Bolsonarismo aposta em ex-diretor da ABin para desgastar governo
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Após três semanas de recesso, a CPMI do 8 de janeiro retoma os trabalhos nesta terça-feira (1) com o depoimento de Saulo Moura da Cunha. Ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência, ele estava no comando do órgão no dia dos ataques golpistas contra a sede dos três Poderes na capital federal. A defesa de Saulo Moura da Cunha solicitou à comissão que o depoimento dele pudesse ocorrer a portas fechadas para preservar a imagem do depoente e o sigilo das informações prestadas. O presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-BA), ainda não se manifestou sobre o requerimento. No documento encaminhado ao colegiado, Saulo Moura da Cunha alega, entre outros pontos, que a citação de nomes ou exposição de imagens de agentes da Abin podem comprometer atividades ou missões de inteligência de que tenham participado ou estejam participando sob anonimato. A defesa destaca também que esta exposição pode “colocar em risco a incolumidade física” do servidor. Ele deixou o cargo de diretor-adjunto no início de março. No entendimento da defesa, o colegiado mais apropriado para o ex-diretor-adjunto da Abin prestar depoimento seria a Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência (CCAI). Também houve solicitação para que qualquer informação sobre o objeto de investigação deveria ser solicitada diretamente ao ministro da Casa Civil, Rui Costa. Na estrutura da Presidência da República, a Abin é subordinada à Casa Civil. A Abin produziu diversos alertas sobre riscos de um ataque a prédios públicos de Brasília” — Izalci Lucas A CPMI do 8 de janeiro registrou cinco requerimentos para convocação de Saulo Moura da Cunha. Todos foram protocolados por oposicionistas. A oposição alega que é importante ouvi-lo para saber sobre relatórios produzidos pela Abin nos dias que antecederam os ataques e que tinham sido encaminhados a autoridades do governo federal. “A Agência Brasileira de Inteligência produziu diversos alertas sobre riscos de um ataque a prédios públicos de Brasília, inclusive na véspera das invasões e depredação de patrimônio público no domingo [8 de janeiro], na capital federal”, justifica o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) no requerimento de convocação. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), autor de um dos requerimentos de convocação, argumenta que a presença de Cunha no colegiado colabora com a “transparência nas apurações”. Os deputados Delegado Ramagem (PL-RJ), Marco Feliciano (PL-SP), além do senador Magno Malta (PL-ES), também solicitaram a tomada de depoimento do ex-diretor-adjunto da Abin. Na quinta-feira (3), os integrantes do colegiado devem ouvir o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres. Na sua casa, policiais federais encontraram uma espécie de “minuta” para um golpe de Estado. Torres viajou para os EUA na véspera das invasões à sede dos três Poderes. Ele foi preso no dia 14 de janeiro. No dia 11 de maio, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, concedeu liberdade provisória com uso de tornozeleira eletrônica. Anderson Torres havia sido convocado para prestar depoimento na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, mas, munido de decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, não compareceu na data marcada.