Ex-petista filiado ao PL se recusa a homenagear Bolsonaro

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Foto: Câmara de Barretos

A entrega do título de cidadão honorário de Barretos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no último dia 25, expôs um conflito entre os seus correligionários no município do interior de São Paulo. O vereador Adilson Ventura (PL) foi o único parlamentar a não votar favoravelmente à concessão do título dado pela Câmara Municipal ao ex-chefe do Executivo. Agora, ele sofre pressões para deixar a legenda.

As divergências com o partido são antigas, mas a recusa em homenagear Bolsonaro foi a “gota d’água”, dizem seus colegas que o acusam de ingrato. O motivo: antes de entrar para o PL, Ventura era um dos poucos vereadores do PT em Barretos. Porém, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu reunir os 26 nomes necessários para lançar uma chapa na cidade no último pleito. Foi para conseguir a reeleição que Ventura migrou do PT para o PL.

“Ele usou o partido para ser eleito, usou o fundo partidário e depois fez uma coisa dessas”, diz o vereador Paulo Corrêa. “Aceitamos ele no PL pensando que ele tivesse mudado de ideologia, mas o coração dele é vermelho. A questão do título do Bolsonaro foi a gota d’água, mas não foi a primeira vez que ele entrou em conflito com o partido. Ele já votou contra o PL na eleição para a escolha do segundo secretário da Mesa Diretora da Câmara”, complementou a relação de mágoas. Além de não votar o projeto da homenagem, o vereador também se ausentou da sessão.

Aceitamos ele no PL pensando que ele tivesse mudado de ideologia, mas o coração dele é vermelho
Paulo Corrêa, vereador do PL

Corrêa, que tem 35 anos de PL e já presidiu a Câmara Municipal duas vezes, admite que o partido estuda uma “saída adequada” para a situação. A expulsão da legenda é cogitada, porém há quem pondere que o vereador poderá se tornar um “mártir de esquerda” na região. Por conta disso, a ideia que tem mais adeptos é convencê-lo a sair por conta própria.

Ventura, por sua vez, confessa que entrou no PL para disputar as eleições de 2020, portanto, antes de Bolsonaro, que se filiou em 2021. Portanto, em sua defesa, ele diz que foi o PL e não ele quem “mudou de rumo”. Ao Estadão, o vereador jogou um balde de água fria nos planos do partido de buscar uma solução negociada para sua saída. Ele avisa que não pretende deixar a legenda e que ignora ter se tornado “persona non grata”.

“Se a votação do título (a Bolsonaro) gerou um mal-estar foi por parte deles e não por minha parte. O PL que tomou outro rumo, não eu. Eu me vejo na sigla”

O vereador ainda justificou sua ausência na sessão que votou o título a Bolsonaro argumentando que a homenagem poderia prejudicar Barretos, a exemplo do que aconteceu no Agrishow, que perdeu o patrocínio do Banco do Brasil após a feira convidar o ex-presidente para o evento.

Como mostrou reportagem especial do Estadão, Barretos é um reduto da direita em São Paulo. Em 2020, por exemplo, nenhuma das 19 cidades que compõem a região administrativa elegeu um prefeito de esquerda. Na prática, o vencedor do pleito foi a centro-direita, com DEM e PSDB elegendo cinco prefeitos cada um, seguidos de MDB (2), PP (2), PTB (2), PSD (1), Cidadania (1) e Podemos (1).

A força de Bolsonaro na região não se limita à cidade que abriga a Festa do Peão mais famosa do País. Em 2022, ele venceu a disputa eleitoral em 18 dos 19 municípios que formam a Região Administrativa de Barretos – perdendo apenas em Guaraci (10.530 habitantes, segundo o Censo 2023) por uma diferença de 112 votos. Se todas as 19 cidades fossem um único município, Bolsonaro teria quase 60% dos votos.

Na avaliação de lideranças locais, o resultado eleitoral nos últimos anos não deixa dúvidas: a região de Barretos é um reduto da direita e as eleições municipais do ano que vem serão influenciadas por Bolsonaro, ainda que ele esteja inelegível e seja alvo de investigações.

Estadão