PP quer ministérios sem apoiar Lula
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
A entrada do PP, um dos maiores partidos do Centrão, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não garantiu conforto ao petista nas votações da Câmara dos Deputados. Em entrevista ao Metrópoles o novo líder do PP, Dr. Luizinho (PP-RJ), disse que o partido está “dividido”.
Luizinho assumiu o lugar de André Fufuca (PP-MA), escalado para comandar o Ministério dos Esportes nu lugar de Ana Moser. Fufuca ingressou na Esplanada de Lula após meses de negociações para acomodar o Centrão e acumular mais apoio no Congresso — onde Lula estava com base fragilizada desde o início do mandato, especialmente na Câmara.
Após a nomeação de Fufuca, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos nomes mais importantes do PP, afirmou que a legenda passou a fazer parte da base de Lula.
Já o presidente do partido, Ciro Nogueira (PP-PI), afirmou que a sigla é oposição ao governo do petista. “Quem fala pelo Progressistas sou eu”, ressaltou à CNN, depois de afirmar, em comunicado oficial do partido, que “água e óleo não se misturam”.
As divergências no posicionamento dos parlamentares demonstram a realidade de um partido dividido, como avalia o novo líder na Câmara.
“Apesar da entrada do Fufuca e da maioria querendo participar do governo, nós temos um critério de independência. Uma grande parte, principalmente da nossa bancada Sul, Sudeste, não quer fazer parte do governo, mas vai colaborar com o que são projetos do Brasil. ‘Ah, mas isso é uma coisa bastante difícil’. É bastante difícil equilibrar um partido que é dividido, porque nós temos um país dividido”, explicou Dr. Luizinho.
O deputado ressaltou a polarização das últimas eleições presidenciais, quando a maior parte dos estados do Sul e do Sudeste votou em Jair Bolsonaro (PL) — candidato de Ciro Nogueira — enquanto o Norte e o Nordeste concentraram apoio a Lula.
“Essa divisão também aconteceu no PP e dentro da própria eleição. O presidente Ciro foi um defensor da candidatura do Bolsonaro presidente e, em estados vizinhos, a gente tinha deputados nosso votando com o presidente Lula. Então, já foi essa eleição e continua a ser assim”, destacou.
Essa polarização deve se refletir nas eleições municipais de 2024. Segundo Luizinho, em cidades que dão maior apoio aos nomes ligados a Bolsonaro, a sigla deve coligar com partidos de direita e centro-direita. No Nordeste do país, no entanto, diversos parlamentares declararam apoio a Lula, explica Dr. Luizinho.
“Na eleição municipal, o prefeito é o síndico, o zelador da cidade. Não é lugar para se eleger no campo ideológico, mas quem tem a capacidade de fazer gestão. É claro que essa pessoa tem um viés partidário, ideológico, mas vai levar muito em consideração a capacidade administrativa”, opinou.
Mesmo com as divergências, o partido definiu pautas que são prioritárias, que terão colaboração de todos os parlamentares da sigla, independentemente de apoio do governo. “Uma das que a gente colocou foi a defesa incondicional do SUS. Não afeta a condicionalidade do partido”, explicou o parlamentar.
Duras derrotas no primeiro semestre em pautas que interessavam ao governo, mas não ao Centrão, mostraram a Lula que a sua base sólida é muito limitada na Câmara. No início de maio, por exemplo, o governo só conseguiu 136 votos favoráveis quando a Casa derrubou trechos de um decreto de Lula mudando o marco legal do saneamento básico, que havia sido aprovado no governo passado e não agrada o atual.
Esses 136 votos não seriam suficientes sequer para barrar uma eventual abertura de processo de impeachment, que exige que ao menos 172 parlamentares votem contra ou se abstenham.
Para aprovar um Projeto de Lei Completar, é necessária a maioria absoluta dos 513 votos da Câmara, ou seja, 257. E, para passar uma emenda à Constituição, o sarrafo é mais alto ainda: são necessários 308 votos. Se todos os deputados dos partidos ligados ao governo dessem seus votos, a base de Lula teria quase 400 parlamentares, mas, na realidade, não é bem isso que acontece.