Marta Suplicy prepara enésima traição à esquerda
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Pré-candidato à reeleição, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), mira no eleitorado da periferia para tentar captar parte do apoio às pré-candidaturas dos deputados federais Guilherme Boulos (Psol) e Tabata Amaral (PSB) na disputa de 2024.
O prefeito pretende usar programas sociais do governo, nas áreas de habitação e de assistência social, para se aproximar de lideranças comunitárias, sociais e religiosas nos bairros periféricos, e deve colar sua imagem à da ex-prefeita e secretária Marta Suplicy, popular nas regiões mais carentes.
Nunes planeja agendas ao lado de Marta na periferia para tentar se tornar mais conhecido e avançar nos redutos em que tradicionalmente a esquerda tem mais votos. “Estamos colocando a Marta para andar com o Ricardo na periferia”, diz um interlocutor do prefeito, dias depois de uma reunião com Nunes e Marta. “A gestão precisa ir para a centro-esquerda e faremos isso com a área social.”
A ex-prefeita e secretária municipal de Relações Internacionais foi lançada pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, para ser a vice do prefeito, mesmo que não se filie ao partido. A proposta, no entanto, enfrenta a resistência da própria secretária e é rejeitada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com quem Nunes articula uma aliança. Integrantes da pré-candidatura de Nunes reforçam a necessidade de escolher uma mulher para a vice, em uma disputa que tem, até agora, só uma pré-candidata, Tabata Amaral.
Mesmo que não esteja na vice, a secretária deve ter papel importante nas agendas da pré-candidatura. Marta foi filiada ao PT, ao MDB de Nunes e ao Solidariedade, e está sem partido desde 2020. Na época, ela deixou o Solidariedade para fazer campanha para a chapa Bruno Covas (PSDB)/ Ricardo Nunes (MDB), depois que o partido decidiu apoiar Guilherme Boulos.
Nunes negocia a entrada do Solidariedade no governo, para ampliar o apoio entre sindicalistas
Em aceno a sindicalistas, Nunes planeja incorporar à gestão, nos próximos dias, o Solidariedade, para atuar na área de Trabalho. O partido, que esteve com o Psol em 2020, apoiou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já no primeiro turno na disputa presidencial de 2022 e estava negociando com Boulos.
Dirigente do Solidariedade e ligado à Força Sindical, o ex-deputado Paulinho da Força disse que o diretório municipal da sigla está conversando com a gestão Nunes, mas evitou falar sobre a adesão ao governo. “Isso não está resolvido, mas esperamos resolver nos próximos dias.”
Interlocutores do prefeito destacam também a nomeação do ex-vereador Gilberto Natalini como secretário-executivo de Mudanças Climáticas, como uma forma de a gestão tentar se aproximar de lideranças ambientais progressistas e de integrantes do PV, partido que está federado com o PT e PCdoB para disputar em 2024.
Natalini entrou no governo em agosto, no lugar de Antonio Pinheiro Pedro, que fez o programa ambiental de Bolsonaro em 2018 e deixou a prefeitura sob críticas, depois de falar que o “planeta se salva sozinho” do aquecimento global e de criticar pesquisas científicas.
Na avaliação de interlocutores do prefeito, Nunes precisa avançar sobre o eleitorado da centro-esquerda e buscar apoiadores de Tabata e de Boulos. O prefeito tenta se mostrar como um nome de “centro”, apesar da aliança com Bolsonaro, o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), PL, PP e Republicanos.
Segundo pesquisa do Datafolha divulgada na quinta-feira (31 de agosto), Guilherme Boulos lidera a disputa, com 32% das intenções de voto. Nunes aparece com 24%. Tabata Amaral tem 11% e está empatada com o deputado Kim Kataguiri (União), com 8%, dentro da margem de erro da pesquisa, de três pontos percentuais para mais ou para menos. Vinicius Poit (Novo) tem 2%. Votos em branco e nulo somam 18% e 5% não responderam.
Por enquanto, Boulos, que é apoiado pelo PT e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, abre uma diferença maior em relação a Nunes entre os eleitores com maior renda, sobretudo entre quem ganha mais de cinco salários mínimos. Já o prefeito tem vantagem entre os mais pobres, com renda de até dois salários mínimos.
O mapa eleitoral de São Paulo das últimas disputas municipais, no entanto, mostra um desempenho melhor dos candidatos progressistas na periferia, enquanto os conservadores têm mais voto no centro e centro expandido.
Em 2004, 2008 e 2012, por exemplo, o mapa eleitoral ficou pintado de vermelho na periferia, com a vitória de candidatos do PT, e de azul no centro, com nomes do PSDB e PSD, no segundo turno.
Em 2016, João Doria venceu no primeiro turno e teve a maioria dos votos em 56 das 58 zonas eleitorais, mas perdeu no extremo sul, em Grajaú e Parelheiros, onde Marta, então filiada ao MDB, venceu. Em 2020, a chapa Covas/ Nunes venceu no segundo turno em 50 das 58 zonas eleitorais, mas Guilherme Boulos ganhou em oito zonas periféricas – duas na zona leste e seis na zona sul, inclusive onde Marta foi vitoriosa em 2016.
Os adversários do prefeito já têm explorado os problemas que atingem sobretudo quem mora na periferia. Entre os problemas, estão a falta de remédios e fraldas nos postos de saúde; as filas para consultas e exames médicos; as mais de 52 mil pessoas em situação de rua, segundo estudo da UFMG (ou cerca de 32 mil, de acordo com a prefeitura); a cracolândia e a degradação do centro, e a zeladoria da cidade, com vias esburacadas, apesar de a gestão ter cerca de R$ 36 bilhões em caixa.
Na véspera do ano eleitoral, Nunes planeja um investimento recorde, de mais de R$ 10 bilhões. Em meio a ações como a ampliação do recapeamento de ruas e o reforço da comunicação da gestão, a avaliação positiva do governo dobrou em um ano e quatro meses. Em abril de 2022, a administração era avaliada por 12% como ótima ou boa. Em junho de 2022 passou para 18% e agora, 23%. A avaliação ruim ou péssima era de 30% em abril de 2022, oscilou para 31% em junho do mesmo ano e está em 24%. No mesmo período, a avaliação regular foi de 46% para 44% e está agora em 49%.
Eleito em 2020 como vice na chapa do prefeito reeleito Bruno Covas, Ricardo Nunes assumiu a prefeitura em maio de 2021, depois da morte do tucano.
Em meio a negociações com bolsonaristas e os acenos à centro-esquerda, Nunes decidiu adiar a definição da vice. A escolha passará pelo governador e por Bolsonaro, que não querem nenhum nome ligado à centro-esquerda.
A avaliação de aliados de Nunes é que o vice não será um nome vinculado à imagem de Bolsonaro. Segundo o Datafolha, o ex-presidente é o pior cabo eleitoral na cidade e 68% não votariam em um nome apoiado por Bolsonaro.