Base amplíssima do governo só contempla economia
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR) afirma que a reforma ministerial, com a entrada de PP e Republicanos no primeiro escalão, consolida a base, mas que a aliança não é suficiente para aprovar pautas de costumes, por exemplo. Em entrevista ao GLOBO, o deputado endossa as críticas do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), a possíveis “exageros” da Polícia Federal e alfineta a Justiça Eleitoral.
A aliança com o Centrão consolida a base do governo na Câmara ou ainda há risco?
Temos uma base ampla, entre 350 e 370 votos. E não avalio isto apenas pelas últimas trocas ministeriais: desde a PEC da Transição, tínhamos votos importantes de partidos do centro, como União Brasil e PP.
O governo vai aproveitar para tentar aprovar alguma pauta da área de costumes?
Nossas prioridades são combater a fome, gerar empregos e estar com a economia equilibrada. Eu, sinceramente, não vejo ambiente para o governo pautar algo polêmico relacionado a costumes. Não dá para termos ilusões. Tivemos aprovações importantes, como a reforma tributária e a ampliação do Bolsa Família.
A reforma tributária teve o presidente da Câmara, Arthur Lira, como fiador. E antes disso o governo já havia sofrido derrotas em plenário. Houve falhas na articulação?
Não. O Lula optou por governar com uma aliança maior do que a vista nas eleições, mas isso nem sempre se firma na velocidade com que todos gostariam. O Lira é um aliado. O Brasil tem andado graças à atuação da Câmara.
O senhor mesmo chegou a criticar a articulação do governo durante o projeto de desoneração da folha.
Os problemas se deram por falta de velocidade em algum momento na liberação de recursos e de nomeações de cargos, mas isso também faz parte de uma nova gestão.
Lira será ministro depois que deixar a presidência da Câmara?
Nunca o ouvi falando sobre este tema, então não acho que seja uma vontade dele. Além disso, a decisão é uma prerrogativa pessoal do presidente da República. Isto envolve seriedade e confiança.
A Polícia Federal foi alvo de críticas de Lira, que citou “excessos”. É uma preocupação justificada?
Lira se referiu a exageros, atropelos e ilegalidades. E isso é inaceitável em qualquer órgão, inclusive a Polícia Federal. É uma preocupação pertinente. Os exageros do Judiciário, por exemplo, não foram bons para este país. Então, todo exagero requer atenção.
Integrantes da base defendem a PEC da Anistia, que dá um perdão bilionário a partidos e acaba com percentual mínimo para candidaturas femininas. Não é um retrocesso?
O PT foi o primeiro partido a garantir o espaço das mulheres, negros e jovens. Mas, neste momento, a PEC da Anistia tenta aliviar penalidades financeiras. Isso é meritório, e o tema será aprovado sem exageros. Já na próxima eleição teremos avanços e maior representatividade.
O PT se aliou ao PL nesta pauta…
Não tem a ver com ideologias, por isso não é tão contraditório. O PT e o PL estão ao lado da mentalidade dos partidos grandes, por mais que isto desagrade partidos que são aliados, como o PCdoB. É a vida, não tem jeito. A grande disputa é dos grandes partidos contra os pequenos.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu o fim da Justiça Eleitoral, como o bolsonarismo pediu no passado. Essa posição encontra respaldo no PT ou ela está isolada?
Ela foi mal interpretada, mas a Justiça Eleitoral é passível de críticas. Dívidas contábeis não podem cassar mandatos. Da maneira com que temos caminhado, em alguns anos não será eleito quem teve mais votos, mas quem teve o melhor contador. Isso é um absurdo. Um candidato que tem problemas com uma simples nota fiscal não pode estar em xeque.
O senhor foi criticado inclusive na base por ter incluído no projeto de lei sobre as perdas do ICMS uma medida que não estava relacionada com o tema do texto e que pode reduzir o piso da saúde. Qual o motivo dessa inclusão?
Foi um pedido de entidades da saúde e alguns parlamentares. Poucos me criticaram, e não me geram desgastes. Eu sempre vou lutar por mais recursos. O dispositivo que incluí não impede o Ministério da Fazenda de debater com o governo um valor ainda maior para o piso da saúde.
Essa mudança era importante para o Ministério da Fazenda?
Não me pediram nada na Fazenda.
O senador Sergio Moro (União-PR) enfrenta uma ação na Justiça Eleitoral que pode cassá-lo. Caso isso aconteça, o senhor vai disputar internamente com a Gleisi a candidatura ao Senado pelo PT?
Caso exista essa cassação, o que acho provável, tenho condições de contribuir mais com o Paraná. Mas a escolha não é minha. Estou buscando apoios dentro do PT e em outros partidos.