CPI distrital do DF convoca Anderson Torres
Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo
Sob pressão após a prisão de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres presta novo depoimento nesta quinta-feira. A presença dele é prevista, às 10h, na CPI dos Atos em andamento na Câmara Legislativa do Distrito Federal.
O objetivo do colegiado é apurar as responsabilidades sobre os ataques, mas, assim como ocorreu na CPI do Congresso, Torres será questionado também sobre a suspeita de atuação direcionada da PRF no segundo turno da eleição. Ele estava à frente do Ministério da Justiça na ocasião e, portanto, Vasques era seu subordinado.
Uma das principais evidências colhidas pela Polícia Federal na investigação que resultou na prisão de Vasques é um mapa que mostra os locais onde havia concentração de votos em Lula. O documento estava no celular da delegada Marília de Alencar, então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, e, segundo a apuração, foi apresentado a Torres em uma reunião no dia 17 de outubro, 13 dias antes do segundo turno.
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“Havia uma reunião agendada com o ministro para 11h. Sendo assim, como esta imagem foi capturada às 11h23min, há fortes indícios de que esta fotografia tenha sido realizada para esta reunião”, explica a PF na representação.
Dois dias depois, em 19 de outubro, a PF cita dois novos encontros em que a orientação de reforçar os bloqueios em estradas em áreas lulistas teria sido passada: uma reunião do Conselho Superior da PRF, com a presença de 47 policiais, e um encontro no gabinete de Torres. Sobre o encontro do colegiado, a PF extraiu posteriormente mensagens de WhatsApp que corroboram a existência de uma diretriz para favorecer Bolsonaro.
Um servidor da área de inteligência da PRF disse a um colega que a determinação de Vasques foi clara: “Foram as reuniões de gestão. Disse muita m… Policiamento direcionado”. Seu subordinado então questionou: “DG (o diretor-geral)?”. Ele confirmou: “Positivo.” Segundo a PF, a conversa fazia referência ao encontro de dez dias antes.
Já a reunião no gabinete é a principal frente da PF para expandir a investigação, de acordo com a colunista Malu Gaspar, do GLOBO. Investigadores tratam o encontro, que teve a participação de Torres, Vasques, além de outros representantes da PRF, Ministério da Justiça e PF, como uma possível evidência de que a atuação no segundo turno foi uma determinação do governo Bolsonaro, não uma decisão isolada da chefia da PRF.
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Este movimento também amplia a pressão sobre o ex-ministro. Torres tem afirmado que as informações que recebeu na ocasião eram de que a atuação da PRF seguia os trâmites normais. Em depoimento prestado na investigação, Vasques, por sua vez, atribuiu a uma operação do Ministério da Justiça, sob o comando de Torres, a razão para o número de abordagens ter sido maior no segundo turno.
Na terça-feira, ao depor na CPI do 8 de Janeiro do Congresso, Torres disse que a minuta golpista encontrada pela Polícia Federal durante uma operação em sua casa é “fantasiosa” e uma “aberração jurídica”. Ele afirmou que o documento era apócrifo, sem data e, por um descuido, segundo ele, não fora descartado.
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Torres foi ministro na gestão de Jair Bolsonaro (PL) e é investigado atualmente em inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente sabotar o esquema de proteção montado para evitar os ataques às sedes dos Três Poderes. Durante a invasão e depredação nos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Federal e do STF, ele estava nos Estados Unidos, sendo preso ao desembarcar no Brasil.
A relatora da CPI anunciou que vai pedir à comissão que seja feita uma acareação entre Torres e Leandro Almada, que hoje é superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro e na época do segundo turno da eleição presidencial era superintendente da PF na Bahia. O objetivo é ter mais informações sobre o bloqueio nas rodovias, que teriam o objetivo de prejudicar a locomoção de eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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Almada, que recebeu a visita do então ministro da Justiça na semana que antecedeu à eleição, afirmou em depoimento à PF que recebeu um pedido do então ministro da Justiça para reforçar o policiamento nas ruas em 30 de outubro. Torres, por sua vez, disse à CPI que foi à Bahia a convite do então diretor-geral da PF, Márcio Nunes, para visitar a superintendência da corporação, que passava por uma reforma.
– Almada diz que não foi apenas uma visita. Anderson Torres afirma nesta comissão que isso não é verdade. Estou protocolando uma acareação entre os dois para que a gente possa dirimir esses fatos e portanto trazer ao conhecimento da comissão o que realmente ocorreu – declarou Eliziane.