CPMI convoca repórter fotográfico atacado por bolsonaristas

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Foto: Reprodução

A agência de notícias britânica Reuters divulgou nota após a convocação do fotógrafo Adriano Machado para prestar depoimento na CPI do 8 de Janeiro. A agência disse estar ciente da convocação pela comissão e afirmou que apoia a cobertura do profissional, “que foi imparcial e de interesse público”. O requerimento foi aprovado nesta quinta-feira pelos parlamentares da comissão, em bloco, junto com os pedidos que incluíam o hacker Walter Delgatti, e gerou embate na sessão.

Segundo a Reuters, o fotojornalista “que cobriu o tumulto no Palácio do Planalto, em Brasília, naquele dia, passou a manhã acompanhando um protesto pacífico”. “Posteriormente”, prossegue o texto, “ele testemunhou um grande grupo de manifestantes subindo a rampa principal do palácio e os seguiu para documentar os eventos à medida que eles se desenrolavam”.

O fotojornalista foi alvo de uma campanha de desinformação por parte de bolsonaristas, que disseminaram que ele teria participado da invasão do 8 de janeiro. Para os apoiadores do ex-presidente, Machado e outros profissionais da imprensa já estariam no Planalto antes da depredação para registrar imagens que culpassem os envolvidos.

Além da convocação de Adriano Machado e Walter Delgatti, também foram convocados pela CPI a soldado Marcela Pinno, que chegou a ser jogada de uma altura de três metros durante os ataques; Cíntia Queiroz, coronel da Polícia Militar do Distrito Federal e ex-subsecretária de Operações da Secretaria de Segurança Pública do DF; sargento Luís Marcos dos Reis, antigo supervisor a Ajudância de Ordens da Presidência da República.

A presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Kátia Brembatti, afirmou que há uma tentativa de criminalizar a atuação do fotojornalista, creditando a ele uma conivência com os atos de vandalismo.

— Não é papel do fotógrafo repreender os invasores, mas registrar os fatos. O deputado Eduardo Bolsonaro chega a incutir intenção política ao profissional, afirmando que o fotojornalista publica em suas redes fotos do presidente Lula, tendo coberto sua posse — disse ela ao GLOBO.

Em nota conjunta, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) afirmaram que a ação representa um “constrangimento aos profissionais de imprensa”.

“A convocação – caso realmente seja concretizada – deve ser entendida como uma tentativa de intimidar e constranger não apenas Machado, mas também todos os demais repórteres – fotográficos ou não – que deveriam receber dos políticos e governantes garantias para o pleno exercício profissional. Se concretizada, será um grave precedente contra a livre atuação dos profissionais. Em especial os de imagem”, diz a nota.

A Associação de Repórteres e Fotógrafos do Estado de São Paulo (Arfoc-SP), por sua vez, repudiou a convocação. “A atuação dos fotógrafos e jornalistas é vital para a sociedade, uma vez que eles desempenham um papel crucial ao documentar acontecimentos de interesse público, permitindo que o cidadão tenha acesso a informações confiáveis e fundamentais para a formação de opinião. Qualquer medida que possa minar essa função essencial é prejudicial à nossa sociedade como um todo”.

O profissional, que registrava os atos de vandalismo, é acusado pela oposição de combinar fotos com os extremistas durante a depredação da Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro. A inclusão do nome de Machado na pauta aconteceu debaixo de protestos da base do governo. A convocação dele foi pedida pelos deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Ramagem (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG), Marco Feliciano (PL-SP) e senadores Izalci Lucas (PSDB-DF), Marcos do Val (Podemos-ES), Eduardo Girão (Novo-CE) e Magno Malta (PL-ES).

—Não há acordo sobre a convocação de um representante da imprensa, até diante do seu próprio sigilo profissional — afirmou o deputado Rubens Pereira Jr (PT-MA).

Ele pedia que o requerimento não fosse incluído na pauta, mas não teve êxito no seu pedido. A justificativa do pedido afirma que “afigura-se imprescindível colher o testemunho de pessoas que acompanharam in loco toda a movimentação ocorrida no dia 8 de janeiro, como é o caso da testemunha”.

— Eu assumo isso com toda tranquilidade. Eu tenho a noção de que todos nós parlamentares, vocês jornalistas, têm que ter seu direito preservado. Não estou dizendo que ele cometeu delito, mas obviamente ele é testemunha — disse o presidente da comissão, Arthur Maia (União-BA).

O Globo