Bolsonaristas foragidos compartilham rotina nas redes
Com prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pelo menos três influenciadores bolsonaristas vêm buscando refúgio no exterior. Acusados de envolvimento com atos antidemocráticos, como ataques ao processo eleitoral e incentivo a manifestações golpistas após as eleições do ano passado, os foragidos da Justiça brasileira seguem compartilhando a própria rotina em território estrangeiro nas plataformas digitais.
Oswaldo Eustáquio
Foragido desde dezembro, o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio foi localizado pela Polícia Federal em março, no Paraguai. Apesar de Moraes ter determinado a prisão, o mandado não foi cumprido porque ele teria apresentado um documento para provar que pediu asilo político no país.
O jornalista já havia sido preso em 2020 e em 2021, no âmbito do Inquérito dos Atos Antidemocráticos, que tramita no STF. No ano passado, ele se candidatou a deputado federal pelo União Brasil, mas não se elegeu.
Em julho, Alexandre de Moraes determinou a inclusão do nome de Eustáquio na lista vermelha da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol). Ainda assim, o blogueiro diz que vem ao país com frequência para visitar a família, no interior do Paraná, e até para ir ao estádio torcer pelo Athletico Paranaense. Em um dos retornos ao Paraguai, ele afirma ter levado R$ 300 mil em espécie escondidos em uma capa de laptop.
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Maxcione Pitangui
Suspeito de organizar e incentivar atos antidemocráticos, o radialista capixaba Maxcione Pitangui de Abreu, foragido desde dezembro de 2022, após ter a prisão decretada por Moraes, fez um pedido de refúgio no Paraguai no início de julho e obteve um documento que autoriza sua permanência provisória no país. A Polícia Federal do Espírito Santo confirmou a veracidade do documento, compartilhado por Max Pitangui e seu advogado nas redes sociais. Em 2022, ele foi candidato a deputado estadual no Espírito Santo pelo PTB, mas também não obteve votos suficientes.
No dia 15 de dezembro, ele e outros três capixabas foram alvos de uma operação da PF por organizarem e incentivarem atos antidemocráticos no pós-eleição. Desde então, ele é considerado foragido pela Justiça brasileira.
O documento obtido por Pitangui tem validade de 90 dias, tempo no qual o pedido de refúgio será avaliado pela Comissão Nacional de Apátridas e Refugiados (Conare) do Paraguai. Nesse período, ele tem autorização de permanecer no país, além de poder desempenhar atividades remuneradas e ter acesso garantido a serviços básicos de saúde e educação.
Allan dos Santos
A extradição do blogueiro Allan dos Santos, que vive nos Estados Unidos, está paralisada há mais de seis meses, quando o governo Lula retomou o processo para conseguir trazê-lo ao Brasil. Santos é considerado foragido da Justiça brasileira desde que teve a prisão preventiva decretada por Moraes, em outubro de 2021.
Em janeiro, o Ministério da Justiça acionou as autoridades norte-americanas por meio do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI). A Polícia Federal, por sua vez, voltou a procurar o escritório da Interpol (Organização de Polícia Internacional) para incluir o nome dele na chamada difusão vermelha. Nenhum dos pedidos foi aceito até o momento.
Morando na Flórida, nos EUA, Allan dos Santos afirmou em uma entrevista ao podcast de Monark — outro investigado por atos antidemocráticos —, em 10 de julho, que continua vivendo normalmente no país, sem nunca ter sido incomodado pelas autoridades. No mesmo mês, ele participou de uma palestra ao lado do ex-chanceler Ernesto Araújo na Florida International University, em Miami. O blogueiro e o ex-chanceler discursaram em um painel sobre o tema “repressão às liberdades civis no Brasil”. Em fevereiro, ele participou de um evento promovido por uma entidade conservadora em Orlando que também contou com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O Globo