Amizade com Bolsonaros enriquece maquiador uruguaio
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Durante o tempo em que permaneceu internado para corrigir uma hérnia de hiato e um desvio de septo num hospital de São Paulo, em meados de setembro, Jair Bolsonaro contou com a prestativa ajuda do inseparável escudeiro da ex-primeira-dama Michelle — o maquiador e influencer Agustin Fernandez, 32 anos, que se instalou em um quarto contíguo ao do ex-presidente. Nos últimos anos, Fernandez foi conquistando a intimidade do clã, a ponto de celebrar os Natais e o próprio aniversário nas dependências do Palácio da Alvorada. Também viajou com o casal, cravando seu sorriso alvo em imagens ora clicadas no entusiasmo do poder, ora no amargor do declínio, como na temporada dos Bolsonaro em Orlando. Nos dias ainda mais áridos de hoje, Fernandez não desgruda de Michelle, que o defende incondicionalmente, numa relação de mão dupla. “É muita maldade falarem que a gente usa a imagem dele porque o Jair foi tachado de homofóbico e que é meu pet gay de estimação”, indigna-se Michelle, que o chama de “amigo-irmão”. Confidente e conselheiro, Fernandez foi convocado por ela para pelo menos dois périplos oficiais em 2022. O motivo para escoltá-la em Londres, para o funeral da rainha Elizabeth II, e depois em Nova York foi cuidadosamente mantido em segredo — Michelle estava sofrendo de depressão. “Comecei a apresentar sintomas em 2019 e sofri calada a ponto de querer morrer. No ano passado, voltei a ficar mal”, conta a VEJA, revelando estar em fase de “desmame” dos remédios. Nessas horas, é Fernandez que lhe provê colo e diversão. Enquanto o marido desabava cedo na cama, ela e o amigo iam desbravar a cena gastronômica de Manhattan. “Jair dorme às 9 da noite e leva copos de macarrão instantâneo nas viagens, preparando com a água quente do banheiro mesmo”, entrega Michelle, que, entre um hambúrguer e outro saboreados ao lado de Fernandez, a conversa rola solta. “À exceção de sexo, sobre o qual temos um tabuzinho, falo sobre tudo com ele”, diz. A sólida amizade floresceu no Hospital de Barretos, interior paulista, onde ele se voluntariava como maquiador e ela apareceu para inaugurar uma ala. Um ano antes, Fernandez já havia se tornado conhecido da família. Era 2018, e ele resolveu declarar nas redes seu voto em Bolsonaro. Assistiu então à debandada de 300 000 de seu 1,1 milhão de seguidores — um quinto do contingente atual. Clientes famosas que transitavam à esquerda, como Preta Gil e Valesca Popozuda, evaporaram, e membros da comunidade LGBTQIA+ o cancelaram. “Não me identifico com a comunidade, que é preconceituosa. Um homem afeminado como eu é tachado de maricona”, dispara. Sobre falas de Bolsonaro fincadas na intolerância — “melhor um filho morto do que gay”, por exemplo —, ele assegura que “é coisa do passado”.
Tamanha fidelidade lhe rendeu uma generosa clientela bolsonarista — uns 70% do total, estima. Sua loja on-line oferece cerca de 300 itens e vende o triplo que em 2018. “Já era rico, só fiquei mais”, desconversa Fernandez, devorador de grifes como Louis Vuitton — tema, aliás, do festejo de seu aniversário de 29 anos nos salões do Alvorada. Com centros de distribuição no Brasil e em Orlando, desde março ele tem Michelle como garota-propaganda de sua marca, para a qual ela criou uma linha de produtos. “Ele está me estendendo a mão e me ajudando a ter autonomia”, derrama-se ela. Morador de uma casa num condomínio de luxo em São Paulo, o focado Fernandez engatou recentemente uma sequência de lives com o objetivo de comprar o carro dos seus sonhos, uma Range Rover de 1 milhão de reais, que já está na garagem. É um feito extraordinário para um ex-ajudante de salão do interior do Uruguai que chegou ao Brasil de ônibus, em 2010, com 700 reais contados. “Fiquei desempregado e cheguei a me prostituir para ter condições de me regularizar no país”, lembra. Com o ensino médio incompleto — faz supletivo —, atraiu a atenção na internet ao se unir com a ex-modelo Flavia Flores, que teve câncer aos 35 e criou um projeto de beleza e quimioterapia. “Eu o levava em todas as entrevistas”, relata Flavia. Conhecido como Divo, ele jura que, ao lado dos Bolsonaro, sempre arcou com diárias e passagens. “Apenas andei de avião da FAB duas vezes para fazer trabalhos sociais com Michelle e outra como convidado do Jair para ir ao Uruguai”, lista. Semanas atrás, Fernandez se envolveu em uma polêmica num restaurante de Brasília, onde estava com a ex-primeira-dama. Tricotavam sobre a vida quando ela foi abordada por uma senhora que se pôs a perguntar sobre as joias dadas por delegações estrangeiras ao marido, caso em que está enroscado. Circulou que, num rompante, Fernandez teria arremessado gelo na mulher. “Só joguei um restinho de refrigerante no celular dela para parar de filmar”, esclarece, e exibe a prova: “Nem posso tomar gelado devido à sensibilidade causada pelas lentes que tenho nos dentes”. Quem não quer um amigão desses?