Presidente da CPMI blinda Bolsonaro e ex-ministro da Defesa
Foto: Bruno Spada / Câmara dos Deputados
Um dia depois de cancelar reunião deliberativa por falta de acordo entre governo e oposição, o presidente da CPMI do 8 de janeiro, Arthur Maia (União-BA), divulgou pauta a ser votada nesta quinta-feira (23) sem inclusão de requerimentos relativos a movimentações financeiras do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Também não foram incluídos pedidos para retenção de passaportes do casal.
Na pauta, entre outros pontos, constam requerimento da senadora Eliziane Gama para quebra de sigilos telemático e transferência de Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) da deputada Carla Zambelli (PL-SP). O presidente também pautou pedido da relatora para reconvocar o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Chamou a atenção de governistas da comissão a não inclusão de pedidos de convocação do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e da quebra de sigilo do general Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid. Também não foi pautada a quebra de sigilos do presidente do PL, Waldemar da Costa Neto.
Na terça-feira (22), o presidente havia explicado que não poderia abrir a sessão por falta de acordo. Ele chegou a dizer que causava constrangimento a aprovação de requerimentos apenas protocolados pela base governista.
“Não foi possível chegar a uma conciliação porque há um clima muito acirrado”, declarou Maia. “Não tendo acordo, não há como se votar nada”, complementou. O parlamentar chegou a adiar duas vezes o início da sessão para tentar um consenso.
Durante reunião fechada no gabinete da liderança do PDT, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e o deputado Marco Feliciano (PL) tiveram uma discussão áspera. O pivô do bate-boca foi o requerimento para quebra de sigilo fiscal e telemático de Zambelli.
Pelas redes sociais, Feliciano afirmou que a relatora havia “levantado a voz e apontado o dedo” para ele. A senadora rebateu o parlamentar. “O diabo é pai da mentira e a verdade liberta. Assuma seus atos e diga a todos que quem partiu para cima de uma mulher foi o senhor.”
Carla Zambelli é apontada por Walter Delgatti, o hacker da Vaza-Jato, como intermediadora do encontro no ano passado entre ele e Bolsonaro. Zambelli teria pago, de acordo com o hacker, R$ 40 mil para que ele invadisse sistemas de Justiça.
Na CPMI, Delgatti afirmou que Bolsonaro pediu para ele forjar a invasão de urnas eletrônicas com objetivo de desestabilizar o sistema eleitoral e ainda assumir, com a promessa de um indulto, a autoria de um suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Delgatti revelou também que, após encontro com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, participou de cinco reuniões no Ministério da Defesa por ordem do ex-presidente. Uma delas teria sido com o ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira. De acordo com o hacker, o relatório das Forças Armadas com questionamentos à lisura das urnas eletrônicas encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral foi feito com base em suas informações.
O general Lourena Cid é apontado pela Polícia Federal como integrante do esquema de venda de joias recebidas por Bolsonaro no exterior em viagens oficiais. O militar, segundo informações, teria emprestado uma conta bancária para receber o dinheiro obtido com a venda de um relógio da marca Rolex.
O general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), deve prestar depoimento na CPMI do 8 de janeiro no dia 31 de agosto. O general, demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após revelação de imagens em que aparece em postura passiva ao lado dos vândalos no dia dos ataques golpistas, é o principal alvo de oposicionistas do colegiado.