Ante reforma ministerial, ministros afetam desapego
Foto: Ton Molina/Fotoarena/Agência O Globo
Entre os cotados para ter que entregar o cargo para um integrante do Centrão na próxima reforma ministerial, o ministro Márcio França (PSB), dos Portos e Aeroportos, afirma que não recebeu “nenhuma sinalização” do governo sobre o que será feito de sua pasta e diz que “a única coisa imutável no Lula é a Janja”.
Em conversa com a equipe da coluna, França disse considerar importante “criar uma estabilidade na Câmara” e tentou não dar palpite sobre qual seria a melhor troca para conseguir essa estabilidade”. “Só consegue avaliar bem quem está com todas as informações. E as informações totais não ficam com quem é ministro, é mais Casa Civil…”.
Quando questionado sobre seu futuro político no governo Lula, o ministro procurou demonstrar resignação. “A gente, quando vem pra cá, você é político… Eu era um governador, e no dia seguinte não era nada. Um dia você é tudo, outro dia você é nada.”
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O ministro dos Portos e Aeroportos não é o único nessa situação. Desde que começaram as negociações para a reforma ministerial que vai incorporar o Centrão ao governo Lula, a lista de pastas a serem oferecidas aos partidos já variou tanto que não se sabe mais qual será a nova configuração da Esplanada dos Ministérios.
Dos Esportes ao Desenvolvimento Social, passando por Direitos Humanos, Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento, Mulheres, Desenvolvimento Agrário, Portos e Aeroportos, todos já estiveram cotados para as trocas.
Só que a indefinição de Lula não está causando picos de ansiedade apenas nos cabeças do Centrão. Os próprios ministros que não sabem se terão emprego daqui a um mês têm tido dias de tensão e momentos de irritação com o presidente.
Em conversas com colegas com gabinetes no Palácio do Planalto e com os próprios jornalistas, eles se queixam da falta de informações, dizem estar se sentindo fritados e ainda tentam captar algum sinal do que o chefe fará, enquanto tentam se equilibrar no posto.
Como conhecem bem o presidente e sabem que Lula não gosta de se sentir pressionado, em público eles procuram se mostrar resignados e desapegados. Foi o que fizeram, na tarde de ontem os ministros Wellington Dias, do Desenvolvimento Social, e Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário.
Em uma entrevista que deram juntos durante a Cúpula da Amazônia, em Belém, Dias disse que “na hora certa ele (Lula) vai bater o martelo, vai anunciar e terá nosso apoio. Da nossa parte, muito trabalho.” Já Teixeira afirmou que nem ele nem Dias estão “perdendo nenhuma noite de sono”, porque “a área social é o coração do presidente Lula. E o coração do presidente Lula ele certamente trata com muito carinho”.
Nos bastidores, a movimentação é diferente. Mesmo ministros que já tiveram a garantia de Lula de que continuarão no cargo – como Ana Moser, dos Esportes — manifestam reservadamente a preocupação de que alguma mudança de cenário os ejete da cadeira.
Nas palavras de um ministro que não está com o cargo à prova, as constantes perguntas dos jornalistas sobre uma possível saída do ministério constrange os colegas que estão na berlinda e faz com que se sintam “fritados”. Segundo esse ministro, a tensão é maior para os que não foram eleitos deputado ou senador em 2022 e ficarão sem função caso tenham que deixar o governo – caso de França, que foi derrotado na eleição para senador por São Paulo.
Discretamente, assessores de vários ministérios tentam “apurar” até mesmo com jornalistas se houve alguma mudança no humor político do Centrão ou de Lula. “O que você está ouvindo aí?”, é uma das perguntas mais repetidas nas últimas semanas em Brasília. Por enquanto, continuam todos no escuro.