Bolsonaro não foi depor na PF e se reuniu com chefe da corporação
Foto: Breno Esaki/Metrópoles
Jair Bolsonaro teve uma reunião secreta com o então diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Maiurino, no dia em que o então presidente deveria prestar depoimento à corporação. Horas depois do encontro, Bolsonaro decidiu faltar ao compromisso obrigatório.
A reunião consta de e-mails que revelam uma agenda confidencial da Presidência, com compromissos que não foram incluídos na agenda pública de Bolsonaro. O alerta sobre o encontro estava na caixa de mensagens do ex-ajudante de ordens Jonathas Diniz Vieira Coelho.
O café da manhã ocorreu entre as 8h e 8h30 do dia 28 de janeiro de 2022, no Palácio da Alvorada. Os consultores Murillo Aragão e Lucas Aragão, da Arko Advice, também participaram da reunião.
Questionado pela coluna, Maiurino admitiu que se encontrou com Bolsonaro naquela manhã. “Acompanhei a apresentação de um relatório sobre o cenário político e a segurança pública. Não houve discussão sobre depoimento nem sobre outras questões de natureza pessoal”, declarou. Ele não explicou por que o café da manhã foi omitido das agendas públicas da Presidência e da PF.
Naquele dia, Bolsonaro deveria se apresentar à Polícia Federal às 14h, para prestar esclarecimentos sobre o vazamento de uma investigação sigilosa sobre um ataque hacker às urnas eletrônicas. No dia 27 de janeiro, véspera do depoimento, o ministro Alexandre de Moraes havia ordenado que o presidente prestasse explicações na Superintendência da PF em Brasília. A corporação havia intimado o então presidente no mês anterior.
Faltando apenas onze minutos para o depoimento, a Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou recurso ao STF para que o então presidente não comparecesse. Assim, Bolsonaro ignorou a decisão do Supremo e não foi à corporação. O documento só chegou ao gabinete de Moraes às 14h08.
Bolsonaro entrou em contato com a PF apenas no dia seguinte, em 29 de janeiro, por escrito. Ele disse que exerceu o “direito de ausência” ao faltar ao depoimento.
Lucas Aragão, da Arko Advice, detalhou como foi a reunião do dia 28. “O Maiurino já estava lá quando chegamos. Eu o conheço há muitos anos, porque prestamos assessoria legislativa para a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF). Tenho impressão que o Maiurino sugeriu ao presidente que nos ouvisse”, afirmou.
“Não foi falado nada sobre o depoimento. Não fiz a conexão no dia nem depois. Foi uma reunião sobre política macro. O Maiurino falou pouco, assim como o próprio Bolsonaro”, disse. “Fomos convidados pela Presidência depois que leram relatórios de política e conjuntura que produzimos. Foi uma conversa sobre o que achávamos que iria acontecer na eleição e sobre como víamos as pesquisas. Demos nossa opinião sobre o cenário político, assim como fazemos com tantos outros agentes políticos.”
Aragão citou temas abordados na reunião. “Tratamos do impacto negativo de declarações do Bolsonaro no eleitorado feminino e do impacto negativo da gestão da pandemia. Bolsonaro também perguntou nossa opinião sobre as eleições estaduais, sobre o Tarcísio e o Zema serem favoritos”, afirmou. “Dissemos, à época, que o Lula era favorito na eleição. E isso foi recebido com um silêncio protocolar”.
Logo após a reunião com Maiurino, às 9h, Bolsonaro teve outro encontro omitido da agenda pública da Presidência. Ele se reuniu com o ministro da Justiça, Anderson Torres; o advogado-geral da União, Bruno Bianco; o ministro da Defesa, Walter Braga Netto; o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno; o secretário-geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos; o secretário de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha; o chefe de gabinete, Célio Faria; o assessor especial, Marcelo Câmara; e o ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni.