Zambelli corre risco de ser presa

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Foto: EVARISTO SA / AFP

O hacker Walter Delgatti Netto disse em depoimento à Polícia Federal que a deputada Carla Zambelli (PL-SP) o contratou para invadir as contas de e-mail e o telefone do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nesta quarta-feira, Zambelli foi alvo de mandados de busca e apreensão em seu apartamento e gabinete, em Brasília, e Delgatti foi preso, em São Paulo.

Em depoimento, o hacker contou que a deputada fez o pedido em um encontro na Rodovia dos Bandeirantes, na capital paulista, em setembro de 2022. À PF, ele disse que só conseguiu acessar o e-mail de Moraes, mas não encontrou nada de comprometedor, e que não obteve êxito ao tentar acessar o celular do magistrado.

Delgatti também alegou ter tentado invadir o sistema de segurança das urnas eletrônicas, mas também sem sucesso.

Zambelli, que chegou a levar o hacker a reuniões em Brasília, afirmou a interlocutores que sua intenção era discutir a possibilidade de ele integrar uma equipe de consultores contratados para fiscalizar as urnas eletrônicas. A parlamentar levou Delgatti a um encontro com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, na sede do partido, e outro com o então presidente Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada.

O advogado Ariovaldo Moreira, que representa Walter Delgatti Neto, confirmou a prisão do hacker em Araraquara, no interior de São Paulo. O GLOBO ainda não conseguiu contato com Carla Zambelli.

Preso em 2019 na Operação Spoofing, Delgatti foi o responsável por invadir o Telegram e copiar diálogos de integrantes da Operação Lava-Jato. O plano de Zambelli era que ele fosse contratado como um especialista em ataques cibernéticos pelo Instituto Voto Legal, indicado pelo PL ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para auditar as eleições em outubro — a instituição ainda aguarda o credenciamento da Corte.

De acordo com a PF, Operação 3FA realizada nesta manhã tem o objetivo de esclarecer a atuação de indivíduos na invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP). Estão sendo cumpridos dois mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva no estado de São Paulo e três mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, além de análise do material apreendido.

As ações ocorrem no escopo de inquérito policial instaurado para apurar a invasão ao sistema do CNJ, que tramitou perante a Justiça Federal, mas teve declínio de competência para o Supremo Tribunal Federal em razão do surgimento de indícios de possível envolvimento de pessoa com prerrogativa de foro.

Os crimes apurados ocorreram entre os dias 4 e 6 de janeiro de 2023, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ e, possivelmente, de outros tribunais do Brasil, 11 alvarás de soltura de indivíduos presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso em desfavor do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

As inserções fraudulentas ocorreram após invasão criminosa aos sistemas em questão, com a utilização de credenciais falsas obtidas de forma ilícita, conduta mediante a qual o(s) criminoso(s) passaram a ter controle remoto dos sistemas. Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.

O Globo