Bebianno acusa Bolsonaro de nepotismo e defende Bivar

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Foto: Sérgio Lima/Poder360

Primeiro dos 3 ministros demitidos do governo em 9 meses, Gustavo Bebianno afirmou ao Poder360 nesta 4ª feira (16.out.2019) que o presidente Jair Bolsonaro “só defende os interesses dos filhos”, acrescentando que teme “uma ruptura institucional na calada da noite”. E falou que Bolsonaro rachou a única base de apoio que ainda tinha –o próprio partido.

Bebianno defendeu o presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), que nas palavras de Bolsonaro está “queimado para caramba“ em Pernambuco. Bivar foi alvo de operação da PF (Polícia Federal) na última 6ª feira (11.out).

“Não sou amigo pessoal do Bivar, não sou nada do Bivar, não falo com o Bivar, não tenho vínculo nenhum com o Bivar. Mas o que é justo é justo, e sou testemunha de que o Bivar foi correto e [o Bolsonaro] não tem motivo nenhum para atacar o Bivar como está fazendo”, afirmou.

O ex-ministro disse ser “verdade” que o PSL “não seria nada sem Bolsonaro”, mas afirmou que “Jair Bolsonaro também não seria nada sem o PSL”. De acordo com ele, Luciano Bivar “comprou 1 bilhete na baixa” e acabou “premiado”. Por isso, disse ele, não seria possível afirmar que o interesse da sigla está no fundo partidário.

“As pessoas fazem a análise baseadas na realidade hoje e se esquecem do passado. (…) Quando se fala do caixa do PSL ser virtude do Bolsonaro: naquela época, nem o Jair acreditava fazer mais de 20 deputados. Ninguém tinha noção de que o sucesso seria tão grande. (…) Então, essas pessoas que compraram o ‘Projeto Jair Bolsonaro’ na baixa quando ele era 1 grande ponto de interrogação tiveram grande mérito.”

Hoje, Bolsonaro e o presidente da legenda trocam farpas. O motivo afirmado pelo presidente e seus aliados é que, nas palavras deles, o partido precisa de “transparência”. No entanto, Bebianno diz que 2 filhos do presidente –o deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP) e o senador Flávio Bolsonaro (RJ)– comandam os diretórios da sigla em seus estados.

Para Bebianno, Bolsonaro “abandonou” e “desprezou” quem “deu a cara a tapa” por ele durante a campanha eleitoral. Seria o caso do senador Major Olímpio (SP), que teve reunião nesta 4ª feira com o vice-presidente, Hamilton Mourão.

O Poder360 apurou que Olímpio e Bolsonaro ainda não conversaram desde que o senador teve uma briga pública com 1 dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC).

“O partido faz tudo que ele quer. O Diretório de São Paulo foi entregue ao Eduardo, que não tem nenhuma capacidade administrativa. Gostaria de saber se o Diretório de São Paulo por acaso é algum exemplo de gestão e transparência. No Rio, a diretoria foi entregue a outro filho dele, o Flávio.”

Bebianno ainda mencionou 2 episódios relacionados aos filhos do presidente. Sobre Eduardo, citou 1 evento conservador realizado no último final de semana. “Custou R$ 1 milhão de dinheiro público simplesmente para satisfazer o ego e a vaidade pessoal de Eduardo Bolsonaro. Se fosse de direita verdadeira, seria financiado com dinheiro privado.”

Já sobre Flávio Bolsonaro, disse que “parece que não tem existido transparência” no caso da suposta “rachadinha” no gabinete do atual senador, quando exercia mandato como deputado estadual na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio):

“Acho que a transparência tem que valer para todos, então imagino que seja do interesse público entender o que aconteceu ali. Deixar o assunto paralisado não atende ao anseio popular. Já que o presidente diz que o compromisso é com o povo, com os eleitores, e faz questão de ser transparente, me parece que não tem existido a transparência nesse caso”.

Bebianno disse que o PSL “faz tudo o que Bolsonaro quer”. Segundo ele, o racha na sigla feito “sem nenhum motivo” e “de maneira insana” foi o “último pilar” que restava ao presidente. O ex-ministro afirmou que o Congresso não confia em Bolsonaro, assim como o plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) e a cúpula das Forças Armadas.

“O presidente deveria resolver [os problemas partidários] internamente. Por que tratar dessa formato atabalhoada, tão desastrada? Está rachando o único pilar que sobrou. Ele logo no início [do governo] começou a agredir o Congresso por intermédio do Carlos [Bolsonaro] e [do escritor] Olavo de Carvalho. Nunca se manifestou em apoio às Forças Armadas: sempre prestigiou Olavo e Carlos. Ali gerou rachadura. A imprensa é essa guerra… Agora o próprio partido. É o time do eu sozinho”.

Falou também que gostaria “que o presidente caísse em si, percebesse que como gestor maior do país precisa de calma, serenidade, acima de tudo de sobriedade, e deveria usar o que de melhor tem, que são os militares, os generais dispostos a dar o melhor pelo país“.

“Os generais brasileiros são patriotas, são competentes, comprometidos com a democracia e preparados para assessorar o presidente da República, e não 1 bando de blogueiros raivosos que só sabem atacar e denegrir a imagem das pessoas”.

Já o que “acha que vai acontecer”, afirmou ele, “não é bom para o Brasil”. A fragilidade do Supremo e do Congresso, “combinada com as dificuldades que o presidente cria”, afirmou Bebianno, “podem alimentar na calada da noite desejos de rupturas institucionais”.

“Refiro-me ao presidente buscar uma ruptura institucional. Isso me preocupa muito. Ja vimos declarações dos filhos, do presidente no passado… Não sei se isso está vivo na cabeça dele”, continuou. “Falo isso a partir da observação do cenário brasileiro. STF em xeque, Congresso em xeque, presidente destruindo todos os instrumentos que seriam necessários para uma gestão democrática… E pergunto: onde isso vai terminar?”

Poder 360