BRAD TRENT

“Capitalismo vai passar por grande mudança”, diz investidor

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“O mundo está se aproximando de uma grande mudança de paradigma.” A previsão é assinada pelo bilionário Ray Dalio, co-presidente da Bridgewater Associates, um dos maiores “hedge funds” do mundo. Em uma extensa análise publicada em sua conta na rede social corporativa Linkedin, intitulada “O Mundo Ficou Louco e o Sistema Está Quebrado”, o famoso investidor alerta justamente para o fato de que “o sistema de fazer o capitalismo trabalhar bem para a maioria das pessoas está quebrado”.

“O dinheiro é essencialmente grátis para quem tem dinheiro e credibilidade financeira, mas é essencialmente indisponível para aqueles que não tem dinheiro e credibilidade, o que contribui para a elevação das desigualdades de riqueza, oportunidades e políticas”, afirmou o gestor. Segundo Dalio, esses desequilíbrios também são alimentados pelos avanços tecnológicos, “que têm excitado investidores e empreendedores e também estão substituindo trabalhadores por máquinas”.

O co-presidente da Bridgewater explicou que o processo de “trickle-down” não está funcionando — a expressão é usada para descrever algo que se move lentamente de cima para baixo, por exemplo, da camada da população mais rica para os mais pobres. No caso, Dalio se refere ao um processo de transferência de riqueza da camada de cima para os trabalhadores, por meio de aumento de lucro e crédito.

Dalio explica que “o dinheiro é grátis” para quem tem mais riqueza e credibilidade de pagamento, “porque os investidores estão dispostos a receber menos que estão dando”. O motivo para isso é que “eles têm uma enorme quantia de dinheiro para investir, que tem sido, e continua a ser, empurrado a eles pelos bancos centrais, que estão comprando ativos financeiros em sua fútil tentativa de impulsionar a atividade e a inflação”.

“Investidores estão emprestando para quem tem credibilidade e aceitando taxas de juros muito baixas ou negativas sem exigir receber o principal de volta pelo futuro previsível.” De acordo com o gestor, “a razão pela qual [o dinheiro dos BCs] não está impulsionando o crescimento e a inflação é que os investidores que estão recebendo os recursos querem investir em lugar de gastá-los”.

O resultado dessa dinâmica, pondera Dalio, é uma alta de preços de ativos e uma queda dos retornos futuros esperados, enquanto o crescimento econômico e a inflação permanecem espremidos.

O gestor da Bridgewater também faz uma crítica aos entusiastas da revolução tecnológica. “Porque os investidores têm tanto dinheiro para aplicar e, devido ao passado de histórias de sucesso de ações de companhias tecnológicas inovadoras, mais empresas do que em qualquer momento desde a bolha “pontocom” não têm de gerar lucros ou mesmo ter um caminho claro de se tornar lucrativa para vender suas ações, porque podem vender sonhos aos investidores inundados com dinheiro e poder de se financiar.”

Ray Dalio chama a atenção para outra força que surge ao mesmo tempo. “Os grandes déficits governamentais existentes vão, quase certamente, aumentar substancialmente”, pondera. Esse cenário vai exigir uma “enorme quantia de mais dívidas emitidas pelos governos — quantias que não poderão ser naturalmente absorvidas sem elevar as taxas de juros e em um momento no qual uma subida de taxas poderia ser devastadora para mercados e economias devido ao excesso de alavancagem”.

“De onde virá o dinheiro para comprar esses títulos e financiar esses déficits?”, questiona o gestor para logo responder: “Quase certamente virá dos bancos centrais, que vão comprar as dívidas com dinheiro recém-impresso”. Para Dalio, essa dinâmica em que a solidez financeira é “jogada pela janela” vai continuar e provavelmente acelerar, “especialmente nos países que detém as moedas de reserva, ou seja, nos EUA, Europa e Japão”.

O terceiro fator da equação do desequilíbrio global vem das pressões de custos de saúde e da cada vez mais espremida capacidade de as entidades responsáveis pelas aposentadorias de honrar os benefícios. Os custos vão crescer “até que muitos daqueles que são responsáveis pelo pagamentos de pensões e saúde não terão dinheiro suficiente para honrar suas obrigações”.

Conforme o gestor, “agora mesmo muitos fundos de pensão têm investimentos feitos com intenção de assegurar o cumprimento das obrigações com retornos assumidos muito superiores, em torno de 7% ao ano, do que o mercado proporciona e que, provavelmente, vão proporcionar”. As pessoas que serão as futuras beneficiárias dessas entidades são “tipicamente professores e outros funcionários públicos que já estão sendo penalizados por cortes de orçamento e, provavelmente, não vão aceitar quietos ter seus benefícios cortados”.

Na visão de Dalio, “uma vez que não haverá dinheiro suficiente para financiar os benefícios, há uma probabilidade grande de ocorrer uma batalha feia para saber como o desequilíbrio vai ser sanado”. O investidor cita três formas clássicas de atacar o déficit: cortando benefícios, elevando impostos ou imprimindo dinheiro. “Imprimir dinheiro é a maneira mais fácil, porque é a forma mais escondida de criar uma transferência de riqueza e tende a elevar os preços dos ativos.”

O grande risco dessa solução, continua Dalio, “é que ameaça as três principais moedas de reserva do mundo, em relação à viabilidade de conservar riqueza”. Se os formadores de políticas não forem capazes de “monetizar” essas obrigações, “a batalha entre ricos e pobres sobre quais despesas deveriam ser cortadas e quais impostos elevados será muito pior”.

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