Oposição quer levar CPI do MST até porta do ano eleitoral
Foto: Jorge William / Agência O Globo
Membros da CPI do MST se articulam para conseguir a ampliação do tempo de trabalho do colegiado por 60 dias. Inicialmente prevista para durar 120 dias, a CPI deveria terminar em setembro. Entretanto, de acordo com seu presidente, o deputado Coronel Zucco (Republicanos-RS), os primeiros pedidos de informação feitos por meio de requerimentos começaram a chegar recentemente. Diante do recesso parlamentar de duas semanas e de interrupções para os festejos de São João e para as negociações da Reforma Tributária, os trabalhos também ficaram paralisados por aproximadamente um mês.
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Por isso, Zucco e o relator da CPI, Ricardo Salles (PL-SP), pedirão a prorrogação do prazo por 60 dias ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PL-AL), nesta semana. Antes disso, Zucco pretende realizar uma espécie de “votação simbólica” no plenário da CPI, perguntando aos parlamentares se eles desejam seguir com as apurações que tentam mostrar o envolvimento de governistas com invasões ilegais de terras por membros do MST neste ano. Embora apenas a canetada de Lira seja necessária, o tema será submetido ao colegiado, como forma de mostrar que este é um interesse coletivo. Com a maioria das cadeiras da CPI ocupada por opositores, a prorrogação não deve enfrentar dificuldades para ser aprovada.
A CPI do MST se prepara para semanas intensas: na próxima quinta-feira, 10, o colegiado receberá o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. Já o líder do MST, João Pedro Stédile, será interrogado no dia 15. Os dois irão como convidados. A CPI, entretanto, ainda tenta alinhar uma data para ouvir o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, até o final do mês.
Pouca produtividade, muita briga
As sessões da CPI do MST têm sido marcadas por brigas entre os seus membros e poucas revelações quanto à atuação do Movimento Sem Terra. Na última quinta, por exeplo, Zucco perguntou à deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) se ela queria “um remédio ou um hambúrguer para se acalmar”, durante reunião do colegiado. Na ocasião, o líder da Frente Nacional de Lutas (FNL), José Rainha, que presta depoimento na manhã desta quinta-feira, reconhecia que “tem relações políticas e fraternas” com ela. Sâmia fez o uso da palavra com o microfone desligado, fora do seu momento de fala, e ouviu este questionamento de Zucco. As demais deputadas o acusaram de machismo e gordofobia e fizeram falas em repúdio.
Sâmia afirmou que denunciará o caso à Procuradoria Geral da República (PGR), por aquilo que entende ser uma “violência política de gênero”. De acordo com ela, a ironia do presidente do colegiado é repetida frequentemente por homens nos corredores da Casa, nas redes sociais, e também em sessões da CPI do MST. Zucco pediu para que a própria fala fosse retirada das notas taquigráficas e lembrou ataques anteriores de Sâmia. Após a fala, o chat de transmissão da CPI no canal da Câmara do Youtube passou a receber mensagens com o Emoji de um hamburguer.
— Eu já tinha visto esse tipo de ironia nas redes sociais, por parte do relator da CPI, Ricardo Salles, mas nunca vindo do Zucco. Ele já havia me silenciado, cortado meu microfone, mas nunca agido desta forma tão truculenta, publicamente. Eu denuncio e seguirei denunciando sempre que houver violência política de gênero — afirmou Sâmia.
— Pedirei que a Procuradoria-Geral da República (PGR) anexe o caso de hoje à investigação já em curso contra o Zucco por violência política de gênero contra mim. Eu procuro responder à altura, acho que é pedagógico para que as demais mulheres não baixem a cabeça. Não vou retroceder.