com a participação do ex-presidente na sede da sigla, em Brasília, em que Bolsonaro se desentendeu com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O governador foi cobrado por ter aparecido ao lado do ministro da Fazenda, o petista Fernando Haddad, defendendo a reforma tributária.
A ideia do cashback na reforma tributária é de combater desigualdades sociais. A medida também deve valer para defesa do meio ambiente, redução dos tributos de produtos de higiene menstrual e dos equipamentos de acessibilidade para pessoas com deficiência.