Vice-presidente do PT se opõe a candidatura de deputada trans
Foto: PDT/Marcelo Theobald/Infoglobo
A possibilidade da deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) concorrer à prefeitura de Belo Horizonte e ter apoio do PT gerou confusão no grupo de WhatsApp nacional do partido. O vice-presidente da sigla, Washington Quaquá (PT-RJ), se opôs ao nome da petista e chegou a ser chamado de preconceituoso pela líder da secretaria LGBT, Janaina Oliveira. Em seu primeiro mandato, Duda é uma das duas primeiras mulheres transexuais a chegar no Congresso Nacional. A informação foi inicialmente publicada pelo jornal Folha de S. Paulo e confirmada pelo GLOBO.
O embate ocorreu há exatamente uma semana, na última quarta-feira (5). Na ocasião, Quaquá compartilhou uma reportagem que falava sobre a possibilidade de Duda ter o apoio do PT na disputa do ano que vem. “Precisamos rediscutir nossa tática pra ganhar o eleitor da periferia. Tirar eleitorado lulista mas conservador nos costumes para voltar pro lulismo. E precisamos discutir seriamente isso. Essa coisa por exemplo de Duda Salabert numa das capitais mais importantes do país precisa ser bem discutida, porque tem efeito nacional”, afirmou o deputado.
A mensagem teve o apoio do deputado federal Odair Cunha que afirmou que o partido deve lançar candidatura própria na capital mineira: “Essa história de Duda vai fazer com que o PT desapareça”, disse.
Já Oliveira questionou Quaquá e chamou o vice-presidente de preconceituoso. “Quando um vice-presidente do PT tem na linha de sua fala o foco transfóbico escondido em um discurso eleitoral para mim isso, sim, é que se trata de algo grave. Essas suas táticas com esses teus adjetivos que homens brancos adoram apontar em mulheres negras não têm vez comigo”, afirmou. O vice-presidente negou ser transfóbico.
Ao GLOBO, o vice-presidente do PT reiterou ser “absolutamente contra” à possibilidade de Salabert ter o apoio do PT em Belo Horizonte:
— Acho que é uma candidatura ruim, tem audiência num pedaço do setor da classe média e acho que comportamento não deve nos guiar. As candidaturas ideológicas tem nos afastados do eleitor mais pobre, de periferia, que deve ser nossa prioridade. Lá em BH, temos pessoas mais capacitadas.
Na capital mineira, o deputado federal Rogério Correia e as estaduais Macaé Evaristo e Beatriz Cerqueira são os nomes ventilados até o momento. “Excelentes e que priorizam a luta econômica e social”, diz Quaquá. O vice-presidente também retrucou a acusação de transfobia.
— Tenho nada contra Duda. É uma questão de estratégia para não perder substância. Me chamar de transfóbico é uma imbecilidade. A esquerda tem agido como se fosse a direita em moeda contrária, um autoritarismo comportamental. Sou a favor da pauta LGBT e absolutamente contrário à discriminação.
Já o deputado federal Odair Cunha afirmou ser contrário ao apoio do PT a Lula por entender a necessidade de ter uma candidatura própria:
— Abrir mão da disputa em primeiro turno em um lugar que já governou tantas vezes não me parece ser uma boa tática eleitoral. Não é sobre Duda ou o atual prefeito (Fuad Noman), mas sobre o PT Minas ter condição de ter candidato — disse o deputado.
Além de um possível apoio, a filiação de Duda Salabert ao PT também é ventilada internamente. Sobre isto, o presidente do diretório municipal de Belo Horizonte, Guima Jardim, afirmou que a deputada seria “extremamente bem-vinda”, mas afirma não haver negociações em curso:
— Não existe nenhuma conversa. Ela nunca me procurou, nunca procurou o diretório municipal. Ela é uma personagem importante em Belo Horizonte, não temos objeção nenhuma. A trajetória dela honra a cidade, mas não há negociação — disse.