Gleisi e chefe da PF acusam Exército de mentir
Foto: Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados
Presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) e nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a deputada Gleisi Hoffmann (PR) reagiu às conclusões do inquérito militar conduzido pelo Exército que apontou “indícios de responsabilidade” da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial, órgão sob o guarda-chuva do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), pelos ataques de 8 de janeiro. Horas após a divulgação de trechos do documento, publicados pela “Folha de S.Paulo”, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que houve “negligência de várias entidades, de vários órgãos públicos” na ocasião.
Gleisi criticou a investigação militar, disse que o Exército “tenta acusar” o governo Lula e que o “negacionismo vestiu farda”.
“Dizem que faltou ‘planejamento’ para evitar os atentados, com oito dias de governo. Mas nada falam sobre os acampamentos em Brasília, desde o fim das eleições, de onde partiram os terroristas. Também foi falta de planejamento, ou contrário? O negacionismo vestiu farda para encobrir suas próprias responsabilidades”, escreveu Gleisi em suas redes sociais.
Segundo o jornal, o inquérito que tinha como objetivo apurar a conduta dos militares que deveriam ter protegido o Planalto aponta que um planejamento “adequado” por parte do governo Lula poderia ter evitado ou minimizado os estragos causados pelos atos de 8 de janeiro.
“Desta forma, é possível concluir que, sendo realizado um planejamento das ações de segurança adequado, com o acionamento de valor de tropa suficiente, a execução das ações de segurança por parte das tropas do CMP (Comando Militar do Planalto) teria melhores condições de êxito”, aponta o texto, como reportou o jornal. O inquérito foi conduzido pelo coronel Roberto Jullian da Silva Graça, atual chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Planalto.
A Polícia Federal conduz um inquérito próprio para investigar responsabilidades e omissões de autoridades naquela data. A investigação tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes. Nesta segunda-feira, o diretor-geral da corporação, Andrei Rodrigues, criticou o tratamento dispensado aos acampamentos de apoiadores de Jair Bolsonaro em frente a quartéis do Exército, após a derrota do ex-presidente no segundo turno das eleições do ano passado. Rodrigues alertou sobre a necessidade de conter aquelas pessoas e disse que não precisava ser “vidente” para concluir que o grupo avançaria para a Praça dos Três Poderes.
— Era um acampamento de criminosos, que reunia pessoas que estavam tramando um golpe de Estado. O que houve foi uma negligência de várias entidades, de vários órgãos públicos. (…) Verbalizei e inclusive formalizei isso num ofício, dizendo que aquelas pessoas precisavam ser contidas no acampamento, caso contrário, elas iriam invadir o Congresso, o STF e o Palácio do Planalto. Não sou vidente, só estava vendo as coisas — declarou o chefe da PF em evento sobre os dez anos da Lei Anticorrupção organizado pela Transparência Internacional em parceria com o Insper, em São Paulo.
Rodrigues disse que seu ofício foi enviado ao ministro da Justiça, Flávio Dino, e que também fez alertas em reunião na Secretaria de Segurança do Distrito Federal no dia 7 de janeiro. Em entrevista ao GLOBO publicada em 9 de julho, o chefe da PF havia criticado a atuação da Polícia Militar do DF na invasão ao Congresso, Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF).
— Aquilo ali para mim mostrou que deliberadamente havia o interesse que o caos fosse instaurado e acontecesse o que aconteceu — disse.
Alçado ao comando da PF após ter chefiado a segurança do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha, Rodrigues afirmou ontem que novas ações ainda serão realizadas pela corporação mirando participantes dos ataques às sedes dos três Poderes.