Por que confiar em Cristiano Zanin Martins
Foto: Portal voce
Eduardo Guimarães
Não existe um só ministro do STF — além dos “vinte por cento” de Bolsonaro, Nunes Marques e André Mendonça, que sempre votam como ele quer — que nunca frustrou quem o indicou. Mas para medir o perfil de integrantes daquela Corte é preciso tempo.
Zanin acaba de passar por uma dura sabatina no Senado. Foi perguntado pelos senadores bolsonaristas, insistentemente, sobre sua posição em relação ao Marco Temporal para a demarcação de terras indígenas. Devido à inevitabilidade de contrariá-los muito em breve, desconversou.
Nas cinco tentativas da bancada senatorial conservadora de saber como ele votaria nesse quesito, evitou responder. Desconversou porque, nesse caso, não há como votar de forma palatável a essa gente.
Zanin foi sabatinado durante umas sete horas na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e tinha a missão de evitar uma rejeição que seria mais do que possível devido à maioria da direita nas duas casas do Congresso. Agora, tem que começar pelas beiradas.
Só quem queria esmiuçar a alma de Zanin eram os senadores ligados a Bolsonaro. Os progressistas não tinham muito o que perguntar porque sabiam que Lula não indicaria um títere, mas um jurista de alto calibre.
Para ser aprovado, Zanin deixou claro que é católico, casado desde 2004 com a advogada Valeska Teixeira Zanin Martins, com quem teve três filhos. Como católico, não é favorável ao aborto. Todavia, pode-se ter certeza de que, diante de fatos técnicos que indiquem ser possível e necessário votar a favor, não se furtará.
Agirá assim nessa e em qualquer outra questão. Seus primeiros votos no STF, que a tantos desagradaram, devem-se ao fato de que a técnica lhe impôs tais votos. Há quem diga, no próprio STF, que a postura de Zanin é defensável, ainda que divirjam dele…
Como eu.
Conheci Cristiano Zanin Martins pessoalmente há quase seis anos, em 13 de setembro de 2017, quando a esquerda baixou em peso em Curitiba para apoiar Lula durante o primeiro interrogatório presencial comandado pelo então juiz Sérgio Moro. Ficamos no mesmo hotel.
Durante o desjejum, no dia do depoimento, sentei-me com ele e a doutora Valeska e conversamos por cerca de 30 minutos. A simplicidade, a sinceridade e a segurança do casal de juristas me tranquilizou. E até hoje sigo tranquilo.
Zanin precisa de tempo. Não o julguemos por dois ou três votos. No caso do Marco Temporal, não frustrará as expectativas. Não para agradar a militância, mas para cumprir seu dever. Por isso o aval de Lula a ele permanece. Bem como o deste que escreve.
Redação