Coronavírus não é desculpa para PIB fraco

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Foto: China Daily/Reuters

O matemático libanês radicado nos Estados Unidos Nassim Nicholas Taleb ganhou fama internacional em 2007 ao criar a teoria do cisne negro. Com um poder de síntese magistral, usou a imagem dessa ave com plumas pretas (até o século XVII dada como inexistente pelos europeus) para simbolizar eventos de grande impacto que desafiam a compreensão e a lógica correntes. Uma vez confrontadas com esses fenômenos, as pessoas buscam explicações baseadas nas próprias visão de mundo e experiências para traçar cenários que as ajudem a superar as incertezas. Obviamente, conclui Taleb, o resultado de tal esforço é caótico, o que leva a mais desorientação e, claro, atitudes erráticas. Tudo porque a maioria das decisões tomadas se baseia em concepções simplistas e equivocadas do acontecimento em si. Exemplos clássicos de cisne negro com desdobramento sobre a economia mundial são o atentado às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, e a crise financeira que se seguiu à quebra do banco Lehman Brothers, ocorrida sete anos depois. Agora, ambos os episódios ganham a companhia da epidemia global do coronavírus, o chamado Covid-19.

Em meio à efervescência de informações e dados alarmantes provenientes dos quatro cantos do planeta nos últimos dois meses, a economia global entrou em frenesi. Os índices das principais bolsas de valores do mundo migraram para o modo montanha-russa, nos dias seguintes ao Carnaval, em uma espécie de déjà-vu da crise de 2008. Na segunda-feira 2, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) recalculou suas projeções para 2020 e diminuiu em 0,5 ponto porcentual sua estimativa de crescimento da economia global, de 2,9% para 2,4%. É natural que uma doença altamente contagiosa causada por um vírus desconhecido e que pode levar à morte assuste. Mas algumas circunstâncias do surgimento do coronavírus contribuíram para que a tensão fosse maior que a provocada por outras viroses semelhantes do passado. O fato de a epidemia ter se originado no coração da segunda maior potência econômica do planeta foi uma delas. A China é hoje o principal parceiro comercial das economias mais relevantes do mundo, incluindo o Brasil. Seus centros de negócios e produção estão conectados às mais importantes metrópoles globais e qualquer oscilação que fuja ao padrão de normalidade é percebida como um sinal de alerta que implica rupturas potencialmente perigosas. A isso, acrescenta-se a impressionante capacidade de o novo vírus se multiplicar e contaminar as pessoas, o que levou a medidas de contenção até então inéditas. As numerosas perguntas (e muita confusão) sobre mecanismos de contaminação, evolução clínica dos pacientes e o que torna os infectados mais sujeitos à morte também ajudaram a fomentar o medo. O resultado é exatamente o que se vê quando o cisne negro de Taleb bate as asas: pânico e irracionalidade.

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