Venezuela não dá permissão a resgate aéreo de brasileiros
Foto: Cris Bouroncle / AFP
A péssima relação entre o governo do presidente Jair Bolsonaro com o regime do chavista Nicolás Maduro já começa a afetar os planos de repatriação de brasileiros que estão na Venezuela e não podem voltar para casa, devido às medidas tomadas pelas autoridades venezuelanas para combater a pandemia do novo coronavírus naquele país. Na noite desta quarta-feira, surgiu a informação de que Maduro teria desautorizado o pouso de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) em Caracas, cuja missão era trazer ao Brasil um grupo de funcionários do Itamaraty que ainda permaneciam em território venezuelano após o fechamento da embaixada brasileira e consulados.
Havia a possibilidade de pelo menos parte dos viajantes e turistas brasileiros pegarem carona na aeronave da FAB e, com isso, serem repatriados. Outra frente com a qual o Ministério das Relações Exteriores vem trabalhando é aceitar a oferta de um voo patrocinado pelo governo Uruguai, que no sábado buscará uruguaios que pediram para retornar a seu país. No entanto, a informação é que o avião estaria praticamente lotado.
Segundo um integrante do governo que acompanha diretamente a questão, as negociações entre Brasília e Caracas continuam. O objetivo é evitar o cancelamento da missão da FAB e, com isso, permitir a volta desses brasileiros, que vêm passando por dificuldades financeiras na Venezuela.
Há pouco mais de um ano o Brasil, juntamente com os Estados Unidos e outros cerca de 50 países, anunciaram que reconheciam como presidente interino da Venezuela o líder da oposição Juan Guaidó. A mensagem era que, para Bolsonaro, a administração de Nicolás Maduro é ilegítima. Desde então, os contatos entre representantes dos dois países passaram a acontecer exclusivamente entre militares.
Há cerca de dois meses, o governo brasileiro determinou que os diplomatas que representavam Maduro em Brasília deixassem o país. Quem permanecesse passaria a ser considerado persona non grata. O Itamaraty também chamou de volta os servidores que estavam na Venezuela.
— Saí do interior e vim para Caracas, com a esperança de voltar ao Brasil. Agora, estou sem dinheiro até para comer – disse o engenheiro eletrônico Alvin Enrique Principal Calles, que nasceu na Venezuela, mas tem nacionalidade brasileira.
Residente em São Paulo, Calles estava no interior da Venezuela com os pais. Seu voo, marcado para o dia 19 de março, foi cancelado.
Em reunião com ministros, Bolsonaro ressalta que seu comando deve ser seguido, e Mandetta se cala
– Recorri a uma pessoa da embaixada do Brasil, que disse que não tem condições de me ajudar – completou.
Há dificuldades no deslocamento interno na Venezuela, devido às restrições impostas pelas autoridades venezuelana, o que dificulta a operação. No país vizinho está em vigor um decreto que proíbe transporte interestadual de passageiros.
Dados obtidos junto ao grupo de crise encarregado do assunto mostram que há 41 brasileiros na Venezuela, a maioria residentes que querem aproveitar a oportunidade para voltar ao Brasil. Porém, a prioridade para o retorno será para viajantes ou turistas. O mais provável é que quem mora na Venezuela só será atendido em um segundo momento.