Nordeste terá todos os governadores lulistas
Foto: Ricardo Stuckert
De olho em uma aproximação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), avalia migrar para o PSD, sigla que controla três ministérios do governo federal. O movimento consolidaria uma aliança de todos os governadores da região Nordeste ao titular do Palácio do Planalto, feito incomum nas gestões anteriores do PT. A tucana, que já deu sinais de afastamento da cúpula de seu partido, costurou na última semana o embarque do PSD em sua gestão estadual. A articulação foi feita com o ministro da Pesca, André de Paula. A legenda ocupa ainda as pastas da Agricultura e a de Minas e Energia.
Ex-deputado, Paula foi candidato ao Senado pelo PSD em Pernambuco no ano passado. Embora emissários de Lyra e Paula declarem que uma filiação da governadora não está pautada por ora, a entrada do PSD no secretariado em Pernambuco é tida como primeiro passo para este movimento. A filha do ministro, Cacau de Paula, assumiu a secretaria estadual de Turismo. Antes, ela ocupava posto equivalente na gestão do prefeito do Recife, João Campos (PSB), aliado de Lula.
O ministro da Pesca, que participou da cerimônia de posse da filha na pasta, afirmou ao GLOBO que “passa a haver um caminho” para a eventual filiação de Lyra ao PSD”, mas ponderou que a decisão é de Raquel.
— Estar em um partido de oposição, considerando o quão Lula é querido no Nordeste, é um fator a ser considerado. Ela ir para o PSD pode ser conveniente, do ponto de vista político, para os dois lados — afirmou o ministro.
Dos nove estados da região Nordeste, apenas Pernambuco elegeu no ano passado para o Executivo estadual um nome que não era alinhado a Lula. A possível ida de Lyra para o PSD, presidido em Pernambuco pelo ministro André de Paula, ensaia um alinhamento do Nordeste à gestão petista que só foi registrado no início do segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), em 2014.
Na época, Dilma foi reeleita com apoio de todos os governadores da região; a aliança, contudo, sofreu uma baixa em 2016, quando o então governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria, seguiu a posição do seu partido — o mesmo PSD — e passou a apoiar o impeachment da presidente.
Ao chegar à Presidência em 2002, Lula encontrou um cenário distinto no Nordeste, onde PSDB e PFL, então os principais partidos de oposição ao PT, governavam quatro estados. Reeleito em 2006 já com votação forte na região, o petista ainda teve de lidar com um opositor em Alagoas, onde o tucano Teotônio Vilela derrotou um aliado de Lula naquele ano. Vilela se reelegeu em 2010.
Lyra faltou na quinta-feira a uma reunião em Brasília organizada pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, presidente nacional do PSDB. Embora a governadora tenha cumprido agenda na capital federal na mesma semana, ela retornou ao estado na quarta alegando compromissos agendados. A reunião marcou um “relançamento” do programa partidário do PSDB, buscando marcar posição distinta à do governo Lula. Leite mira um projeto presidencial em 2026 que seja um contraponto ao PT e também ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Interlocutores de Lyra afirmam que a relação com Leite é boa e que a governadora, apesar da ausência no evento, gravou um vídeo para ser exibido no encontro tucano. Há, contudo, entre aliados dela a avaliação de que é importante evitar desgastes com o governo federal e que a postura de Leite nem sempre colabora com isto. O gaúcho também fez um gesto mal recebido por aliados de Lyra, ao ensaiar uma defesa do governador de Minas, Romeu Zema (Novo), que comparou estados do Nordeste a “vaquinhas que produzem pouco”. Na ocasião, Leite sugeriu que Zema havia se expressado mal, mas não criticou o discurso do colega.