PP e Republicanos tiram bolsonaristas da CPI do MST
Foto: Fotos de arquivo O Globo
Em meio às negociações para a entrada do Centrão no governo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anulou ontem a convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, à Comissão Parlamentar de Inquérito que apura a atuação do MST. A medida foi tomada horas antes do previsto para o início do depoimento. Em outra frente de ação, partidos como Republicanos, que também negocia ministérios com o Palácio do Planalto, decidiram desligar da comissão deputados alinhados ao bolsonarismo. Diante dos dois movimentos, a cúpula da CPI desistiu de pedir a prorrogação de seus trabalhos por mais 60 dias.
A blindagem de Lira a Rui Costa começou a ser tratada na terça-feira, durante visita do ministro à Residência Oficial da presidência da Câmara. O encontro, do qual também participou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, foi marcado para que o novo PAC fosse apresentado ao deputado, mas os governistas aproveitaram a ocasião para falar da convocação de Costa pela CPI.
Na decisão que impediu o depoimento, Lira afirmou que “não se demonstrou no requerimento a conexão entre as atribuições do Ministro da Casa Civil da Presidência da República e os fatos investigados pela CPI sobre o MST”. A medida foi tomada a partir de uma reclamação apresentada pelo deputado governista Nilto Tatto (PT-SP).
Já o movimento para mudar a composição da colegiado que mira o MST começou com o líder do Republicanos na Câmara, Hugo Motta (PB). Na terça-feira, ele formalizou o desligamento de dois bolsonaristas: o titular Messias Donato (ES) e o suplente Diego Garcia (PR). Ainda não há substitutos para eles, e a CPI funcionará com dois membros a menos em seus quadros.
Os dois parlamentares tinham uma postura de oposição desde o início dos trabalhos. Procurado pelo GLOBO, Donato defendeu o agronegócio e criticou o MST:
— Durante toda minha participação me posicionei em favor do produtor rural brasileiro e contra todos os ataques realizados pelo MST a quem produz. Tenho votado contra o PT, porque o atual governo não me representa em suas ações — disse o deputado.
Na semana passada, no depoimento do general Gonçalves Dias, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Lula, Donato gerou constrangimento. Junto com Éder Mauro (PL-PA), levou e comeu melancia para provocar GDias, como é conhecido. Por ser “verde por fora e vermelha por dentro”, a fruta costuma ser usada para se apontar militares que seriam de esquerda, em referência às cores da farda do Exército e da bandeira da antiga União Soviética. Na ocasião, também questionou GDias sobre as imagens do dia 8 de janeiro em que aparece passivamente ao lado dos manifestantes no Planalto.
A assessoria de Garcia afirmou que o deputado foi “pego de surpresa” pela remoção e informou que o parlamentar articula com o Republicanos para retomar seu posto de suplente.
O PP, que deve emplacar o deputado André Fufuca (MA) em um ministério até o fim deste mês, trocou opositores ao governo por nomes mais moderados, assim como o Patriota e União Brasil.
O União, por determinação do líder, Elmar Nascimento (BA), substituiu os deputados Alfredo Gaspar (AL) e Nicoletti (RR) por Carlos Henrique Gaguim (TO) e Damião Feliciano (PB). Já PP e Patriota pediram de volta ao PL as vagas que haviam cedido a Coronel Meira (PL-PE) e a Magda Mofatto (PL-GO) num acordo costurado entre os líderes das siglas com a bancada ruralista. Os dois deputados integram a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). No lugar deles, entram Átila Lira (PP-PI) e Marreca Filho (Patriota-MA).
O Palácio do Planalto também atuou para promover a dança das cadeiras e enfraquecer a comissão. O objetivo é evitar outras convocações de ministros e, paralelamente, blindar o MST, movimento historicamente alinhado ao PT. Lira, no entanto, passou a ser pressionado pela FPA para devolver os deputados aos postos. A expectativa dos ruralistas é de que eles voltem, para que a bancada não faça retaliações.
Na nova composição, dos 26 titulares do colegiado, o governo tem o apoio de metade, com possibilidade de conseguir maioria. O cenário atual se contrapõe ao do início da CPI, quando a oposição estava em maior número.
Ontem, o relator da CPI do MST, Ricardo Salles (PL-SP), afirmou que o colegiado não pedirá mais a prorrogação dos seus trabalhos. Ele definiu a decisão de Lira como “um péssimo precedente” e mencionou a manobra do Republicanos.
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— Diante dessas manobras regimentais e a clara mobilização de partidos que estão negociando espaços no governo, não há motivos para ampliar o prazo. A migração desses partidos para o governo já deixa isto claro. É um péssimo precedente — disse Salles, que foi o autor do requerimento para a convocação de Rui Costa.
Nem mesmo o presidente da CPI, Coronel Zucco (RS), que é do Republicanos, foi avisado sobre as mudanças:
— Para minha surpresa, deputados foram retirados desta sessão. Espero que ainda consigamos constituir uma maioria no colegiado. Pretendemos avançar com as investigações com o tempo que nos resta.