Yoani Sanchez pode deixar o país sem ser questionada uma só vez
Infelizmente, durante os desembarques da blogueira cubana Yoani Sanchez no aeroporto Guararapes, no Recife, e, pouco depois, no Luis Eduardo Magalhães, em Salvador, foram perdidas duas chances de ouro. Em vez de protestarem contra a ativista política cubana, deveriam ter se aproximado dela e, respeitosamente, pedido entrevistas.
E se, ao apupá-la, os manifestantes queriam apenas mostrar que se trata de uma figura controversa, mais valeria o vídeo de uma negativa sua a dar explicações sobre aspectos contraditórios de seu papel de “heroína da resistência” contra o regime cubano do que as imagens de um protesto despido de argumentos.
Mais interessante seria se algumas das perguntas à blogueira cubana que não querem calar – e às quais ela jamais responde – fossem gravadas sendo repetidas diante de si em um hipotético outro vídeo, com o consequente registro de sua reação, a qual, ao que se sabe sobre a moça, costuma ser a de se esquivar.
Quem está bem informado sobre Yoani por certo conhece o trabalho do jornalista francês Salim Lamrani, graduado pela Universidade de Sorbonne, professor encarregado de cursos na Universidade Paris-Descartes e na Universidade París-Est Marne-la-Vallée e especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos.
Como muitos sabem, em 2010 Lamrani fez uma longa entrevista com essa senhora – que pode ser acessada aqui –, na qual ela nitidamente se esquiva quando instada a dar maiores esclarecimentos sobre a sua atividade.
Basicamente, pesam contra Yoani questionamentos às suas fontes de financiamento e à gestão impressionante que consegue dar às suas muitas frentes de atuação na internet, com perfis em redes sociais contendo centenas de milhares de “seguidores”, um blog de repercussão mundial, com tradução de seu trabalho em quase duas dezenas de línguas, e tudo isso enquanto alega sofrer restrições do governo cubano para acessar a internet.
Além dessas suspeitas, questionam-se denúncias que ela fez de ter sido agredida e para as quais não ofereceu uma única prova. E, por fim, explicações sobre ligações suas com pessoas e setores inteiros do governo dos Estados Unidos envolvidos na disputa política entre aquele país e Cuba – ligações essas que, não faz muito tempo, foram relatadas pelo Wikileaks.
No Brasil, Yoani concederá entrevistas para diversos veículos, sobretudo ao jornal O Estado de São Paulo. Todavia, parece certo que, em nenhuma delas, será submetida a questionamentos sobre sua versão dos fatos que são de evidente interesse jornalístico – não confundir jornalismo com o ativismo político-ideológico de veículos como o jornal citado.
Apesar da perda de tempo inicial, como a ativista cubana ficará ao menos até sábado no Brasil, passando por Salvador e São Paulo, há que apelar ao seu alegado espírito democrático para que se disponha a responder a mais do que as previsíveis “perguntas” que lhe farão veículos como o Estadão, as quais, fatalmente, serão sobre quão “infernal” é Cuba.