Para PF, foi inútil militares esconderem provas
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
A revelação de que o Ministério da Defesa não tem mais as imagens do período em que o hacker Walter Delgatti Neto afirma ter visitado a sede da pasta para reuniões com os militares sobre as urnas eletrônicas não deve impedir a Polícia Federal (PF) de conferir se ele está falando a verdade.
O trabalho, porém, deve demorar – cerca de 60 dias, na avaliação de investigadores envolvidos com esse trabalho específico. Isso porque é possível conferir onde o hacker esteve com precisão checando a localização do sinal do telefone celular dele ao longo do tempo, assim como os acessos do aparelho a redes de wi-fi.
É a esses dois recursos que a PF planeja recorrer para conferir se a versão do hacker é fiel aos fatos.
Mas, para isso, será preciso primeiro abrir um inquérito para investigar especificamente a associação entre o hacker, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o ex-presidente Jair Bolsonaro para minar a credibilidade do sistema eletrônico de votação.
De acordo com fontes da PF, o pedido de abertura desse inquérito específico deverá ser feito ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes nos próximos dias.
Por ora, o único inquérito formal contra Delgatti é o que investiga a invasão do site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para desacreditar o sistema judiciário, alegadamente a pedido de Zambelli.
Nessa apuração, que já está na reta final, a PF obteve a quebra do sigilo telemático do hacker, e portanto já possui muitos dados sobre sua movimentação em pelo menos parte dos períodos em que Delgatti afirma ter visitado o Ministério da Defesa.
O hacker alega ter visitado a pasta em cinco ocasiões ao longo do ano passado, uma delas a pedido de Bolsonaro, para “orientar” o ministério a questionar a segurança do sistema eleitoral. Afirma, ainda, ter se encontrado com o então ministro Paulo Sérgio Nogueira pelo menos uma vez.
Uma vez que o inquérito sobre esse episódio específico esteja aberto, primeiro passo deve ser a solicitação formal dos registros de acesso na portaria do Ministério da Defesa.
Como o próprio Delgatti afirma ter entrado no prédio pela porta dos fundos para não deixar vestígios, os investigadores já não esperam por qualquer novidade.
Só depois que a Defesa informar que não tem mais as imagens daquele período é que a PF sustentará junto ao STF a necessidade do compartilhamento de informações entre os inquéritos.
Se os dados que constam do inquérito do CNJ não permitirem checar tudo, a PF ainda vai ter que pedir uma nova quebra do sigilo para conferir os dados de torres de transmissão que mostram a geolocalização do hacker nas datas que ainda estiverem faltando.
Só aí se poderia ter elementos para comprovar, ou não, a versão do hacker sobre o papel do ministério no plano de desacreditar as urnas eletrônicas com a anuência do então presidente Jair Bolsonaro.
Conforme o O GLOBO revelou no último domingo, a pasta informou à CPI do 8 de janeiro que não dispõe das imagens por uma limitação no sistema de armazenamento das gravações de câmeras de segurança.
O colegiado havia aprovado no último dia 24 um requerimento para que a Defesa disponibilizasse as gravações entre julho e dezembro de 2022.
Segundo a equipe do blog apurou, a PF já designou um delegado para trabalhar nessa investigação. O nome, por enquanto, é mantido sob sigilo.