
Moraes não entrega segredos de Bolsonaro à CPMI
Foto: Marcos Correa/ Divulgação
A CPMI de 8 de Janeiro ainda parece longe de pegar as provas que possam ligar definitivamente o ex-presidente Jair Bolsonaro aos atos extremistas que culminaram com a invasão e destruição de prédios públicos em Brasília. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, até poderia contribuir, mas ainda prefere tocar sozinho as investigações sobre os ataques às sedes dos Três Poderes.
Moraes tem em mãos o conteúdo de arquivos que estavam nos celulares do ex-presidente. A CPMI já aprovou dois requerimentos pedindo ao STF que compartilhe os dados. A resposta foi na linha do “por enquanto não”. Em ofício enviado à comissão parlamentar, a presidente do Supremo, ministra Rosa Weber, explicou que a informação faz parte de uma investigação que está em curso e ainda não é o momento de repassá-la ao Legislativo.
Até aqui, o ex-chefe do Executivo vem sendo uma espécie de alvo lateral da investigação. Seu nome está entre os mais citados nas reuniões até o momento. Uma conta rápida indica que a palavra Bolsonaro apareceu 763 vezes em reuniões da CPMI, já descontadas as menções aos dois filhos que vez ou outra aparecem na comissão (Flávio, o senador, e Eduardo, o deputado).
O que para os bolsonaristas seria uma aparente obsessão dos governistas em relação ao ex-presidente, na verdade, pode ser entendido como fruto dos atos que o próprio Bolsonaro semeou. Se consumiu horas em lives e discursos lançando ao vento palavras com cheiro de golpe, nada fez em relação aos acampamentos de gente que pedia intervenção militar sob sua coordenação na porta de quartéis do Exército e silenciou sobre a legitimidade do resultado das urnas, o ex-capitão é alvo pelo que disse, fez ou deixou de fazer.
Com os petistas entronados no poder, a CPMI criada para investigar os atos de 8 de janeiro é o instrumento político para o acerto de contas com o político que chegou a dizer que ou vencia, morria ou ia preso.
Em junho, o ministro Alexandre de Moraes retirou o sigilo do laudo produzido pela PF sobre o que foi encontrado no celular de Mauro Cid, o mais próximo ajudante de ordens de Bolsonaro. Ali havia conversas de gente cobrando que o coronel assegurasse que o então presidente desse “a ordem” para as Forças Armadas assumirem o comando da política, impedindo a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Se o celular de Bolsonaro também é pródigo em indícios de golpismo, por enquanto, é um segredo cuja chave só Moraes tem.