Ministério de Lula vai se dividir na eleição de 2024

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Foto: Reprodução

A frente ampla de nove partidos formada para dar governabilidade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tende a protagonizar embates e criar problemas para o Palácio do Planalto nas eleições do ano que vem. O heterogêneo matiz ideológico do governo deve colocar ministros em palanques opostos nos pleitos municipais de capitais como São Paulo, São Luís e Fortaleza.

A coalizão de Lula está prestes a se diversificar ainda mais com a iminente entrada do Republicanos e do PP, que compunham a base do governo Jair Bolsonaro e agora negociam espaço na Esplanada. Além do PT, hoje chefiam ministérios as siglas: PSB, PCdoB, PSOL, PDT, Rede, União Brasil, MDB e PSD.

A cidade de São Paulo é o caso mais emblemático do complexo xadrez eleitoral. As pré-candidaturas dos deputados federais Guilherme Boulos (PSOL), encaminhada com apoio oficial dos petistas, e Tabata Amaral (PSB), além do atual prefeito emedebista Ricardo Nunes, devem atrair personagens de peso do governo federal para a campanha paulistana.

Além de Lula, Boulos deve ter no palanque o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, uma vez que sua esposa Ana Estela Haddad, secretária de Saúde Digital no Ministério da Saúde, é cotada como vice na chapa. Outros ministros como o das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT); do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT); e do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), cujo partido compõe uma federação partidária com o PSOL, também são presença esperada.

Já Tabata deve contar com os correligionários Geraldo Alckmin, o vice-presidente, e Márcio França, ministro dos Portos e Aeroportos, cujo a esposa, Lúcia França, é quem mais tem se engajado no projeto de Tabata. Candidata a vice-governadora na chapa com Haddad na eleição de 2022, agora ela deve estar em palanque separado do aliado.

— Estou 100% envolvida na campanha da Tabata. Além de preparada e competente, ela representa como ninguém a potência da periferia — diz Lúcia.

Já a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), promete caminhar ao lado do prefeito Ricardo Nunes, seu colega de partido, embora ele tenha se aproximado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem Simone é crítica ferrenha.

Ainda que não apresentem a mesma complexidade, outras capitais podem ter disputas entre integrantes do primeiro escalão. Em Fortaleza, o ex-governador e ministro da Educação, Camilo Santana (PT), subirá no palanque do próprio partido — cujo nome ainda não foi escolhido — para tentar impedir a reeleição do prefeito José Sarto (PDT). O pedetista tem apoio do ministro da Previdência, Carlos Lupi, presidente nacional licenciado da sigla.

Lupi e o PT, no entanto, devem estar juntos em outras cidades, como o Rio de Janeiro. O partido ocupa a Secretaria de Trabalho e Renda do prefeito Eduardo Paes (PSD), que costura o apoio dos petistas. No caso da capital fluminense, a maior disputa é dentro do próprio PT, onde caciques têm entrado em rota de colisão para emplacar a vice na chapa à reeleição de Paes em 2024.

Adversários políticos na capital maranhense, os ministros da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), e das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), caminham para um embate na eleição. O titular da Justiça e Segurança Pública deve apoiar o deputado federal Duarte Jr (PSB), cuja pré-candidatura foi referendada pelo presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira, e deve ter o PT na vice. Juscelino, por sua vez, trabalhará novamente pelo deputado estadual Neto Evangelista, que disputou a prefeitura de São Luís em 2020 já com forte participação do atual ministro das Comunicações.

O deputado federal André Fufuca (MA), que deve assumir em breve uma pasta no governo Lula, também pode se somar a essa lista. Seu partido, o PP, ainda avalia a estratégia para eleição de São Luís. No último pleito, a legenda apoiou um candidato do PCdoB que não foi para o segundo turno.

Em Belém, reduto dos ministros do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), e das Cidades, Jader Filho (MDB), o cenário ainda é embrionário, sobretudo porque o governador emedebista Helder Barbalho está com as atenções voltadas para a COP 30, Conferência do Clima da ONU que ocorrerá na cidade em 2025. Segundo seus interlocutores, Helder deve protelar a discussão eleitoral para não causar um racha nos partidos da base. E Jader Filho, seu irmão, está focado na execução do programa Minha Casa, Minha Vida.

O candidato natural dos dois seria o atual prefeito, Edmilson Rodrigues (PSOL), que se elegeu em 2020 com o apoio dos irmãos no segundo turno. Porém, o psolista não bateu o martelo sobre a reeleição. E há outro agravante: ele tem enfrentado resistência dentro da base do governador, que alega uma rejeição alta ao seu mandato na cidade.

Ao mesmo tempo, aliados de Sabino começaram a alimentar a possibilidade de o próprio ministro ser candidato na capital paraense.

— Com a ascensão do Sabino no Ministério do Turismo, ele passa a ser uma peça importante do jogo político de Belém. Mas uma candidatura depende de uma conjunção partidária, já que fazemos parte da base do Helder — afirma Eliel Faustino, líder do União na Assembleia Legislativa do Pará.

Estado natal de parte considerável da Esplanada (três ministros e um indicado), Pernambuco ruma para o caminho oposto: um candidato contar com o apoio de diferentes auxiliares diretos de Lula. O prefeito de Recife, João Campos (PSB), que pretende disputar a reeleição, soma em seu arco de alianças o PCdoB, cuja presidente nacional é a ex-vice-governadora e ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, e tem como secretária de Turismo Cacau de Paula, filha do ministro André de Paula (Pesca e Aquicultura).

O deputado federal Silvio Costa Filho, indicado pelo Republicanos para um ministério, também deve ficar no palanque de João Campos. Seu pai é suplente da senadora Teresa Leitão (PT) e apoiador de Lula.

Único representante da Bahia no primeiro escalão, o chefe da Casa Civil, Rui Costa, tem usado o peso do cargo para influenciar na escolha do candidato à prefeitura de Salvador. O ex-governador trabalha pelo nome do presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder), José Trindade (PSB), enquanto o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) corre por fora.

Maceió, por fim, ainda que não tenha embate direto entre ministros, promete ser palco de pesos pesados. Lula deve apoiar um nome ligado ao ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB). Ele e seu pai, o senador Renan Calheiros (MDB), são adversários políticos do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP). A eleição para o governo de Alagoas, no ano passado, vencida pelo nome ligado à família Calheiros, Paulo Dantas (MDB), já havia antagonizado Lula e Lira em 2022 — e agora a capital pode virar uma saia justa para ambos.

O Globo