
Vice de Braga Netto em 2024 será bolsonarista homofóbica
Foto: Câmara dos Deputados
Apontada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, como nome ideal para o posto de vice em uma eventual chapa do general Walter Braga Netto à Prefeitura do Rio no ano que vem, a deputada federal bolsonarista Chris Tonietto (PL-RJ) tem sua carreira política marcada pela ênfase na defesa de bandeiras conservadoras, como criminalização do aborto em casos hoje legalizados, e ataques à comunidade LGBTQIAP+. A parlamentar já foi condenada pela Justiça Federal do Rio a pagar R$ 50 mil de indenização por danos morais coletivos por associar nas redes essa população à pedofilia.
O texto que levou à decisão, de julho do ano passado, foi publicado em 2020 no Facebook. Na ocasião, Chris afirmou que a pedofilia é “defendida explicitamente por alguns expoentes do movimento LGBT”. O Ministério Público Federal (MPF) entendeu que as falas da deputada configuram “discurso de ódio e menosprezo pelo ordenamento jurídico e pelas instituições democráticas”.
Em entrevista à GloboNews na última terça-feira, Valdemar Costa Neto enfatizou que a vice de uma eventual candidatura de Braga Netto seria uma mulher. Ao sinalizar preferência pela deputada, destacou o fato de Chris ser “religiosa” e de ter “prestígio” como ativos eleitorais da deputada, que é católica.
— Ela com Braga Netto seriam imbatíveis no Rio de Janeiro — avaliou.
Na mesma entrevista, Valdemar afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro precisa convencer Braga Netto a se candidatar. Apesar de ser tratado pelo PL como nome certo na disputa, o militar da reserva resiste a concorrer porque, segundo aliados, seu foco seria disputar o Senado por Minas Gerais nas eleições de 2026, segundo a colunista do Extra Berenice Seara.
Chris teve pouco mais de 50 mil votos no pleito do ano passado. Do total, 23,6 mil foram na capital. Procurada para comentar se pretende disputar o posto de vice na chapa, a deputada, que está em licença maternidade, não se manifestou.
A maioria dos projetos de lei apresentados pela parlamentar na Câmara dos Deputados mira temas relacionados à agenda de costumes. Um deles, de 2021, por exemplo, busca estabelecer “medidas protetivas à Língua Portuguesa” e proíbe o uso de linguagem neutra. Um tema recorrente é a tentativa de restringir o aborto legal, em condições já previstas na Legislação brasileira. Em uma proposta de 2019, a bolsonarista defendeu retirar do Código Penal a permissão para aborto no caso de gravidez resultante de estupro e quando não há outro meio de salvar a vida da gestante.
Diante das propostas, um levantamento da Revista AzMina, de 2022, apontou Chris Tonietto como a parlamentar com maior número de projetos desfavoráveis às mulheres na Câmara. Em maio, a deputada também foi uma das 36 parlamentares a se posicionaram contra o projeto de lei, aprovado na Casa, que institui medidas para garantir que homens e mulheres recebam o mesmo salário quando ocupam a mesma função.
Na pandemia, a deputada, que é advogada, foi responsável por produzir e divulgar um modelo de pedido de habeas corpus contra o “passaporte da vacina” para contestar um decreto da prefeitura do Rio. Na época, o Tribunal de Justiça do Rio recebeu dezenas de pedidos idênticos contra a medida.
Ela também compartilhou conteúdos antivacina em seu canal no YouTube, apagados pela própria deputada em janeiro, antes de tomar posse para o segundo mandato, segundo reportagem da agência de checagem Aos Fatos. Chris foi também uma das autoras de um projeto de decreto legislativo para anular a decisão da Anvisa que autorizou a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19.
Nas redes sociais, a deputada também mirou as urnas eletrônicas. Em uma postagem de 2021, ainda no ar, ela afirma que “a maioria da população está insatisfeita com o processo eleitoral e tem sérias dúvidas sobre a apuração dos votos”. A deputada reproduz um vídeo de Bolsonaro com desinformação sobre o processo eleitoral, tema que levou à inelegibilidade do ex-presidente por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Chris foi eleita após atuar no Centro Dom Bosco, associação de leigos católicos ultraconservadora conhecida no país por mover ações para censurar especiais de Natal da produtora Porta dos Fundos. Em 2018, a bolsonarista foi a advogada do grupo em um dos casos que tramitaram, sem sucesso, na Justiça do Rio.
No mesmo ano, um vídeo em que a hoje parlamentar questiona o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), poderia legalizar o aborto mesmo com a maioria da população contra a medida já havia circulado entre grupos conservadores.