Zema vai se afastar de disputa em BH
Foto: Elizabete Guimarães/Divulgação/ALMG
Embora tenha aproximações recentes com Jair Bolsonaro (PL), o governador de Minas Gerais, Romeu Zema(Novo) já sinalizou a aliados que não deve apoiar o candidato do ex-presidente em Belo Horizonte.
Bruno Engler (PL), deputado estadual na Assembleia de Minas, promete disputar o comando da capital mineira com o apoio de Bolsonaro e Nikolas Ferreira (PL-MG), seu correligionário e deputado federal mais votado do país no ano passado. Engler já havia concorrido à prefeitura de BH em 2020, mas acabou em segundo lugar com 9,95% dos votos, atrás de Alexandre Kalil (PSD), reeleito com 63,36%.
A resistência em apoiar o bolsonarista teria relação com a sua atuação no Parlamento: embora seja vice-líder do governo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Engler já criou problemas para Zema. Um episódio que marcou as desavenças, segundo aliados do governador, foi quando ajudou a derrubar o veto ao projeto que reajustava os salários de servidores da segurança, saúde e educação.
No primeiro mandato de Zema, Engler também somou divergências com o governador, sendo um crítico vocal, por exemplo, do pagamento de jetons para secretários que participam de conselhos ou do aumento do ICMS, tendo até, neste segundo caso, convocado uma manifestação em frente à residência do governador.
Um auxiliar de Zema disse reservadamente que “dificilmente” o governador vai mergulhar de cabeça em uma candidatura. E que, hoje, a tendência é não se envolver na disputa em Belo Horizonte.
Pessoas próximas a Engler atribuem a possibilidade de Zema não apoiá-lo a uma falta de consenso dentro do Novo, e não a uma decisão pessoal do governador. Para os aliados do parlamentar, o governador faria um “gesto importante” ao bolsonarismo se unisse toda a direita em torno de uma única candidatura.
Ao GLOBO, o deputado estadual disse que tem “grande respeito” pelo governador, com quem mantém conversas para uma eventual aliança.
— Conversei com o governador e ele disse que ainda é cedo para bater o martelo. Mas ele deixou a porta aberta para mim, pois entende que temos mais coisas em comum do que divergências — disse Engler.
A divergência de Zema e Bolsonaro em relação ao palanque na capital ocorre num momento em que os dois têm ensaiado uma aproximação. Na semana passada, o ex-presidente recebeu o título de cidadão mineiro, concedido por Zema ainda em 2019. Na ocasião, o mineiro destacou a atuação de Bolsonaro junto a Minas no combate à pandemia e se colocou à disposição do ex-presidente:
— As portas dos ministérios do governo Bolsonaro estiveram sempre abertas para os nossos pedidos. Éramos ouvidos não como quem cumpre uma obrigação, mas com a atenção de quem quer, de fato, alcançar soluções — afirmou Zema, que ainda continuou. — Conte sempre com Minas Gerais, presidente. Vocês contem com o nosso governo.
Bruno Engler é o que se pode chamar de um bolsonarista raiz, um seguidor fiel da cartilha ideológica do ex-presidente. Na pandemia, saiu em defesa do tratamento precoce com a hidroxicloroquina e foi um crítico ferrenho do distanciamento social.
No ano passado, Engler foi reeleito para a ALMG com mais de meio milhão de votos, se tornando o deputado estadual mais votado da história de Minas e um dos principais nomes da direita no estado.
Assim como Nikolas, o deputado adota um estilo polêmico. Em julho, ele chamou atenção por circular na Casa Legislativa vestindo camiseta, bermuda e chinelos. E no ano passado, teve sua conta bloqueada após chamar Anitta de “lixo”, em razão do show da cantora na cerimônia de abertura do jogo final da Copa Libertadores da América.
A um ano das eleições municipais, Engler já desfruta do apoio de Jair Bolsonaro, com quem esteve em pelo menos duas ocasiões nos últimos nove meses. Além do deputado bolsonarista, o pleito mineiro já tem outros players colocados. No último sábado, o PT oficializou a pré-candidatura do deputado federal Rogério Correia, que integra a CPI do 8 de janeiro e é vice-líder do governo.
A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) também pretende concorrer no ano que vem. O atual prefeito, Fuad Noman, do PSD, ainda não dá como certa a tentativa de recondução ao cargo. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, tem dito publicamente que a legenda ainda discutirá o candidato à prefeitura.
Christopher Laguna, presidente do Novo em Belo Horizonte, nega qualquer impasse com Engler, mas diz que é cedo para formalizar apoio:
— O Novo está muito preocupado em fazer uma chapa de vereadores e muito preocupado com a cidade de Belo Horizonte e de qual é o melhor cenário para a cidade. Temos nossos candidatos que estão em processo de formação, o Lucas Gonzalez é um deles — disse Laguna. — (Engler) é da nossa base, apoia o governo Zema. A questão do apoio não está relacionado ao trabalho (dele), mas ao trabalho partidário do Novo, do que queremos para Belo Horizonte — completa o dirigente.