TSE deve cassar família Bolsonaro inteirinha

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Foto: SILVIO AVILA/AFP

A inelegibilidade de Jair Bolsonaro é só a “ponta do iceberg” de uma série de reveses que ainda virão nas diversas instâncias judiciais, avaliam aliados de Jair Bolsonaro ouvidos reservadamente pela equipe da coluna.

No entorno do ex-presidente, predomina a leitura de que o pior ainda está por vir, após a condenação imposta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

No Tribunal de Contas da União (TCU), por exemplo, o PL já dá como certa a aplicação de uma multa para ressarcir os cofres públicos dos gastos da reunião com embaixadores, marcada por ataques infundados contra as urnas eletrônicas. Pelo mesmo episódio, o TSE já afastou o ex-presidente do processo eleitoral pelos próximos oito anos.

As projeções de aliados incluem o indiciamento do próprio Bolsonaro no caso das milionárias joias sauditas e novos desdobramentos do inquérito das milícias digitais, das fake news e dos atos golpistas de 8 janeiro, além do aprofundamento da apuração sobre fraude na carteira de vacinação, com novas quebras de sigilo e operações de busca e apreensão que possam constranger o ex-ocupante do Palácio do Planalto e sua família.

Há também o receio com a saída de Augusto Aras do comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), e sua substituição por um subprocurador que não sirva mais de blindagem ao clã Bolsonaro. O mandato de Aras se encerra em setembro, mas sua sucessão já vem movimentando os bastidores.

Um dos temores de aliados de Bolsonaro é que um novo chefe da PGR, indicado por Lula, apresente denúncias contra o ex-presidente no âmbito das investigações que seguem no STF sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, podendo resultar até em sua condenação na esfera criminal.

E, como se não faltassem problemas, há ainda as outras 15 ações que aguardam julgamento no TSE e apuram abusos cometidos na última campanha eleitoral.

Uma delas, movida pela coligação de Lula, é monitorada com particular apreensão pelos bolsonaristas: a que acusa o ex-presidente, seus três filhos parlamentares – o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) – e dezenas de outros apoiadores de promoverem um “ecossistema de desinformação” nas redes sociais para difundir fake news e “manipular a opinião pública”.

Ao acionar o TSE, em outubro do ano passado, o PT já pediu o compartilhamento das provas colhidas pelo STF no âmbito do inquérito das milícias digitais.

O partido de Lula rechaça uma série de tuítes publicados por bolsonaristas, entre eles os que levantaram falsas acusações de fraude contra as urnas e associaram a legenda a uma organização criminosa e à morte do ex-prefeito Celso Daniel.

A campanha de Lula pediu a punição não apenas de Bolsonaro e seu candidato a vice, o general Braga Netto, mas também de quem mais tenha “contribuído para os atos abusivos”. A ação ainda está em estágio inicial, mas deve ganhar celeridade antes de o ministro Benedito Gonçalves deixar a Corregedoria do TSE em novembro.

“Já detectei esse mesmo temor em vários segmentos da direita e mesmo da centro-direita: a percepção de que estaria em curso um projeto de decapitação em série das lideranças liberais e conservadoras”, disse à equipe da coluna o cientista político Paulo Kramer, que ajudou na formulação do plano de governo bolsonarista de 2018.

“Apesar de suas deficiências, Bolsonaro é o maior líder conservador da História do Brasil em todos os tempos. É provável que muita gente o siga mais como a um ‘ídolo’ do que como a um verdadeiro líder. Mas a liderança política estável exige uma base organizacional e partidária de que o bolsonarismo ainda carece.”

Há, contudo, uma divergência entre aliados sobre o exato tamanho do iceberg e qual seria exatamente o seu fundo – mais precisamente, quais os riscos de uma prisão do ex-presidente da República.

Integrantes do PL e da equipe jurídica de Bolsonaro minimizam as chances de uma medida tão drástica, alertando para o potencial de uma decisão nesse sentido provocar tumulto nas ruas, gerar instabilidade e incendiar o país.

Mas um interlocutor frequente de Bolsonaro, mais pessimista, já diz aguardar o ex-presidente na cadeia até o fim do ano. “Bolsonaro vai perder tudo e está morto até 2030”, desabafa.

O Globo