Confira todas as acusações do hacker contra Bolsonaro
Foto: Agência Câmara e AFP
Em depoimento à CPI do 8 de Janeiro nesta quinta-feira, o hacker Walter Delgatti Netto acusou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de organizar uma série de ações que atentam contra as instituições e o processo eleitoral. Na oitiva, ele afirmou ter recebido orientações de Bolsonaro para manipular urnas eletrônicas e para que assumisse a autoria de um suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Veja as acusações que implicam Bolsonaro, segundo Delgatti Netto.
Em reunião no dia 9 de agosto do ano passado, com integrantes da campanha de Bolsonaro, o marqueteiro do PL, Duda Lima, teria pedido que Delgatti fizesse uma versão adulterada do código-fonte das urnas. A ideia, diz o hacker, era fazer uma demonstração pública no 7 de Setembro, com uma urna emprestada do TSE, “provando” que era possível burlar o sistema ao apertar o número e aparecer outro na tela.
Participaram desse encontro, entre outros, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e a deputada Carla Zambelli (PL-SP). Bolsonaro teria endossado a ideia no dia seguinte, em 10 de agosto — primeira vez em que o ex-presidente esteve com o hacker no Alvorada —, e encaminhado Delgatti ao Ministério da Defesa. Em nota, Duda Lima negou ter participado de reunião com o hacker. Valdemar disse que encontrou Delgatti uma vez, mas negou interesse em contratá-lo.
Delgatti afirmou que em setembro de 2022, no segundo contato que teve com Bolsonaro, via telefone, intermediado por Zambelli, de um restaurante de São Paulo, o então presidente pediu que ele assumisse a autoria de um grampo que teria sido plantado contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Bolsonaro teria dito que o grampo fora feito por agentes de outro país, mas o hacker não sabe se a escuta clandestina aconteceu.
Em nota, Zambelli afirmou que o hacker apresenta “versões que mudam com os dias”. Fábio Wajngarten, advogado de Bolsonaro, publicou nas redes que “jamais houve grampo (…) contra qualquer ente político do Brasil por parte do entorno primário do Presidente”.
Na reunião que teve em 10 de agosto com Bolsonaro, Delgatti disse que o então presidente lhe prometeu um indulto caso ele tivesse problemas com a Justiça. Durante o telefonema no mês seguinte, teria assegurado: “Se alguém te prender, eu mando prender o juiz”.
O hacker disse que esteve cinco vezes no Ministério da Defesa, inclusive conversando com o então ministro Paulo Sérgio Nogueira, por recomendação de Bolsonaro. Representantes das Forças Armadas integravam a comissão de fiscalização eleitoral do TSE, destinada a checar a segurança do sistema, e a ideia era que Delgatti “explicasse aos técnicos” o que ambos haviam conversado sobre manipulação das urnas e orientar na confecção do relatório que seria entregue ao TSE sobre segurança do processo eleitoral.
No primeiro encontro, o hacker teria sido levado ao ministério por Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro. O ex-presidente afirmou que só esteve com Delgatti uma vez, que nunca falou com ele por telefone e negou que o hacker tenha ido cinco vezes ao Ministério da Defesa.
Um novo personagem foi levado para a trama golpista por Delgatti: o coronel Marcelo Jesus. Ele, diz o hacker, atuava no Alto Comando do Exército, além de fazer pedidos para que Delgatti autenticasse relatórios fraudulentos sobre o processo eleitoral, como um feito por um argentino e apresentado em uma live por Bolsonaro. O Exército não vai se manifestar.
Em seu depoimento, Delgatti disse que Zambelli pediu que ele invadisse sistemas internos do Judiciário a fim de mostrar sua vulnerabilidade. A deputada teria atribuído a solicitação ao ex-presidente. O hacker então manteve acesso à rede do Conselho Nacional de Justiça durante quatro meses e conseguiu inserir um mandado falso de prisão contra Moraes. À época, ele recebeu pagamentos de Zambelli que totalizaram R$ 40 mil.
Delgatti afirmou que no encontro de 9 de agosto com Duda Lima e Valdemar, o marqueteiro sugeriu que ele participasse de entrevista com a esquerda — grupo com o qual ele teria suposto prestígio após ter invadido celulares de integrantes da Lava-Jato — nas quais levantaria dúvidas sobre as urnas.