Ciro e Cid Gomes vão à guerra

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Foto: Montagem com fotos de Natanael Feitosa e Reprodução/Redes sociais

Dividido entre aliados de Ciro Gomes e entusiastas de uma aproximação com o PT, como o senador Cid Gomes, o PDT acirrou uma guerra interna no Ceará, hoje seu principal reduto, em meio a articulações para a disputa da prefeitura de Fortaleza em 2024. Há duas semanas, o diretório estadual do partido autorizou a desfiliação do presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão — ligado a Cid e que tem apoio da maioria das lideranças do partido —, para concorrer contra o atual prefeito, José Sarto (PDT), mais próximo a Ciro. O diretório nacional do partido recorreu à Justiça do Ceará para barrar a desfiliação em mais um embate local que coloca os irmãos Gomes em lados opostos.

Leitão, que teve sua desfiliação autorizada por Cid Gomes, negocia uma possível filiação ao PT, do governador Elmano de Freitas, ou ao PSB, comandado no Ceará por Eudoro Santana — pai do ex-governador e ministro da Educação, Camilo Santana (PT). Ao GLOBO, o presidente da Assembleia Legislativa disse que foi alvo de “perseguição” no partido ao discordar da candidatura de Roberto Cláudio (PDT), aliado de Ciro, ao governo estadual em 2022.

À época, Leitão colocou o próprio nome na disputa e também acenou com apoio à então governadora Izolda Cela, que havia assumido após renúncia de Camilo, mas ambos foram preteridos pelo PDT. A candidatura de Cláudio marcou o rompimento da aliança entre PDT e PT no estado, embora uma ala majoritária de pedetistas defenda retomar os laços.

— Quando houve a ruptura de nosso grupo político, sofri perseguição, talvez em razão de minha proximidade com Camilo. O PDT é meu primeiro e único partido, mas acho muito difícil uma pacificação que me dê espaço para seguir no partido — disse Leitão.

Em reunião do diretório estadual no último dia 25, Leitão formalizou o pedido de uma carta de anuência, buscando deixar o PDT sem risco de perda de mandato por infidelidade partidária — já que a próxima janela para deputados mudarem de sigla só abre em 2026. Entre as razões levadas ao diretório, Leitão citou o fato de ter sido o único candidato a deputado estadual que não recebeu verba do fundo eleitoral do PDT para a campanha, mesmo tendo sido o mais votado do partido.

Após votação favorável, a desfiliação foi autorizada por Cid, que assumiu o diretório estadual de forma provisória até o fim do ano, em acordo para tentar pacificar o partido. Por defender a composição com o PT, Cid vive hoje um afastamento do irmão, Ciro. Em julho, o senador travou uma queda de braço com o deputado federal André Figueiredo, presidente nacional em exercício do PDT e aliado de Ciro, pelo comando do partido no estado.

À época, Cid e Figueiredo chegaram a um meio-termo. O senador ficou incumbido de organizar os diretórios municipais do PDT, uma maneira de dar autonomia a prefeitos pedetistas que queiram se aliar ao PT, e depois devolver a presidência estadual da legenda a Figueiredo no fim deste ano. O diretório de Fortaleza, contudo, segue sob comando de aliados de Ciro, que apoiam Sarto e são contrários a uma aproximação com o PT.

Figueiredo alega que o diretório estadual não tem autonomia para autorizar a desfiliação de deputados, e ingressou na Justiça contra Cid e Leitão. No último dia 29, o juiz Cid Peixoto do Amaral Neto, da 3ª Vara Cível de Fortaleza, negou um pedido de liminar para barrar a desfiliação, mas ainda analisa a validade da carta de anuência.

Em paralelo, amparado na carta de anuência, Leitão entrou com pedido de desfiliação partidária na Justiça Eleitoral do Ceará. O juiz relator, Francisco Érico Carvalho Silveira, ainda não deliberou sobre o caso.

—Nosso entendimento é que não existe justa causa para desfiliação. É conhecido que ele (Evandro Leitão) quer sair do partido para disputar a prefeitura de Fortaleza, e o candidato natural do PDT é Sarto — afirmou o advogado Walber Agra, que representa o diretório nacional do partido nas ações.

Internamente, caciques pedetistas no Ceará avaliam que o ministro da Previdência, Carlos Lupi, presidente nacional licenciado do PDT, resiste à judicialização do caso. Apesar de seu descontentamento com Leitão desde a campanha do ano passado, Lupi tem buscado, na visão de integrantes do PDT, colocar panos quentes na guerra interna para não estimular animosidade contra prefeitos e parlamentares mais alinhados ao PT. Lupi também recebeu sinalizações do senador Cid Gomes de que a eventual saída de Leitão não abrirá a porteira para outras autorizações de desfiliações.

Segundo um deputado ouvido pelo GLOBO, porém, Lupi deverá atuar junto às cúpulas nacionais de PT e PSB para evitar uma candidatura de Leitão à prefeitura de Fortaleza. O ministro já afirmou que a manutenção da capital com o PDT é prioridade para o partido em 2024.

Família dividida

Racha em 2022

Durante as eleições de 2022, Cid Gomes criticou o racha da aliança do PDT com o PT no Ceará, defendido por Ciro, e declarou voto em Camilo Santana, candidato do PT ao Senado. No primeiro turno, Cid afirmou que iria se preservar “para tentar ser um catalisador, o cupido da renovação da aliança”.

Ciro não se envolveu na campanha de Lula durante o 2º turno em 2022, de quem foi ministro. Já seu irmão seguiu em sentido contrário e esteve à frente das articulações pedetistas em prol do petista. O senador, que se manteve afastado da campanha de Ciro ao Planalto, participou de atos do PT.

A direção nacional do PDT decidiu em julho intervir no Ceará, para barrar uma votação que daria o comando estadual a Cid. Com voto de Ciro, a cúpula do PDT chamou para si a gestão do partido no estado. Cid depois chegou a um acordo para assumir o diretório estadual só até o fim do ano.

Cid e seus aliados defendem que o PDT se reaproxime do PT e ingresse formalmente na base do governador petista Elmano de Freitas no Ceará. Já Ciro e seu grupo pregam uma postura de oposição ao PT no estado, além da reeleição do atual prefeito de Fortaleza, Sarto Nogueira (PDT).

O Globo