Madonna compensou o 1º de Maio
Madonna compensou o 1º de Maio
Eduardo Guimarães
O documentário “Madonna: Truth or Dare” foi feito quando Madonna Louise Ciccone estava no auge de seus 32 anos e era, então, a artista feminina mais bem sucedida de todos os tempos, segundo o Livro dos Recordes. Contudo, a obra passou a ser conhecida internacionalmente como “In Bed with Madonna”, ou “Na Cama com Madona”.
Lembrei-me da obra ao assistir ao seu libelo político feito show musical. Pensei em fazer algum dia um outro documentário com ela. Chamar-se-ia “Na Política com Madonna”, pois foi isso que representou aquele seu show na Orla de Copacapana, que desesperou o bolsonarismo e fez os crentes de fancaria arrancarem as calças pela cabeça.
E se pensam que foi pelas cenas eróticas, erraram. Elas nada inovaram em relação ao documentário de 1991. Há 33 anos teve cena emulando masturbação? Teve. Teve cena emulando sexo grupal? Teve. Talvez não tenha tido alguns seios nus, mas nada que não esteja em qualquer desfile de escola de samba.
O que chocou a extrema-direita e lavou a alma da esquerda foram Paulo Freire, Marielle Franco, Che Guevara e a Pablo Vittar e Madonna vestindo a camisa da Seleção e empunhando a bandeira do Brasil, mostrando que esses símbolos não têm dono.
Madonna indicou o caminho para a esquerda brasileira, sobretudo para esse sindicalismo mais perdido que cego em tiroteio, incapaz de fazer o que Madonna fez com um pé na costas: pôr gente na rua – ou melhor, na praia.
Madonna fez política na melhor acepção da palavra. Muita política. E esfregou na cara amarrada da extrema-direita aquele 1,6 milhão de potenciais esquerdistas vibrando com as performances orgásticas LGBTQIA+, hétero, queer etc., etc.
Não tem pra ninguém. Nem Marcha Pra Jesus, nem Parada Gay, nem Lula, nem Bolsonaro, nem CUT. É a maioria silenciosa que está lá e que leva pra rua quem estiver em sintonia com o século 21 — que, no caso, era uma idosa de 65 anos, mas que continua sendo aquela garota de vinte e poucos declarando ser uma “Material Girl” nos anos 1980.
A extrema-direita ficou assustada. Toda essa gente pode ser atraída pela esquerda se esta usar essas coisas tão em desuso chamadas neurônios. Ora, os reaças não usam Jesus para juntar multidões para seus atos políticos? Por que não usamos aquela que leva o nome da mãe Dele para tanto?
E não me refiro a Madonna, especificamente. Refiro-me a gente que se ombreie a ela em termos de talento, ousadia e coragem. Por que não um mega show de Rock’n Roll convocado sob o mote de defender a democracia e a lberdade de amar contra o fascismo, o militarismo, a caretice e a hipocrisia pseudorreligiosa?
Viria 1,6 milhão de pessoas? Ora, viria até mais. Basta que a pauta não seja um cardápio de interesses sectários de pequenos grupos organizados trajando verde-amarelo, vermelho ou qualquer outro motivo ou cor desses que transformam as pessoas em números, em robôs ou em soldados, pois as pessoas querem ser livres. Só isso. E Madonna provou isso.