Fascistas apostam mais em Tarcísio que Zema
Foto: Zanone Fraissat/Folhapress
Na disputa pela massa de 58 milhões de pessoas que votaram no ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é quem sai na frente. Segundo a nova edição da pesquisa “A Cara da Democracia”, feitapelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), quase três vezes mais brasileiros apostam em Tarcísio do que em Romeu Zema, governador de Minas Gerais, como o substituto de Bolsonaro.
O chefe do Executivo paulista é apontado como sucessor de Bolsonaro por 17% dos entrevistados, enquanto Zema é a aposta de apenas 6%. Empatados tecnicamente em segundo lugar, e com um já considerável capital político, com 12% e 11%, respectivamente, estão o senador e ex-juiz da Lava-Jato, Sergio Moro (União Brasil), e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Há, ainda, 3% dizendo que “algum filho” de Bolsonaro poderá eventualmente substituí-o nas urnas. O ex-presidente tem cinco herdeiros. Três deles ocupam cargos políticos: Eduardo Bolsonaro (deputado federal), Flávio Bolsonaro (senador da República) e Carlos Bolsonaro (vereador).
Soma 7% quem diz que Bolsonaro é insubstituível e, portanto, o melhor candidato, ainda que impedido de voltar ao Planalto. Esse percentual é o que pode ser considerado o grupo mais fiel, atualmente, ao ex-presidente. Outros 29% responderam que não apoiam esse grupo político, e 14% não sabem.
Michelle Bolsonaro, que ganhou agenda própria de viagens pelo país após assumir o setorial de mulheres do PL, tem mais apelo entre os declaram “gostar muito” de Bolsonaro. No núcleo duro de apoiadores do ex-presidente, ela é apontada como herdeira do capital político do marido por 28% dos entrevistados, empatando tecnicamente com Tarcísio, que soma 29% no grupo.
Zema e Sergio Moro ganham maior relevância entre os que dizem gostar “mais ou menos” de Bolsonaro. Aqui, cada um é citado como possível substituto por 18% e 10%, respectivamente.
Estratégias distintas
Diante da inelegibilidade de Bolsonaro, Tarcísio e Zema, governadores dos dois maiores colégios eleitorais do país, despontam como os possíveis sucessores do ex-presidente. Com um discurso menos ideológico, o ex-ministro da Infraestrutura tem mirado o eleitorado mais moderado, enquanto Zema recebeu recentemente adesão dos mais radicais, como mostrou O GLOBO.
À frente do governo de São Paulo, Tarcísio tem adotado um tom predominantemente moderado, mas com acenos pontuais à base bolsonarista, que cobra do governador a incorporação de mais pautas ideológicas. Até agora, os anúncios da gestão estadual mais comemorados por apoiadores do ex-presidente foram a ampliação das escolas cívico-militares, a anistia às multas por não utilização de máscara na pandemia e a operação policial na baixada santista, que deixou 27 mortos.
Por outro lado, o governador já desagradou parte do núcleo ideológico em algumas oportunidades, como quando se posicionou a favor da Reforma Tributária, contrariando Bolsonaro. Ou mesmo na temática das câmeras em uniformes de policiais, que ele decidiu manter em sua administração.
Tarcísio tem evitado falar sobre suas pretensões políticas. Pessoas que estão próximas a ele dizem que o foco é completar o mandato em São Paulo, considerando uma possível reeleição, e que em 2026 o governador deve apoiar o nome indicado por Bolsonaro.
Aliados entusiasmados com a ideia de disputar o Planalto em 2026 sustentam que seria até um erro entrar de cabeça na campanha faltando três anos. Além de o próximo pleito estar distante, se apresentar como virtual candidato à Presidência poderia transparecer como traição a seu padrinho político, Jair Bolsonaro, que ainda vai tentar reverter a inelegibilidade. Outro ponto é que os governadores que se anteciparam a uma candidatura presidencial tiveram seus planos frustrados, caso de João Doria e José Serra. O melhor, portanto, é se preservar e manter distância do assunto.
O secretário de Governo, Gilberto Kassab, já defendeu publicamente, em um evento do grupo Esfera no mês de maio, que Tarcísio dispute a reeleição em São Paulo no próximo pleito nacional para, aí sim, se cacifar como alternativa presidencial.
Zema já vive uma situação diferente, pois está em seu segundo mandato como governador de Minas. O entorno do governador diz que a candidatura dependerá de uma conjuntura política — por exemplo, se Tarcísio será ou não candidato.
A prioridade, agora, é criar marcas para a gestão que possam ser exploradas futuramente, caso do Trilhas de Futuro, projeto do governo para a oferta gratuita de cursos técnicos a estudantes e egressos do ensino médio, e do pacote de obras rodoviárias. O governador prepara ainda um programa social de grande porte para este ano.
Correligionários do mineiro tratam a rejeição ao nome dele como uma consequência do desconhecimento. Dizem, ainda, que embora Zema tenha aparecido mais no noticiário recentemente, a intenção é trabalhar sua imagem nacionalmente apenas a partir de 2025, caso ele seja mesmo candidato, para evitar uma superexposição e desgastes com críticas da oposição, como já ocorreu no primeiro semestre deste ano.
O estudo foi feito com 2.558 entrevistas presenciais de eleitores em 167 cidades, de todas as regiões do país, entre 22 e 29 de agosto. A pesquisa é financiada pelo CNPq e pela Fapemig e é feita pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), que reúne pesquisadores das universidades UFMG, Unicamp, UnB e Uerj. A margem de erro é estimada em dois pontos percentuais para mais ou menos e o índice de confiança é de 95%.