PPG apoia Haddad sobre impostos para super-ricos

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Foto: Cristiano Mariz/O Globo

Eleito por aclamação líder do PP na Câmara, o deputado Luiz Antonio Teixeira, o “doutor Luizinho” (RJ), afirmou ao Valor que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), fez a “opção correta” ao propor o ajuste fiscal em cima de quem ganha mais e acredita que “há disposição” do Congresso para aprovar as medidas de aumento de receita propostas. “Claro que ninguém quer pagar mais imposto, mas precisamos resolver o problema fiscal e não dá para olhar quem é mais pobre e pedir para que colabore mais”, diz. Ele ressaltou que a agenda do ministro se baseia também num plano de crescimento econômico e que vê com dificuldade medidas de corte de despesas porque não concorda em mexer nos benefícios sociais. A reforma administrativa, argumenta, deve olhar para a qualidade do gasto.

Luizinho deixou a secretária de Saúde do Rio de Janeiro há três dias com a missão de coordenador a bancada e conciliar os interesses do grupos governistas e de oposição do partido, mas garante que a sigla ficará independente apesar da entrada do deputado André Fufuca (PP-MA) como ministro do Esporte e do provável comando da Caixa Econômica Federal. Segundo ele, os cargos não darão mais votos ao governo, não farão com que o presidente do partido, o senador Ciro Nogueira (PI), saia da oposição e provavelmente não convencerão o PP a apoiar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026, mas “com certeza o governo vai ter mais ajuda” em suas pautas. A seguir os principais pontos da entrevista:

Valor: Por que o senhor trocou a Secretaria de Saúde para liderar a bancada? É expectativa de saída da ministra da Saúde, Nísia Trindade, ou de ficar como uma alternativa para a presidência da Câmara?

Luizinho Teixeira: Tenho relação excelente com a Nísia, ela pode contar comigo. Voltei porque meu acordo com o Ciro era ser o líder em 2023. O Fufuca pediu para ficar mais um ano e fizemos uma composição. Eu já ficaria como secretário até dezembro para voltar e ser o líder, queria essa experiência, mas ocorreu de antecipar a vaga e o Ciro e o [presidente da Câmara] Arthur [Lira, do PP] acharam que era melhor eu retornar antes. Até para criar mais estabilidade. Dificilmente algum outro teria unanimidade porque temos deputados governistas e uma galera mais de oposição, e também dificilmente algum outro hoje teria a confiança do Ciro e do Arthur ao mesmo tempo.

Valor: O senhor desistiu da pré-candidatura a prefeito do Rio? Deve se aliar ao prefeito Eduardo Paes?

Teixeira: Depois que eu der uma organizadinha na liderança vamos começar a discutir questão da prefeitura. Moro há 25 anos na cidade do Rio, mas minha maior base eleitoral é em Nova Iguaçu, onde nasci e cresci. Estou migrando meu domicílio eleitoral, mas a prefeitura não é uma obsessão. Faço parte do grupo do governador [Cláudio Castro] e movimento que fizer vai estar alinhado com ele. Hoje o nosso grupo tem incompatibilidade de caminhar com o Eduardo porque ele fez um movimento a esquerda que vai se refletir na eleição de prefeito e de governador.

Metade da nossa bancada quer ser governo, metade quer ser independente ou de oposição”

Valor: PT e o PP são adversários em vários Estados. Como fica a relação agora com o PP no governo?

Teixeira: Metade da nossa bancada quer ser governo, metade quer ser independente ou oposição. Os que querem ser governo estão representados pelo Fufuca e o conjunto da bancada está representado por mim. Vou ter posição de independência com diálogo colaborativo e respeitar quem quer fazer oposição. Mesmo os que fazem oposição, nos temas que julgaram pertinentes, ajudam o governo. O PP entregou em média 30 a 35 votos neste primeiro ano, sem ministério.

Valor: Há irritação no PP de que o governo não entregou o “pacote completo” e adiou a Caixa?

Teixeira: Cheguei na negociação há dois dias, não sou o mais habilitado para falar. O Arthur que está à frente desse processo. Acredito que nos próximos dias vão decidir e está claro que é um movimento que não atende apenas ao Progressistas, mas a base [aliada] também. A Caixa pode ajudar a entregar mais votos? Pode. O que não podemos é assumir o compromisso porque a gente respeita a posição de cada um.

Valor: Se não ampliou os votos, o que ajudará o governo esta troca? O PP não vai aderir neste mandato?

Teixeira: Não vamos. O presidente Ciro Nogueira está na oposição. Ele é o nosso líder. Ele nos deu a independência, mas está colocado na oposição. Mas com certeza absoluta o governo vai ter maior ajuda. Tem compromisso do Fufuca e nosso de olhar com mais boa vontade. A entrada do Silvinho [Silvio Costa Filho, ministro dos Portos e Aeroportos] e do Celso Sabino [no Turismo] também ajuda. Quando você tem relação com o ministro, chega nele e resolve as demandas. Melhora a relação e facilitará muito a vida do governo.

Valor: Há chance de o PP apoiar a reeleição do presidente Lula?

Teixeira: Não sei nem se estarei vivo. Nosso partido sempre foi de centro-direita. Sou mais de centro do que de direita, e já apoiei a [ex-] presidente Dilma [Rousseff, do PT] na reeleição, mas não vejo isso acontecer na próxima eleição. Acho que estaremos mais no campo da direita ou da independência em 2026, não apoiar ninguém e liberar [os filiados].

Valor: Incomodou a cerimônia de posse dos ministros no Palácio do Planalto não ter sido pública?

Teixeira: Obviamente que os parlamentares do Republicanos e do Progressistas gostariam de prestigiar a posse dos nossos colegas. Até os que são de oposição foram para a transmissão do cargo à tarde. Agora, a decisão de como é a cerimônia é do governo e do presidente da República.

Valor: O senhor e líderes do MDB, Republicanos, PSD e Podemos almoçaram com Haddad na quarta-feira. Qual foi o assunto?

Teixeira: Falamos do que já foi aprovado e da necessidade de o governo chegar até o fim do ano com [a aprovação de] projetos que vão ajudá-lo a arrumar o país do ponto de vista orçamentário. Ele está muito, muito otimista. Vê um cenário positivo, de estabilidade, de sinalizações positivas do mercado. E que para esse cenário todo se concretizar precisamos fechar as contas.

Valor: Ele antecipou medidas?

Teixeira: A agenda do ministro é pública, mas não me sinto confortável de falar. O que conversamos foi sobre possíveis formatos de melhorar a arrecadação, problemas e soluções. Como o ministro foi prefeito, sabe a necessidade de dialogar e tem feito de forma preventiva as conversas.

Valor: A agenda do Haddad é baseada no aumento de receitas e as empresas estão reclamando…

Teixeira: Mas ele também tem agenda de crescimento econômico. Olha que votei no [Geraldo] Alckmin no primeiro turno em 2018 e no Bolsonaro no segundo turno e em 2022. Sendo justo, não foi só uma conversa fiscalista, tivemos uma parte grande dedicada ao crescimento do país. Conversei sobre a criação da estratégia nacional de saúde, parecida com a estratégia nacional de defesa que fez com que a Taurus se tornasse grande e que a Condor seja a maior empresa de arma não letal do mundo.

Valor: Mas parte importante da agenda é o aumento de receitas. Há disposição de aprovar isso?

Teixeira: Tem disposição. O problema está colocado e precisamos dar a solução. Na minha opinião, ele fez a opção correta de tributar quem ganha mais. Claro que ninguém quer pagar mais imposto, mas precisamos resolver o problema fiscal e não dá para olhar quem é mais pobre e pedir para que colabore mais. A Petrobras fez R$ 200 bilhões de lucro. Vai pedir para quem colaborar mais? A Petrobras ou para o morador de rua que está dormindo na recepção do hospital? Não tenho dúvida nenhuma.

Valor: Cobram muito, inclusive o presidente Lira, que o governo faça medidas de corte de gastos e a reforma administrativa. É o caminho?

Teixeira: As principais medidas de corte de gastos são de longo prazo. Não tem como fazer corte imediato se não mexer nos benefícios sociais e isso não vai contar com nosso apoio. Vimos que quando o dinheiro que está na ponta, com o mais pobre, gira a economia e ajuda a arrecadação. Essa política de sermos superfiscalistas nunca deu certo. É possível fazer reforma administrativa, mas, na minha opinião, não olhando no corte de gastos, mas na qualidade. Agora, também não cabe aumento de gasto.

Valor: Haddad se mostrou melhor no cargo do que o ex-ministro da Economia Paulo Guedes?

Teixeira: Nossas conversas com o Guedes foram muito positivas. O problema é que o governo configurou uma estrutura muito grande, com uma quantidade de demandas desumana para um ministro. Foi um erro. Ninguém pode ser ministro da Fazenda, Planejamento, Trabalho, Indústria e Comércio. Ninguém consegue atentar para todos esses temas.

Valor: O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) responde a denúncias. Ele perdeu força como cabo eleitoral?

Teixeira: Precisa saber o que tem de falso e verdadeiro. Os assuntos podem se agravar com o tempo ou minimizar. O maior exemplo é o do presidente Lula. Em 2018, ele tinha uma rejeição muito grande e hoje está eleito. Às vezes você acha que o resultado de um movimento será óbvio, mas a população olhar de outra maneira e achar que a medida foi desproporcional. Eu, particularmente, sempre achei que a prisão do presidente Lula foi absurda, a mudança na prisão em segunda instância. Falei isso em entrevista até para os canais de direita. O presidente Bolsonaro ainda será forte dependendo da região do país e do nível de aprovação que tiver. Toda denúncia pode causar perda de confiança, mas acredito que acaba perdendo mais confiança com quem já não confiava. Quem confiava pode achar que não teve gravidade nisso.

Valor Econômico